Investigações contra Cunha

Em reunião informal, Conselho de Ética discute ameaças feitas ao relator

Presidente do órgão decidiu que, diante da polêmica sobre a realização dos trabalhos nesta quinta-feira, reunião não terá caráter deliberativo e serão feitos apenas debates sobre o processo

Antonio Cruz/Agência Brasil

Irritado, José Carlos Araújo disse que não aceitará manobras e lutará contra qualquer estratégia neste sentido

Brasília – Os integrantes do Conselho de Ética decidiram na tarde de hoje (19) realizar uma reunião informal a portas fechadas, depois da polêmica sobre o encerramento antecipado da sessão, no final da manhã. A nova discussão dos deputados diz respeito a ameaças que teriam sido feitas contra Fausto Pinato (PRB-SP), relator do processo contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ)poucos dias atrás.

A reunião começou com o reforço de parlamentares que se retiraram do plenário em protesto contra as manobras de Cunha para atrapalhar os trabalhos e seguiram até a sala onde se instalou o conselho, em solidariedade aos seus integrantes. Vários manifestantes que estavam no local, com a conivência de deputados, aproveitaram para gritar palavras como “Vergonha”, ou “Fora Cunha”, durante a caminhada.

Mesmo depois de Eduardo Cunha recuado da decisão tomada em plenário – e determinar que uma avaliação sobre o cancelamento ou não da reunião do Conselho de Ética desta quinta-feira seria feita posteriormente pelo vice-presidente da Casa (Waldir Maranhão, PP-MA) –, o presidente do conselho, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA), disse que a reunião foi reiniciada apenas para discussões, sem qualquer caráter deliberativo.

A posição de Araújo teve o intuito de evitar que qualquer votação feita hoje venha a ser anulada nos próximos dias, o que vai pôr por terra todos os prazos programados para o rito dos trabalhos, que já foram atrasados por várias manobras. Ele decidiu, ainda, que o relatório preliminar sobre o processo de Cunha fica para apreciação na próxima terça-feira (24).

O deputado chegou a propor, no final da manhã, ao presidente da Câmara, um acordo para que ele reabrisse a reunião do Conselho de Ética e a encerrasse imediatamente, sem apreciar o relatório preliminar do deputado Fausto Pinato. Seria uma forma de registrar a realização da reunião e discutir outros temas, evitando o cancelamento de qualquer outro ato a ser deliberado. O acordo, entretanto, não foi aceito.

Irritado, o presidente do conselho disse que não aceitará manobras e lutará contra qualquer estratégia nesse sentido, todas as vezes que forem observadas. Suas declarações foram feitas ao justificar a apresentação de um recurso ao plenário da Câmara pedindo pela realização da reunião. “Não somos obrigados a obedecer aqueles que rasgam a Constituição e passam por cima da lei”, afirmou.

A reunião desta manhã, além de ter sido marcada por bloqueios, atrasos e discussões diversas, teve um quórum mínimo de 11 parlamentares, o que atrasou o início da sua realização. “Tudo tem um limite”, disse o líder do Psol, Chico Alencar (RJ), ao reclamar das articulações que estão sendo feitas para protelar a tramitação do processo.

Alencar ficou de fazer uma denúncia formal contra Cunha à Procuradoria-Geral da República sobre a postura adotada para prejudicar os trabalhos do conselho nesta quinta-feira. Ele também pediu o apoio dos colegas e enfatizou que o ato de se insurgirem contra o presidente neste caso consiste, na verdade, “num ato de defesa do parlamento brasileiro”.

Também a deputada Mara Gabrili (PSDB-RJ) afirmou que estava decepcionada com Eduardo Cunha e ressaltou que ele estaria tratando todos os parlamentares “como se fossem imbecis em relação ao Conselho de Ética”. Mara destacou que Cunha não tinha mais condições de presidir a Casa e perguntou, olhando diretamente para o presidente: “O senhor está com medo, deputado?”. A reunião do Conselho de Ética continua sendo realizada.

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