Sem chance

Com postura misógina, Bolsonaro joga por terra esforço de sua campanha para recuperar voto feminino

Para o cientista político Cláudio Couto, a conduta recorrente de Bolsonaro contra as mulheres ainda será bastante explorada por adversários na campanha

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Bolsonaro seguiu exemplo do governo golpista de Temer e não mexeu na tabela do imposto de renda, ampliando a desigualdade

São Paulo – Depois da postura desastrosa de Jair Bolsonaro no debate entre os presidenciáveis realizado no domingo, a campanha do candidato à reeleição ficou virtualmente sem ação para tentar recuperar o voto do eleitorado feminino. O esforço com o trabalho de convencimento junto ao próprio presidente, para amenizar sua conduta, e com a entrada agressiva de sua esposa, Michelle, na campanha, acabaram sendo neutralizados pela agressão à jornalista Vera Magalhães e à candidata Simone Tebet (MDB), no debate.

A avaliação é do cientista político Cláudio Couto, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em entrevista à Rádio Brasil Atual. Segundo a pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (31), Lula tem enorme vantagem entre o eleitorado feminino: 45% a 29%. E isso considerando que a pesquisa Quaest de hoje não aferiu os efeitos do debate, que é resultado de trabalho de campo entre quinta e domingo (25 a 28), portanto, antes do evento.

Para Couto, Bolsonaro pode até, eventualmente, vir a recuperar algum terreno no segmento do voto feminino, mas não será algo significativo para compensar o esforço de seus estrategistas, já que o próprio Bolsonaro “não ajuda”. “Todo o esforço feito pela campanha foi jogado por terra com a agressão absurda à Vera Magalhães”, diz o analista, lembrando que a pergunta da jornalista, aliás, nem era para Bolsonaro, mas para Ciro Gomes (PDT). O presidente era apenas comentador.

Para o cientista político, o tema da misoginia de Bolsonaro e do bolsonarismo de modo geral – evidenciado no debate em um verdadeiro “show de horrores”, na expressão de Couto – ainda será bastante explorado pelos adversários durante a campanha.

Couto também comenta que na pesquisa Quaest Lula mantém larga vantagem sobre Bolsonaro (de 29 pontos percentuais) entre quem recebe o Auxílio Brasil reajustado. O analista cita o comentário do diretor do instituto, Felipe Nunes, para quem uma das hipóteses para explicar a estabilidade é que “o eleitor percebeu que as medidas econômicas foram feitas com propósito eleitoral”.

Briga de lavajatistas

Cláudio Couto comentou também a briga dos lavajatistas Álvaro Dias (Podemos) e Sergio Moro (União Brasil), que disputam a vaga do Paraná ao Senado. Ambos se acusam de corrupção, o que, para ele, configura uma “situação surreal”. O analista lembra que em 2018 Dias afirmava que Moro seria seu ministro da Justiça se ganhasse a eleição, e o levou ao Podemos, que chegou a lançar Moro à Presidência. “E agora, um aponta corrupção do outro, os ícones da luta anticorrupção, que diziam combater. É uma situação surreal.”

A disputa pelo Senado entre Moro e Dias deflagrou uma troca de acusações. O Podemos acusa Moro de usar dinheiro público para beneficiar um aliado dono de uma consultoria jurídica. Já Moro retruca dizendo que o partido pratica corrupção e lavagem de dinheiro.

Confira a entrevista