Após adiamento

Câmara deve retomar na quarta julgamento de Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle

Relator do caso na CCJ já apresentou parecer favorável à manutenção da prisão do deputado. No entanto, alguns parlamentares avaliam ir contra decisão do STF, como “recado” à Corte, para, em seguida, cassar o mandato do acusado

Agência Câmara de Notícias
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Apesar da possibilidade de manobra da Câmara, ministros do STF também avaliam que, se não houver pedido de vista e a Corte definir os limites da prerrogativa de foro nos próximos dias, o caso de Brazão ficará no Supremo

São Paulo – A Câmara deve voltar a julgar, entre quarta (10) e quinta-feira (11), o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco. O presidente da Casa Legislativa, Arthur Lira (PP-AL), divulgou que pretende recolocar o caso na pauta da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), que já começou a analisar o tema. Um pedido de vista, porém, interrompeu a votação.

Preso de forma preventiva no dia 24 de março diante de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), Brazão deve ter a prisão avaliada pelos deputados federais. Por regra constitucional, cabe à Câmara manter ou não o parlamentar em cárcere. O relator do caso na CCJ, o deputado Darci de Matos (PSD-SC), já apresentou no dia 26 parecer favorável à manutenção da prisão do acusado pelas mortes de Marielle e do motorista Anderson Gomes.

No entanto, de acordo com informações do g1, parlamentares têm avaliado que podem revogar a prisão decidida pelo ministro Alexandre de Moraes e referendada pela 1º turma do Supremo. Essa seria uma forma de dar um “recado” ao STF. Isso porque a Corte analisa, em paralelo, uma tese que pode mudar o atual entendimento sobre a aplicação do princípio foro por prerrogativa de função, o chamado foro privilegiado. Até o momento, o julgamento, que começou no dia 29 de março, tem quatro votos favoráveis à ampliação do alcance do foro privilegiado.

Foro ainda será o STF

Para ministros consultados pelo portal, a decisão da Câmara pode até ser uma manobra para ajudar Brazão. Se o cenário se confirmar, os deputados, por sua vez, estudam cassar Brazão na sequência sob pretexto de aliviar uma crise institucional. Vem crescendo no Legislativo, segundo um líder do centrão, a ideia de cassar Brazão. A perda do mandato, contudo, poderia levar de um a dois meses por conta do trâmite no Conselho de Ética. Além de dar margem e munição para a defesa do acusado se o STF não concluir o julgamento sobre foro que está em curso.

De toda forma, os magistrados também avaliam que, se não houver pedido de vista e a Corte definir os limites da prerrogativa de foro nos próximos dias, o caso de Brazão ficará no Supremo. Em seu voto sobre o alcance do foro, o ministro Gilmar Mendes, relator do caso, defendeu que, quando se tratar de crime praticado no exercício da função, o foro privilegiado deve ser mantido mesmo após a autoridade deixar o cargo. Isso valeria para casos de renúncia, não reeleição, cassação, entre outros.

Os ministros Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Alexandre de Moraes também seguiram a proposta do relator. A Corte avalia que, como teve obstrução, o foro do caso é o STF ainda, pois seria um crime continuado de Brazão como deputado federal.

Entenda o caso

Hoje, a defesa do parlamentar enviou à CCJ da Câmara uma manifestação em que diz que a prisão do parlamentar é “ilegal”. Os advogados também defendem, no documento, a soltura do cliente. O pedido de prisão surgiu a partir de delação premiada do ex-policial militar Ronnie Lessa, assassino confesso de Marielle, que está preso desde março de 2019. De acordo com Lessa, Brazão e seu irmão, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão, teriam encomendado o crime contra Marielle por questões fundiárias no Rio.

Pela Constituição, um parlamentar do Congresso Nacional só pode ir preso em caso de flagrante de crime inafiançável. Ao remeter os autos do processo de Chiquinho Brazão à presidência da Câmara no final do mês passado, Moraes considerou que houve “flagrante delito pela prática do crime de obstrução de Justiça em organização criminosa”.

Caso a CCJ aprove o voto do relator, o tema passa automaticamente a trancar a pauta da Câmara. O que significa que será o primeiro item avaliado pelo plenário na sessão deliberativa seguinte. No plenário, é necessária maioria absoluta – ou 257 votos – para se manter a prisão do deputado federal. A votação do caso será aberta e nominal. Ou seja, ao final, será exibido o placar com os votos e a identificação de cada parlamentar. Lira comunicará ao STF o resultado que o plenário proclamar.

Redação: Clara Assunção


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