Solidariedade

Artista plástico doa quadro para ajudar Genoino a pagar multa de condenação

Para Enio Squeff, ex-deputado e também José Dirceu foram condenados sem provas por um 'tribunal de exceção', como na ditadura, 'quando o sujeito era condenado pelas ideias que tinha'

Quadro doado a ex-deputado faz parte de uma série com as estrofes do Hino Nacional

São Paulo – O artista plástico Enio Squeff doou um quadro à campanha da família e de amigos de José Genoino para ajudar na arrecadação de contribuições e pagamento da multa à qual o ex-deputado e ex-presidente do PT foi condenado a pagar na Ação Penal 470, o chamado mensalão.

“Estou doando esse quadro com muito orgulho e espero que ele seja leiloado, seja lá por quanto for, e que vá para o Genoino. Mesmo porque essa multa é totalmente extemporânea”, explica Squeff, nascido em Porto Alegre (RS) e radicado em São Paulo. Iniciada no dia 9, a campanha arrecadou até a noite de ontem R$ 201 mil e precisa chegar a R$ 667.513,92 (em valores atualizados) até 20 de janeiro.

“Faço isso porque, em primeiro lugar, quero ajudar o José Genoino, um homem de bem que foi injustamente condenado. E em segundo, porque acho que tenho que ajudá-lo. A longa militância, o sofrimento dele por esse país merece isso, e muito mais”, explica Enio Squeff.

Ele se diz preocupado com as consequências do julgamento da AP 470 e com o papel do Supremo Tribunal Federal (STF) como um “tribunal de exceção” no país. “O STF está tão comprometido, que acho muito difícil ele fugir da pecha que lhe está pesando, de ser um tribunal de exceção, um tribunal parcial, a favor da oposição no Brasil. Sinceramente, me preocupa muito, como cidadão brasileiro. Eu vivi sob a ditadura, me livrei por pouco de ser preso e torturado, como várias pessoas foram, como o Genoino. E é isso que temos hoje: uma reiteração dos tribunais de exceção da ditadura, quando o sujeito era condenado pelas ideias que tinha.”

Para o artista plástico, o julgamento da AP 470 foi um “grande teatro” e não só Genoino como o ex-ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, foram condenados sem provas. “A mais alta corte do país condena alguém sem prova alguma e uma pergunta que eu faço é: quanto foi que o José Dirceu roubou? É a primeira vez que eu vejo alguém ser condenado como chefe de quadrilha e eu não sei quanto ele roubou. A mesma coisa o Genoino.”

“Não se sabe por que José Dirceu foi condenado. Também não se sabe por que está trancafiado sendo que tem direito ao regime semiaberto”, acrescenta.

Squeff se diz indignado com o papel exercido hoje, no país, por Joaquim Barbosa, presidente do STF. “Do Joaquim Barbosa eu só sei uma coisa. É um homem mau, que leva o ódio dele até as últimas consequências. É o caso claro de um homem ressentido”, analisa. Barbosa emitiu os mandados de prisão dos condenados no julgamento da AP 470 durante o feriado de Proclamação da República, há dois meses, e não deu resposta aos pedidos dos réus que têm direito ao semiaberto. No caso específico de Genoino, a família apontou que a manutenção em regime fechado significava risco de morte, e o ex-deputado chegou a ser internado em Brasília após um mal-estar. Operado no ano passado por um problema cardíaco, ele passou por várias avaliações médicas e agora depende de decisões de Barbosa para saber em que condições cumprirá sua pena. “Até quando este país vai aturar que esse homem faça o que bem entende? Até quando o STF vai ficar submetido a essa crítica de ter feito um julgamento de exceção, em pleno estado democrático de direito?”

Ele esclarece que seu gesto não é partidário. “Não sou do PT, quero deixar claro. Não que tenha alguma coisa contra o PT, mas digo isso porque [a doação do quadro] não faz parte de uma militância partidária. É uma admiração que tenho por um homem que lutou pelo país e está sendo injustiçado.”

A obra doada faz parte de uma série com as estrofes do Hino Nacional e se refere ao trecho “deste solo és mãe gentil/Pátria amada Brasil”. Seu valor é calculado em R$ 6 mil. Mostra uma mãe com uma criança, sobre um morro, e embaixo uma favela que se estende até a cidade.

Como jornalista, Squeff trabalhou na revista Veja (“no começo, não confundir com essa coisa que tem aí hoje”) e nos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo. Para ele, a imprensa tradicional “tem compromissos muito claros” no país hoje. “Não gosto de dizer mídia, gosto de dizer empresas jornalísticas. Elas têm uma missão, que é de qualquer maneira tratar de derrubar qualquer governo de esquerda que apareça no país.”

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