Antes de deixar cargo, Kassab reduziu política de microcrédito em 252 vezes

Banco Confia, agência de microcrédito da prefeitura que Fernando Haddad quer estimular, chegou a ficar sem dinheiro no fim de dezembro, época crucial para pequenos negócios

Criado em 2001, o Banco Confia tem o papel de estimular todas as iniciativas de pequeno comércio (Foto: Miolo. Flickr)

São Paulo – Antes de deixar o cargo, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, reduziu em 252 vezes o volume de recursos disponível para o Banco São Paulo Confia, a agência de microcrédito usada pela administração municipal na política de apoio aos pequenos e microempreendedores. Para este ano, a organização que o novo prefeito, Fernando Haddad, pretende turbinar conta inicialmente com apenas R$ 100 mil.

Em 2011, foram emprestados R$ 51 milhões por meio de 19,5 mil transações, segundo o banco e a prefeitura. Os números representam aumento de 19% no volume de crédito frente ao ano anterior. Em 2012, no entanto, o volume de empréstimos caiu para 9.162 transações e o valor emprestado, para R$ 25,2 milhões.

No mês de dezembro, período de grande movimentação no setor de crédito em geral por conta do Natal e ano novo, o Banco Confia foi obrigado a suspender as operações na segunda quinzena,  por falta de verba.

O abandono da política de microcrédito por parte de Kassab fica evidente com o balanço dos negócios do Banco Confia e da proposta orçamentária enviada pela prefeitura à Câmara para 2013. O ex-prefeito destinou um valor menor que o previsto no Orçamento de 2001, quando a instituição foi criada e emprestou R$ 185 mil.

No portal da prefeitura, a previsão para 2012 era de aumento de 10% a 15% no volume de crédito e em até 20% no número de transações. No Orçamento de 2013, a previsão da prefeitura era destinar R$ 6 milhões para microcrédito. Deste total, R$ 1 milhão chegou a ser aprovado, mas o repasse não ocorreu e o banco teve de se contentar com o dinheiro do recebimento de empréstimos e de seu caixa.

O banco é uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) que funciona com suporte financeiro da prefeitura e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Um ano após ser criada, a então São Paulo Confia aumentou de R$ 185 mil para R$ 3 milhões o volume emprestado, e em 2005 já atingia a cifra de R$ 15 milhões. De 2005 até 2011, o volume de crédito triplicou e a movimentação chegou bem próximo de R$ 1 milhão emprestado por semana.

Com taxas de juros entre 2,6% e 3% ao mês e limite de R$ 15 mil para empréstimo, o pagamento pode ser feito por semana, quinzena ou mês, com prazo de oito a 38 semanas, 11 a 24 quinzenas ou 12 parcelas. O banco possui 18 unidades de atendimento na cidade e atende, principalmente, empreendedores das áreas periféricas.

As políticas de microcrédito são apontadas como fundamentais no combate à miséria e também na geração de emprego no segmento de micro e pequenos empreendedores.

Haddad afirmou ontem que pretende aumentar a atuação da política de microcrédito por meio de convênio com a Caixa Econômica Federal e da utilização das 31 subprefeituras para a implantação da Agência São Paulo de Desenvolvimento, que vai englobar oferta de crédito, formação profissional e assessoria jurídica para micro e pequenos empreendedores.