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Padilha diz que Alckmin é ‘insensível’ com população pobre

Antecipando tom da futura campanha para governador paulista, ex-ministro da Saúde criticou tucano, que se opôs ao Mais Médicos:'Só quem tem acesso a médico em um estalar de dedos pode ser contra'

Erasmo Salomão / AscomMS

Padilha, na saída do ministério. Cidades de MG e SP foram as que mais pediram profissionais ao Mais Médicos

São Paulo – Poucas horas depois de entregar o cargo de ministro da Saúde para Arthur Chioro, Alexandre Padilha, pré-candidato ao governo do estado São Paulo pelo PT, criticou seu principal adversário, Geraldo Alckmin (PSDB), por ser insensível com as pessoas mais pobres, que não tem acesso à médico. Em setembro, o tucano havia criticado o programa Mais Médicos, afirmando que o problema do país não é a falta de profissionais, mas o financiamento da saúde pública.

“Os estados que mais pediram médicos ao Mais Médicos foram justamente São Paulo e Minas Gerais, os dois governados pelo PSDB. Um dos seus líderes deu uma demonstração de absoluta falta de sensibilidade com o sofrimento humano ao afirmar que não faltavam médicos no Brasil e no seu estado, talvez por não enxergar os que mais precisam no estado mais rico da nossa federação”, disse. “O outro a cada mês propõe medidas que na pratica inviabilizam a presença de médicos, sobretudo cubanos em áreas nunca antes atendidas no nosso país.”

A declaração foi feita durante cerimônia oficial de entrega do cargo, em Brasília, na tarde de ontem (3). “Depois de tudo o que vi na minha cidade, no meu estado e no meu país posso afirmar com segurança: só quem tem acesso a médico em um estalar de dedos pode ser contra levar médicos para a população que mais precisa. Monteiro Lobato já dizia que só quem está sendo asfixiado sabe que o ar existe.”

Em tom de crítica, Padilha disse que nos três anos em que esteve à frente do Ministério da Saúde no governo Dilma reverteu o “legado maldito” da ausência de políticas industriais na saúde na década de 1990. “O Brasil, que nos anos 90 deixou de ser produtor de insulina, voltou ao seleto grupo de cinco países que detém essa tecnologia. O Brasil, que nos anos 90 perdeu a oportunidade de ser produtor fármaco-químico, colocou um pé na produção moderna dos biológicos para câncer, doença do sangue, doenças inflamatórias e doenças crônicas.”

O pré-candidato ressaltou que a produção de vacinas contra o vírus do HPV, produzida em uma parceria do Instituto Butantã com um laboratório americano, viabilizada pelo Ministério da Saúde, foi “decisiva” para recuperar a instituição. “Antes de receber essa encomenda do Ministério da Saúde, o Butantã estava diante de dois caminhos possíveis, que vimos acontecer em muitas instituições federais nos anos 90: ou o sucateamento, ou a privatização ou ambos.”

No discurso, Padilha lembrou que coordenou o núcleo de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, no Pará, e que realizou um trabalho bem sucedido de prevenção de doenças no povo indígena Zoé, que corria o risco de ser dizimado. “Aos críticos do Mais Médicos lembro que nenhum dos profissionais da Universidade de São Paulo que entrou lá tinha qualquer formação em língua Zóe. Mas usávamos o que deve ser universal em nós médicos: o compromisso de vencer qualquer obstáculo quando se trata de aliviar o sofrimento humano e salvar vidas do nosso povo”, afirmou visivelmente emocionado.

O ex-ministro chorou novamente durante o discurso, ao lembrar do engajamento de seus pais na luta contra a ditadura militar e foi aplaudido de pé. “Me despeço de 10 anos de trabalho em Brasília. Volto com mais conhecimento, experiência e espírito público. E preparem-se porque eu volto com o ‘couro mais curtido’”, concluiu.