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‘Saúde inclui trabalho comunitário, familiar e desenvolvimento’, diz médica cubana

Seis profissionais vindas de Cuba, formadas há pelo menos 18 anos, foram recebidas hoje em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo. Atendimento começa no próximo dia 11

Prefeitura de Embu das Artes

Prefeito Chico Brito e as médicas cubanas, que atuarão em cinco Unidades Básicas de Saúde

São Paulo – Seis médicas cubanas que vieram pelo programa Mais Médicos a Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo, foram recebidas hoje (1º) por autoridades do município e devem começar a atender a população no próximo dia 11. Munidas dos registros profissionais, na próxima semana vão estudar os principais desafios da saúde na cidade e conhecer as unidades básicas da rede.

“Estou muito ansiosa para conhecer e contribuir com o desenvolvimento da cidade, trabalhando em conjunto com os enfermeiros e toda a equipe de saúde”, disse a cubana Maria Georgina Nicolas Hernandez, de 55 anos, que já trabalhou em missões na Venezuela e na Guatemala. Natural de Havana, capital do país, ela é médica há 24 anos, mestra em geriatria e professora universitária.

“A atenção básica tem três objetivos fundamentais: o trabalho comunitário, o desenvolvimento comunitário e a atenção à família, que inclui o cuidado dos idosos, das pessoas com deficiência, da mulher, da criança e o combate à violência familiar”, continuou. “Isso requer conhecimento geral de toda a comunidade, para que seja possível balizar o trabalho do dia a dia.”

O município, com 240 mil habitantes, conta hoje com 62 profissionais. “Falar em número de médicos não significa que o número de horas de trabalho necessárias para atender a população seja suficiente”, explicou a secretária municipal de Saúde, Sandra Magali. “Temos contratos de 10 ou 20 horas semanais. Sofremos um déficit de horas.”

“A demanda por médicos é muito grande na região metropolitana e uma cidade como Embu das Artes não tem condições de disputar em salários com cidades com o triplo de arrecadação”, disse o prefeito Chico Brito (PT). “Ainda existe uma injustiça tributária no Brasil, que não garante recursos suficientes para os municípios poderem contratar mais profissionais.”

As seis médicas cubanas atuarão em cinco unidades básicas de saúde, que atendem pelo menos 20 mil pessoas, localizadas nos bairros Jardim Santa Luzia, Nossa Senhora de Fátima, Valo Verde e Santa Emilia, além de Santa Tereza, que vai receber duas profissionais, por atender 32 mil pessoas. A prefeitura aguarda outros 15 profissionais solicitados ao governo federal pelo Mais Médicos.

“Em muitas coisas o atendimento na atenção básica de saúde no Brasil é parecido com Cuba. Então, acho que poderemos fazer muitas coisas e contribuir muito com a cidade”, avaliou Maria Eulalia Quesada Arminan, a mais jovem do grupo, com 41 anos de idade e 18 de carreira.

A colega Maricel Vazquez Céspedes concordou. “Minha expectativa é apoiar o programa Mais Médicos e ajudar a melhorar a saúde pública do Brasil, principalmente o atendimento aos mais pobres.” Ela tem 43 anos e 19 de carreira, sete deles em uma missão na Venezuela.

“Sabemos que existe uma defasagem grande de médicos no nosso país e que isso tem a ver, historicamente, com a não democratização dos cursos de medicina. Além disso, a configuração deles preza pela especialização precoce”, disse o prefeito. “Outro problema é que as universidades, principalmente as públicas, não têm como propostas fazer residência em equipamentos públicos nas cidades mais periféricas. Os formandos querem fazer residência do Albert Einstein e no Sírio Libanês, mas não querem nas UBS”, disse Chico Brito.

“Para nós, não há nenhum problema elas serem estrangeiras”, continuou. “Os conselhos de medicina são extremamente corporativistas e as críticas têm um viés de reserva de mercado. Não é o fato de serem estrangeiros que cria um impasse. É preciso ter boa formação e integração com a equipe. Nós também temos médicos brasileiros mais ou menos competentes, com maior ou menor dedicação.”

As médicas, que chegaram ontem (31) na cidade, depois de um mês de treinamento em Belo Horizonte, estão hospedadas em uma pousada. Na semana que vem elas serão instaladas em uma casa no centro de Embu das Artes, alugada para elas. As prefeituras devem custear a moradia, alimentação e transporte dos intercambistas do Mais Médicos.

Na manhã de hoje participaram de uma cerimônia de recepção, almoçaram com autoridades e fizeram um passeio no centro histórico da cidade, tradicional pela produção de móveis e objetos de decoração em madeira. “É uma cidade artística”, declarou entusiasmada Maricel Vazquez, enquanto olhava uma loja de artesanatos.

Curiosa, Maricel Mejias Herrera questionou a uma funcionária da prefeitura: “Quanto custam os livros no Brasil”? E completou: “Gosto muito de ler. Em Cuba, são baratos e temos muitas e muitas bibliotecas públicas”.

Durante o passeio, algumas pessoas pararam para agradecer às profissionais por terem vindo ao município. Também integra o grupo Maria Yermes Clausse Duany, de 54 anos, natural de Santiago de Cuba. Com 27 de carreira, ela já trabalhou em missões na Guatemala, Venezuela e Honduras.

“A curto prazo, o programa Mais Médicos cumpre o papel de preencher uma lacuna que historicamente nunca foi preocupação neste país: democratizar os cursos de medicina”, disse o prefeito de Embu das Artes. “Nós vamos receber o campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), como Osasco e Guarulhos já receberam. Todo mundo pediu cursos de medicina, mas eles são extremamente resistentes em abrir o curso fora do campus que já oferece. Existe resistência das próprias universidades e dos conselhos de reitores.”

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