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‘Bolsonaro sabe que não ganha no voto’, diz Gleisi; ‘Sistema é confiável’, afirma Lira

Para pesquisador, onda de fake news contra as urnas eletrônicas serve para “maquiar” a realidade de crise econômica e social às vésperas das eleições

Jefferson Rudy/Agência Senado/Reprodução/Youturbe
Jefferson Rudy/Agência Senado/Reprodução/Youturbe
Para Lira, instituições brasileiras são "fortíssimas". Gleisi afirma que Bolsonaro tenta tumultuar para deslegitimar as eleições

São Paulo – A presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), reforçou nesta terça-feira (10) que não é papel das Forças Armadas “tutelar as eleições”. A declaração ocorreu após o jornal Folha de S.Paulo divulgar, com base em inquérito da Polícia Federal (PF), que ministros generais vêm participando da ofensiva contra as urnas eletrônicas. Gleisi cobrou firmeza do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), diante dos ataques de Bolsonaro e dos militares do seu entorno.

“Bolsonaro sabe que não ganha no voto. Por isso atiça novamente comandantes militares contra TSE e urnas eletrônicas. Cria tumulto para tentar deslegitimar as eleições e a democracia. Não é papel das Forças Armadas tutelar eleições. O TSE deve se dar ao respeito e ser firme sobre isso”, disse a deputada, pelo Twitter.

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), também se manifestou. Em evento com investidores, nos Estados Unidos, ele afirmou que as instituições brasileiras são “fortíssimas”, mas fez apelo por “tranquilidade política” durante as eleições. “O povo brasileiro vai escolher (seus representantes) sem o eufemismo de que a urna presta ou não presta. O sistema é confiável”, destacou.

Nesta segunda-feira (9), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) rejeitou tentativa de influência do Exército nas eleições de outubro. O presidente do TSE, ministro Fachin, afirmou que o conjunto de processos e normas para as eleições “já estão definidos e estabilizados”. Além disso, o tribunal negou três das sete “sugestões” dos militares para o aprimoramento do sistema eleitoral. As demais, o Tribunal ressaltou que já estão sendo aplicadas.

Randolfe

O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) enviou um ofício ao TSE questionando se cabe às Forças Armadas ou aos seus membros emitir juízo de valor sobre as eleições. Nesse sentido, o parlamentar indagou sobre possibilidade de multa a candidatos, partidos ou agentes públicos que atuem para desacreditar o processo eleitoral. As informações são da coluna de Mônica Bergamo, também na Folha.

De acordo com o parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro (PL) atribui aos militares a função “indevida” de fiscalizar o processo eleitoral, atuando como uma espécie de “poder moderador”. A figura não existe na Constituição brasileira, já que são apenas três os poderes da República – Executivo, Legislativo e Judiciário. Randolfe citou as “sugestões” dos militares ao TSE, “a maior parte delas infundadas e sem suporte técnico”, como exemplo de envolvimento “desvirtuado e direto” das Forças Armadas no processo eleitoral.

Por outro lado, o senador também questionou a legalidade da contratação de uma auditoria privada para fiscalizar as eleições deste ano, conforme Bolsonaro anunciou que seu partido, o PL, faria.

Robô não vota

Diante do atual quadro de crise econômica, o antropólogo David Nemer afirma que a campanha de Bolsonaro deverá impulsionar a disseminação de notícias falsas pelas redes sociais, como vem fazendo desde as últimas eleições. Agora, no entanto, trata-se de uma estratégia para tentar “maquiar” a realidade apresentada aos eleitores. Nesse sentido, apostam em conteúdos que estimulam o ódio para gerar engajamento.

“É um conteúdo raivoso, que gera muito medo, e disputa, por exemplo, a questão das urnas eletrônicas. Isso gera muito engajamento e quem está no campo democrático jamais vai disputar as questões das urnas eletrônicas em um sistema eleitoral. Então, é uma disputa injusta. Enquanto o bolsonarismo gera engajamento com mentiras, o campo democrático é cobrado a seguir a ética e a moral”, disse ele, em entrevista à DW Brasil.

Nemer é pesquisador da Universidade de Harvard, no Berkman Klein Center para a Internet e Sociedade, e autor do livro Tecnologia do Oprimido: desigualdade e o mundano digital nas favelas do Brasil. Desde 2018, ele estuda grupos bolsonaristas no WhatsApp e Telegram.

O pesquisador ressalta, ainda, que a superioridade de Bolsonaro nas redes sociais não se converte em votos, necessariamente. “Como sabemos, conta inautêntica e robô não votam. Por isso, deve-se tomar muito cuidado para fazer essa correlação, porque ela não se traduz em pessoas que votariam em Lula ou Bolsonaro”.

Por outro lado, Nemer destacou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva “tem ido muito bem” ao buscar engajar influenciadores, youtubers ou até instagramers à sua pré-campanha, como forma de alcançar as classes populares no ambiente digital. Ele citou, por exemplo, que o post da advogada e influenciadora Deolane Bezerra com Lula “foi o com maior engajamento” no Instagram.