Raízes

Pesquisador busca arquivos históricos para investigar pensamento dos militares sob Bolsonaro

Cientista político da Universidade de Brasília (UNB) lança o livro ‘República de Segurança Nacional: militares e política no Brasil’ nesta sexta-feira, no Armazém do Campo, em São Paulo

Marcelo Camargo / ABr
Marcelo Camargo / ABr
A preocupação está em torno do debate sobre a participação dos militares apoiadores de Bolsonaro nos atos golpistas

São Paulo – Os ataques do governo Bolsonaro à democracia no Brasil e a torrente de militares levados para dentro da administração pública federal são duas marcas fundamentais da atuação do campo conservador na política, desde o golpe que tirou Dilma Rousseff do governo em 2016. Para entender como esse processo ocorre, o cientista político da Universidade de Brasília (UNB) Rodrigo Lentz propõe uma análise da história do pensamento político dos militares no país, em livro que será lançado nesta sexta-feira (29), em São Paulo, no espaço do Armazém do Campo, a partir de 18h.

Em República de Segurança Nacional: militares e política no Brasil (Editora Expressão Popular, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo), Lentz apresenta a evolução do pensamento dos militares no país, demarcada por quatro gerações, desde 1930. “A proposta deste livro é oferecer uma interpretação histórica dos militares na política com base na ‘Doutrina de Segurança Nacional’, da Escola Superior de Guerra brasileira (ESG)”, escreve o cientista político, que pesquisou documentos oficiais e históricos dessa instituição militar.

“Compreender historicamente a questão militar e como os militares pensam a política pode nos ajudar – e nisso acredito cada vez mais – a interpretar que tipo de regime é esse que emerge após o golpe de 2016. Mais do que isso, a evitar novas ilusões e equívocos decorrentes de se ignorar os temas militares como ‘apenas’ de defesa nacional quando, em verdade, estão diretamente relacionados à disputa política entre classes, organizações e ativistas sociais”, sustenta Lentz.

Para quem tem dúvida de que o pensamento militar e miliciano tem influência no governo, o pesquisador apresenta vários números, reunidos de reportagens e informações oficiais dos ministérios da Defesa e Economia. Como o número de militares em cargos de confiança, que chegou a 2.897 em 2020, e no ano seguinte alcançou 2.930 nas três esferas do poder no pais – Executivo, Legislativo e Judiciário.

Rodrigo Lentz e a capa o livro: história para interpretar o pensamento dos militares / Divulgação

Ou ainda sobre o crescimento de armas, em função do discurso do presidente, que incentiva o armamento. “De acordo com dados extraídos do Anuário Brasileiro de Segurança Pública do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (…), o número de armas registradas em circulação passou de 637 mil em 2017 (no país) para 1,2 milhão em 2021”. Em Brasília, esse número é ainda mais expressivo, com crescimento de 500% – de 27 mil em 2017 para 227 mil em 2020, uma demonstração inequívoca de que hoje política e armas andam de mãos dadas no país.

No evento de apresentação do livro, será lançado também o dossiê  A questão militar no Brasil: o retorno do protagonismo dos militares na política (com versão em PDF), do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social. Esse dossiê faz uma análise sobre quem são as Forças Armadas no Brasil, sua relação com o imperialismo estadunidense e como funciona a militarização de setores nacionais.

Para os que desejam se aprofundar no tema haverá também um curso virtual gratuito nos dias 10, 17 e 24 de maio. Inscrições podem ser feitas no site Caixa de Ferramentas até o próximo domingo (1°).


Serviço

Lançamento do livro República de Segurança Nacional: militares e política no Brasil, no Armazém do Campo: Alameda Eduardo Prado, 499 – Campos Elíseos, São Paulo


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