Polarização

Roberto Amaral: candidatura de Moro é inviável e só Lula é capaz de unir a centro-esquerda

“Lula é o único adversário plausível de Bolsonaro e o único que une a centro-esquerda”, diz ex-ministro da Ciência e Tecnologia de Luiz Inácio Lula da Silva

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
"Não tem ninguém com mais densidade do que Lula, independentemente da vontade do Estadão e da Folha", diz Roberto Amaral

São Paulo – A propalada pretensão do ex-ministro e ex-juiz Sergio Moro de concorrer à presidência da República em 2022 seria uma “candidatura do ódio”. Mas, na prática, só ganharia votos à direita e extrema direita. Não interessa a Bolsonaro, nem à suposta terceira via. Em outras palavras, parece eleitoralmente inviável, inclusive porque não há espaço para duas candidatura no campo político do ódio, dominado pelo atual presidente da República.

“Bolsonaro tem em torno de 25% e não há como dividir isso. Politicamente, Moro não traz nada de novo. Seria novidade em 2018, no auge da Lava Jato, que hoje é um ‘pato manco’. Enfim, não tem plausibilidade política”, opina Roberto Amaral, ex-presidente do PSB e ex- ministro da Ciência e Tecnologia do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso, ele faz uma ressalva: “é bom dizer que, desde a eleição de Bolsonaro, a plausibilidade ficou em crise”. Outro grave problema para Moro é que sua militância política na Lava Jato o tornou uma persona non grata para grande parte do espectro político.

Àqueles que procuram desesperadamente uma chamada terceira via, que possa romper a chamada polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula, Amaral avisa: “Lula é o único adversário plausível de Bolsonaro e o único que une a centro-esquerda”. Ele lembra que, no atual cenário ocidental, a tendência é a da polarização: “é assim nos Estados Unidos, na Itália, na Inglaterra, na França, e a polarização vai presidir as eleições em 2022 aqui. No caso do Brasil, não tem ninguém com mais densidade do que Lula, independentemente da vontade do Estadão e da Folha de São Paulo”.

Além disso, há outro fator decisivo para configurar esse horizonte: a estrutura do PT, o maior partido de centro-esquerda da América Latina. Uma campanha não pode ser competitiva sem uma estrutura que a alimente.

Apesar do partido inexpressivo pelo qual se elegeu (o PSL), Bolsonaro teve, sim, uma estrutura poderosa por trás de sua campanha há três anos, ressalta Amaral: as Forças Armadas, as delegacias de polícia e os evangélicos. “Todos os quartéis e todas as delegacias foram comitês de Bolsonaro. E não há porque pensar quem em 2022 será diferente”, diz.

Ciro e Alckmin

Para Amaral, a reação de Ciro Gomes – de suspender sua pré-candidatura – ante “a posição equivocada do PDT” na votação da PEC dos Precatórios foi “sadia”. “Mas me parece também uma tentativa de tentar encontrar uma saída para essa maluquice que foi a condução da candidatura dele.”

A “saída” seria reconhecer que a candidatura se tornou inviável, na opinião de Roberto Amaral. A pretensão de Ciro ao Palácio do Planalto parece estar se “esvaziando”, opina, até pela postura de tentar ocupar a centro-esquerda com a estranha estratégia de bater em Lula e no PT. “Ele não tomou espaço do Bolsonaro e não se credenciou perante o centro e a centro-esquerda. Mas a politica reserva muitas surpresas. Não se sabe o que Ciro vai fazer.”

Quanto à divulgada possibilidade de Geraldo Alckmin compor uma chapa com Lula para disputar a presidência da República – divulgada na quarta-feira pela colunista Mônica Bergamo – , Amaral também considera inviável, embora frise que respeita o ex-governador de São Paulo e o considera representante de “uma direita séria”.

“Mas é um político em decadência. Perdeu de forma feia as eleições de 2018. Perdeu o partido e a principal base dele, São Paulo, é a base do Lula. Não acho que agregará nada ao Lula”, diz Roberto Amaral. Geraldo Alckmin deve deixar o PSDB, quaisquer que sejam seus objetivos políticos, já que a ascensão de João Doria no tucanato paulista o derrotou definitivamente no partido, em âmbito estadual.