Batalha

Iniciativa de Ciro Gomes de suspender candidatura pode derrubar PEC dos Precatórios

Oposição ao projeto manifestada por Ciro Gomes “pode inspirar outros presidenciáveis a se engajarem pela reversão de votos”, afirma deputado Orlando Silva

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil
Mais cedo, Ciro Gomes suspendeu sua pré-candidatura pelo PDT a presidente da República, após posicionamento do partido na votação

São Paulo – A iniciativa do presidenciável Ciro Gomes (PDT) de suspender sua candidatura em função de seu partido ter sido a peça fundamental para aprovar a PEC dos Precatórios na Câmara, na madrugada desta quinta-feira (4), dará força para derrubar o projeto na continuidade de sua tramitação. Essa é a avaliação do deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

“A firme e corajosa negativa de @cirogomes à PEC do Calote contribui imensamente para derrotar o projeto. Além disso, pode inspirar outros presidenciáveis a se engajarem pela reversão de votos. Se acontecer, viraremos o jogo, mais uma vez apostando na frente ampla antibolsonaro”, afirmou o deputado no Twitter, na manhã desta quinta.

Ao longo da manhã, o presidenciável e seu partido foram alvos de críticas, após deputados pedetistas votarem a favor da PEC dos Precatórios. O projeto libera R$ 90 bilhões para Jair Bolsonaro gastar em ano eleitoral. Dos 21 votos que o PDT tem na Câmara dos Deputados, 15 foram favoráveis ao projeto que beneficia o governo Bolsonaro. A proposta foi aprovada por 312 votos, quatro a mais do que o necessário. Além disso, quatro dos cinco deputados do PDT eleitos no Ceará, estado de Ciro, votaram “sim”.

Nas redes, jornalistas, políticos, analistas e influenciadores foram críticos à posição do PDT. O ex-prefeito e ex-ministro Fernando Haddad (PT) afirmou que o partido de Ciro pode ter viabilizado a reeleição de Jair Bolsonaro à Presidência da República.

“Em 2018, 3 dos 4 candidatos do PDT a governador que foram para o 2° turno declararam voto no Bolsonaro. Hoje, o partido assinou um cheque de R$ 90bi para viabilizar sua reeleição. Não sei se tem conserto. Estrago monumental”, criticou Haddad, ao lembrar o alinhamento do PDT com o atual governo.

‘Ciro não sabia?’

Mais cedo, o ex-governador do Ceará e também ex-ministro suspendeu sua pré-candidatura pelo PDT a presidente. Ciro Gomes demonstrou surpresa com a postura de seu partido na votação da Câmara e anunciou a suspensão da candidatura até o segundo turno da votação da PEC dos Precatórios.

Apesar do posicionamento do presidenciável, jornalistas questionaram o desconhecimento do líder pedetista com a bancada do PDT. “A maioria dos deputados do Ceará, estado de Ciro, votou a favor da PEC dos precatórios. Curioso, né? Dos 5 deputados do PDT no estado, 4 foram de sim. Curioso, né? Entre eles, André Figueiredo, amigão, super aliado de Ciro e líder da bancada. Curioso, né?”, ironizou Renato Rovai, da Fórum.

O jornalista José Trajano disse que, se houve realmente surpresa, os deputados pedetistas aliados de Bolsonaro precisam ser punidos. “Ciro e Lupi não sabiam dos conchavos dos deputados do PDT com o Artur Lira? Se foram surpreendidos, tenham peito e peçam a expulsão dos ‘traidores’ e deixem de jogo de cena”, tuitou.

O deputado federal José Guimarães (PT-CE) também foi crítico à postura dos colegas pedetistas. “Após um dia de tanto trabalho, ver o PDT votando com o governo é uma decepção sem fim. A Câmara vai dar ao Bolsonaro R$ 90 bilhões pra ele gastar de forma secreta, enquanto deixa mais de 23 milhões de brasileiros passando fome. Esse governo é um genocida e quem o apoia pior ainda.”

Centrismo do PDT

Para o advogado sanitarista e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) Daniel Dourado, ao abrir mão da candidatura, Ciro Gomes “aposta alto”. Segundo o analista, se a bancada do PDT não mudar de posição no segundo turno da votação da PEC dos Precatórios, o presidenciável arrisca perder a condição política da candidatura dentro do próprio partido.

“Acho que ficou claro para quem ainda não tinha percebido que a tal terceira via é um projeto de continuidade de governo do centrão com alguém menos barulhento e tosco do que o Jair”, disse Dourado, em sua conta no Twitter.

O sociólogo e cientista social Leonardo Rossatto afirma que o histórico recente do PDT é de se aproximar mais do ‘centrão’ do que se posicionar à esquerda. “O suposto “verniz ideológico” com a chegada do Ciro Gomes não resiste ao dinheiro das emendas. Graças ao PDT, o Bolsa Família corre o risco de morrer de vez e Bolsonaro vai mais forte pra eleição.”

O jornalista e podcaster Caio Bellandi lembra que, em outras matérias, parte do PDT votou junto com a base governista de Bolsonaro. “Ciro não fez beicinho quando devia – e, pra ser levado a sério, repito, deveria ter feito na primeira hora. Faz agora porque sabe que a medida pode fortalecer eleitoralmente Bolsonaro. Ou seja, timing oportunista”, criticou.


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