Combate à pobreza

Lula em Madri: humanidade precisa se curar também do vírus da desigualdade

Ex-presidente reafirma reafirma necessidade urgente de garantir direitos básicos às populações, como alimentação, educação e renda, na reconstrução do mundo pós-covid

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Ao fazer levantar a bandeira da luta contra desigualdade, Lula falou também que o tema afeta a saúde e o combate à pandemia: 'Vivemos um verdadeiro apartheid de vacinas'

São Paulo – Em sua participação hoje (18) no seminário “Cooperação Multilateral e Recuperação Regional Pós-Covid-19”, promovida pelo ONG Common Action Forum, em Madri, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que os brasileiros querem que a pandemia chegue logo ao fim, mas que, antes da chegada do coronavírus, outro problema já assolava o Brasil e diversos outros países: a desigualdade social. “Antes do primeiro caso de covid-19, o mundo já estava doente, vítima de um vírus igualmente mortal chamado desigualdade”, disse Lula. “A desigualdade está na raiz de incontáveis mortes que acontecem ao redor do mundo. Inclusive quando o atestado de óbito informa como causa da morte a covid-19. A desigualdade mata todos os dias.”

Lula apresentou dados para criticar o abusivo acúmulo de capital por parte dos mais ricos, lembrando que a riqueza de uma parcela de 1% da população mundial é equivalente ao dobro da renda somada de quase 7 bilhões de habitantes. “Em plena pandemia, os bilionários ficaram bilhões de dólares mais ricos. Ao mesmo tempo, os pobres atingiram um nível tão devastador de pobreza, que precisarão de uma década e meia para recuperar o que perderam e voltar à pobreza inicial”, alertou. “A verdade é que a reconstrução do mundo passa necessariamente pela cura da Covid-19, mas precisa ir muito além. A humanidade precisa se curar também do vírus da desigualdade“, completou o pré-candidato do PT às eleições presidenciais do ano que vem.

Desigualdade vacinal

Ao levantar a bandeira da luta contra a desigualdade em Madri, Lula estabeleceu a conexão entre o tema com a saúde pública e o combate à pandemia. Ele lembrou à plateia que mais de 50 países ainda não atingiram meta vacinal. E que apenas 2% da população das nações de baixa renda haviam recebido ao menos uma dose da vacina. “Vivemos um verdadeiro apartheid de vacinas; Enquanto em países ricos há uma extrema direita e negacionistas que se recusam a tomar a vacina, os países mais pobres lutam para ter acesso à imunização. A África não tem 10% de sua população vacinada”, criticou.

O acesso à saúde, reafirmou, é um direito básico da humanidade, assim como alimentação, educação e emprego de qualidade. É a partir da garantia desses direitos, disse Lula, que será possível reconstruir o mundo pós-pandemia e enfrentar a desigualdade. “É preciso dizer ao mundo que não aceitamos mais essa normalidade perversa. O normal é que todas os seres humanos tenham direito a no mínimo três refeições por dia. Que tenham empregos de qualidade, com salários dignos e garantia de direitos trabalhistas. Que tenham acesso à saúde e à educação. Que tenham o direito de serem felizes”, afirmou.

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‘Lula precisa voltar’

Ainda durante o seminário em Madri, o ex-presidente espanhol José Luis Rodríguez Zapatero tomou a palavra, afirmou que a América Ibérica e o mundo necessitam de Luiz Inácio Lula da Silva presidente do Brasil novamente. “Para mim é especialmente significativo que este ato de ‘Lula Livre’ na Espanha (…) e estaremos do seu lado para que ocorra o que necessita a Ibero-américa e o mundo, que é Lula presidente do Brasil novamente.”

Zapatero lembrou ainda do encontro com Lula, quando este teve a liberdade decretada, e brincou, ao afirmar que as primeiras palavras ditas pelo brasileiro foi: “estou apaixonado”. “Realmente, fico contente. Eu o vejo tão feliz. Nós vamos tê-lo presidente novamente”, disse o espanhol.

O ex-presidente da Espanha também parabenizou o colega brasileiro pela biografia. “Aprendi muito com ele. Eu aprendi que o mais importante da vida é trabalhar pelos outros, nunca renunciar, nunca se resignar. E, em primeiro lugar, ser corajoso. Se Lula não tivesse sido um metalúrgico corajoso, não teria tirado 30 milhões de pessoas da pobreza e não teria colocado o Brasil na liderança mundial”, encerrou.

Confira a participação de Lula no seminário de Madri