INVESTIGAÇÃO

CPI da Covid pede suspensão de todos os contratos da União com garantia do FIB Bank

Senadores afirmam que empresa ligada a irregularidades na compra da vacina Covaxin forneceu 40 cartas de fiança e girou em torno de R$ 600 milhões

Edilson Rodrigues/Agência Senado
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Apesar de negar ser sócio-oculto da FIB Bank, Marcos Tolentino ficou em silêncio na CPI da Covid quando perguntado sobre quem é o dono da empresa

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid aprovaram, durante a sessão desta terça-feira (14), um requerimento que pede à Procuradoria-Geral da República (PGR) que sejam suspensos todos os contratos da União que tiveram o FIB Bank como empresa fidejussória. A solicitação foi do senador Rogério Carvalho (PT-SE).

Os senadores também solicitaram ao Tribunal de Contas da União (TCU) auditorias dos contratos existentes e aprovaram a requisição de informações ao Ministério da Economia, Casa Civil, Advocacia-Geral da União (AGU) e demais ministérios sobre a suspensão das cartas de fiança emitidas pelo FIB Bank.

Nesta terça, o empresário Marcos Tolentino presta depoimento à Comissão. A CPI da Covid suspeita que ele seja sócio oculto do FIB Bank, que forneceu a garantia para a compra da vacina indiana Covaxin, cujo contrato de R$ 1,6 bilhão acabou cancelado por indícios de irregularidades.

Durante seu depoimento, Tolentino explicou que saiu, há 12 anos, da empresa acionista do FIB Bank: a Benetti Prestadora de Serviços, de Curitiba. Porém, assumiu que mantém empresas em comum com o grupo, pois “derivaram muitos negócios”. Ele disse ainda que era sócio de Ederson Benetti, que já é falecido.

“Dessa empresa da qual eu fazia parte, derivaram muitos negócios, direitos, bens, outras empresas, algumas que têm inclusive o nome Benetti como parte de sua razão social. E, mesmo com o falecimento do doutor Ederson Benetti, em um acordo com seu filho e herdeiro, Ricardo Benetti, algumas dessas empresas permaneceram de minha propriedade e outras foram a ele transferidas, a fim de fazer jus a seus direitos hereditários”, afirmou Tolentino.

FIB Bank na mira da CPI

Apesar de negar ser sócio oculto do FIB Bank, Marcos Tolentino ficou em silêncio na CPI da Covid quando perguntado sobre quem é o dono da empresa. Ele admitiu que seu escritório de advocacia funciona no mesmo prédio de outras empresas sob suspeita dos parlamentares, entre elas, a MB Guassu, que integralizou capital de R$ 7 bilhões para o FIB Bank a partir de um terreno.

Marcos Tolentino também ficou em silêncio quando questionado sobre quantos contratos públicos tiveram garantia fidejussória do FIB Bank nos últimos dois anos. De acordo com a senadora Simone Tebet (MDB-MS), foram quase 40 cartas de fiança fornecidas pelo FIB Bank, o que daria em torno de R$ 600 milhões.

O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou sobre a ligação entre Tolentino e o advogado Ricardo Benetti. O parlamentar apontou que “em alguns momentos, em movimento sincronizado, quando um sai da sociedade, o outro entra no seu lugar”. O relator acrescentou ainda que um dos vínculos entre os dois empresários ocorreu na propriedade de precatórios federais. A esse respeito, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), lembrou que o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara, é um defensor do uso de precatórios em gastos públicos, como o Renda Cidadã.

O presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM) perguntou, então, se Marcos Tolentino é sócio da Benetti Associados em algum negócio. O depoente confirmou que sim, citou ativos e precatórios e disse que possui procuração para representar algumas empresas, como a Pico do Juazeiro.

O senador acrescentou que existem empresas registradas em nome da Benetti, mas que têm Tolentino como sócio. Enquanto isso, Renan Calheiros acrescentou que o depoente e Ricardo Benetti não aparecem como sócios formais em nenhuma situação. “É um tal de empresas e acionistas fantasmas”, alertou.

“Várias matérias apontam que Tolentino é o verdadeiro dono do FIB Bank, sendo o sócio oculto da empresa e, por ser amigo direto do deputado Ricardo Barros, teria facilitado a emissão da carta fiança a favor do contrato da Precisa Medicamentos (Covaxin) e de outros contratos no Ministério da Saúde”, disse Calheiros.

Lobista na agenda

Os senadores da CPI da Covid obtiveram autorização para a eventual condução coercitiva do lobista Marconny Albernaz de Faria. O depoimento de Marconny, que teria atuado em favor da Precisa Medicamentos, está previsto para esta quarta-feira (15).

O depoimento de Marconny Faria deveria ter sido tomado na mesma semana que o de Tolentino. Mas, “coincidentemente”, ele também não compareceu, apresentando um atestado médico do mesmo hospital – o Sírio-Libanês, de São Paulo –, porém, alegando “dor pélvica”.

A CPI investiga a atuação de Marconny na intermediação das negociações da Precisa Medicamentos com o Ministério da Saúde, num contrato de R$ 1,6 bilhão para a compra da Covaxin. O lobista também será questionado sobre sua participação na venda de testes de covid-19 ao governo.

*Com informações da Agência Senado


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