'ESTELIONATO'

CPI da Covid: ‘Preço pago em vidas será cobrado da Vitamedic’, diz Renan

Jailton Batista confirmou que farmacêutica patrocinou nota do Médicos pela Vida, que defendia tratamento ineficaz contra a covid-19

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Empresa aumentou no ano passado em 1.105% a venda de Ivermectina, medicamento sem eficácia

São Paulo – Os senadores da CPI da Covid criticaram a conduta da farmacêutica Vitamedic por lucrar “ao custo de vidas” durante a pandemia. Os parlamentares questionaram o diretor-executivo Jailton Batista por propagandear a ivermectina, mesmo sem eficácia, no tratamento da covid-19. “Esse enorme preço pago em vidas será cobrado da Vitamedic”, afirmou o relator Renan Calheiros (MDB-AL).

Jailton Batista confirmou que a Vitamedic patrocinou propaganda veiculada pela Associação Médicos pela Vida. Segundo o depoente, a empresa assumiu o custo da veiculação de um manifesto da entidade em jornais, em 16 de fevereiro, em defesa do “tratamento precoce” contra a covid-19, que incluía o uso de ivermectina e hidroxicloroquina.

“Demos apoio e suporte à Associação Médica pela Vida no patrocínio ao documento técnico e médico. Nós patrocinamos a publicação do manifesto, custeando a vinculação em jornais. Eles pediram o patrocínio e pagamos”, confessou Batista.

Em seguida, o diretor da Vitamedic foi criticado pelos senadores da CPI da Covid. O presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM) disse que os empresários usaram a fragilidade dos brasileiros para elevar seu faturamento. “Milhares de amazonenses perderam a vida, mas isso não sensibilizou. Eles queriam o lucro, utilizando a boa fé da população. O presidente, médicos e sites fizeram propaganda enquanto o laboratório que tinha um faturamento de R$ 200 milhões saltou para R$ 534 milhões ao custo de vidas”, afirmou o senador.

‘Estelionato’ da Vitamedic

O diretor-executivo da Vitamedic reconheceu que a Merck, fabricante original da ivermectina, informou em comunicado não haver evidência de que o produto funcione contra a covid-19. Em seguida, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AL), lamentou a falta de transparência da empresa.

“Vocês patrocinaram uma veiculação de uso do medicamento, gastaram dinheiro com isso porque sabiam que aumentaria os lucros, mas não gastaram dinheiro com uma pesquisa científica para saber a eficácia do medicamento”, criticou.

O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) afirmou que, no Código Penal, o estímulo à utilização de um medicamento sem eficácia pode ser classificado por estelionato. “Obtiveram vantagem indevida, induzindo alguém ao erro. Isso fere a ética e violaram a vida humana”, alertou.

“Sugiro que seja feito pedido cautelar à Justiça Federal para que bloqueie recursos suficientes para garantir o ressarcimento aos cofres públicos, enquanto durarem as investigações. É uma medida cautelar que essa CPI deve tomar”, acrescentou Contarato. Renan pediu que a comissão implemente a sugestão feita.

Lucros

A empresa aumentou no ano passado em 1.105% a venda de ivermectina. Jailton Batista explicou que a Vitamedic teve faturamento de R$ 200 milhões em 2019, R$ 540 milhões em 2020 e R$ 300 milhões até julho de 2021.

Somente com a ivermectina, a empresa faturou R$ 15,7 milhões em 2019, número que passou a R$ 470 milhões em 2020 e, de janeiro a maio deste ano, está em R$ 264 milhões. “Tivemos um crescimento de 600% na venda de ivermectina”, relatou.

Inicialmente, a CPI da Covid ouviria o proprietário da Vitamedic, José Alves Filho, que inclusive teve seus sigilos quebrados pelos senadores. Porém, o empresário pediu para ser substituído por Jailton, responsável de fato pelo gerenciamento da empresa.

*Com informações da Agência Senado.