'Tratamento precoce'

CPI ouve diretor de laboratório que lucrou com a ivermectina. Assista

Vendas do medicamento cresceram mais de 800% em um ano. “Muitos acreditaram nessa falácia do tratamento precoce. Hoje está claro que muita gente ganhou dinheiro com isso”, declarou o senador Humberto Costa (PT-PE)

Reprodução/Vitamedic
Reprodução/Vitamedic
Farmacêuticas e médicos que estimularam uso de medicamentos sem eficácia comprovada deverão ser processados pelo crime de charlatanismo

São Paulo – A CPI da Covid vai colher nesta quarta-feira (11) o depoimento de Jailton Batista, diretor da Vitamedic Indústria Farmacêutica, fabricante da ivermectina. Os senadores vão investigar a relação entre as empresas e médicos que prescreveram medicamentos do chamado “kit covid”, sem eficácia contra a Covid-19. De acordo com a pesquisa do Conselho Federal de Farmácia (CFF), entre abril de 2020 e março deste ano, foram vendidas 2,5 milhões de caixas da ivermectina, um crescimento de 837% em relação ao ano anterior. No Brasil, a Vitamedic é a maior produtora dessa substância.

Apesar dos lucros exorbitantes desses laboratórios, assim como com outros medicamentos que integravam o chamado “tratamento precoce”, a droga não oferecia a alardeada cura ou proteção contra a doença. A falsa sensação de imunidade inclusive pode ter contribuído para que as pessoas se expusessem ao risco de contaminação, colaborando para o aumento do número de casos e mortes.

Acompanhe a sessão da CPI

“Muitos acreditaram nessa falácia do tratamento precoce. Outros imaginavam que havia boa intenção ou interesse científico. Mas hoje está claro que muita gente ganhou dinheiro com isso. A Vitamedic foi a maior beneficiada”, declarou o senador Humberto Costa (PT-PE), ex-ministro da Saúde e integrante titular da CPI.

Em entrevista a Marilu Cabañas, para o Jornal Brasil Atual, o senador afirmou que os envolvidos poderão ser indiciados pelo crime de charlatanismo. “Teremos um arsenal para processar essa e outras empresas que se beneficiaram desse processo todo”, declarou.

Barros e Precisa

Humberto Costa também afirmou que é muito grande a expectativa para o depoimento do deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo na Câmara dos Deputados. Barros será ouvido pela CPI nesta quinta-feira (12). Barros é suspeito de se beneficiar da compra superfaturada da vacina Covaxin, intermediada pela Precisa Medicamentos. Nesse sentido, ele teria sido apontado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro como líder do esquema, após ter sido informado pelo deputado Luís Miranda sobre irregularidades ocorridas na importação da vacina indiana.

“Até agora, o presidente não negou as afirmações do deputado Luís Miranda. Acredito que não vai negar. Ao comunicar o que havia acontecido no ministério, Bolsonaro teria dito que Barros estaria por trás do esquema. Como não organizou uma live com Barros, para dizer que ele era inocente, para nós, isso é a afirmação da verdade das declarações de Luís Miranda”, disse Humberto.

Além disso, quando Barros era ministro da Saúde, a pasta realizou uma compra de medicamentos de alto custo da Global Saúde, pertencente ao mesmo dono da Precisa. Por outro lado, o deputado também é suspeito de se beneficiar de outro esquema montado para beneficiar a empresa VTCLog. Barros extinguiu o setor de armazenamento e distribuição de medicamentos e vacinas do ministério. Na sequência, a VTCLog ganhou licitação para cumprir tais atribuições, e também seria responsável pelo pagamento de propina ao ex-ministro e seus aliados.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima