DEFESA DA CIÊNCIA

CPI da Covid: depoimento de Luana Araújo mostra que ‘ciência não anda ao lado do bolsonarismo’

À comissão, médica infectologista criticou uso do ineficaz “tratamento precoce”

Waldemir Barreto/Agência Senado
Waldemir Barreto/Agência Senado
O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que faz parte da CPI da Covid, aponta que o depoimento expõe interferência externa no Ministério da Saúde

São Paulo – A médica infectologista Luana Araújo, que depõe à CPI da Covid, nesta quarta-feira (2), foi elogiada nas redes sociais por defender a ciência e criticar os medicamentos ineficazes defendidos pelo pelo presidente Bolsonaro e apoiadores no combate à pandemia.

A especialista teve sua nomeação para o cargo de secretária extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 vetada dez dias após de ser anunciada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Crítica do chamado “tratamento precoce”, a postura de Luana Araújo na CPI foi celebrada por diversas personalidades.

O médico, ex-ministro da Saúde e deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP) disse que Luana Araújo foi impedida de assumir o cargo por sua posição contrária aos medicamentos sem eficácia. “Mais uma comprovação do que estamos afirmando há muito tempo: a ciência não pode andar ao lado do bolsonarismo”, publicou em seu Twitter.

A deputada federal Sâmia Bomfim (Psol-SP) endossou a fala da especialista à CPI, ao chamar a defesa da cloroquina no combate à covid-19 como “uma posição delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente”. “Fica cada vez mais evidente o porquê da sua não-nomeação: o compromisso com a verdade e a ciência”, disse a parlamentar.

Anti-ciência bolsonarista

A infectologista, que ficou apenas 10 dias no comando da Secretaria de Combate à Covid-19, disse ainda que não enfrentou resistência no Ministério da Saúde, mas não foi dada uma justificativa para não ser nomeada. Segundo ela, foi um “veto da Casa Civil”.

O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), que faz parte da CPI da Covid, aponta que o depoimento expõe interferência externa no Ministério da Saúde. “De forma direta, ela mostra qual é o consenso científico sobre o combate à pandemia. Separa didaticamente ciência e ilusionismo. Escancara a interferência política na ação do Ministério da Saúde”, apontou nas redes.

O deputado federal Jorge Solla (PT-BA), ex-secretário de Saúde da Bahia, acredita que o veto é motivado pela médica ter uma opinião contrária à do presidente Bolsonaro em relação ao “tratamento precoce”. “(Luana) teve seu nome barrado pelo Palácio do Planalto. Sua opinião sobre a cloroquina explica o veto ao seu nome”, criticou.

‘Poderia ter sido diferente’

A cientista social Mariana Varella destacou a fala de Luana Araújo sobre a necessidade dos médicos seguirem dados científicos, principalmente por comprovarem a ineficácia da cloroquina sobre covid-19. “Médico não precisa ser cientista, mas tem obrigação de conhecer e respeitar o método científico. Diz, também, que não faz sentido adotar ‘tratamentos’ já foram descartados por cientistas do mundo todo”, afirmou Mariana.

Para o jornalista Kennedy Alencar, as posições de Luana Araújo expõem à CPI da Covid que seria impossível trabalhar com Queiroga e Jair Bolsonaro. “A maior contribuição dela à CPI é dar mais um depoimento, como o de Dimas Covas, que mostra ao país de quem é a culpa pelo agravamento da pandemia. Mais gente morreu e adoeceu sem necessidade pela forma como Bolsonaro, que tem o aval de Queiroga, age na pandemia. É genocida, sim.”

Já o deputado federal Ivan Valente (Psol-SP) lamenta a não nomeação da médica, pois, segundo ele, poderia trazer um cenário mais otimista no combate à pandemia. “Luana Araújo deixa a gente sonhar, como seria o enfrentamento à pandemia com racionalidade, uso da ciência, respeito à vida, mas logo voltamos ao pesadelo de Bolsonaro, Pazuello, Queiroga e 465 mil mortes. Poderia ter sido diferente, muito diferente”, disse.


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