CPI da Covid

Pazuello diz que respondeu à Pfizer, nega incompetência e ataca Renan

Ex-ministro e general entrou em contradição com declarações prestadas anteriormente à Comissão pelo ex-chefe da Secom e pelo gerente-geral da Pfizer na América Latina

Jefferson Rudy/Agência Senado
Jefferson Rudy/Agência Senado
Clima esquentou quando Pazuello acusou Renan de querer conduzir a conversa, ao insistir em questionamentos sobre as vacinas da Pfizer

São Paulo – O ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello, em depoimento à CPI da Covid nesta quarta-feira (18), rebateu declarações dadas pelo ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten, sobre suposta “incompetência ou ineficiência” durante as negociações com a farmacêutica Pfizer para a aquisição de vacinas. Ele também negou versão apresentada por Wajngarten, e confirmada pelo gerente-geral da Pfizer na América Latina Carlos Murillo, de que as ofertas apresentas foram praticamente ignoradas, levando quase dois meses para serem respondidas.

Indagado pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), relator da Comissão, sobre a alegada falta de respostas à farmacêutica estadunidense, Pazuello se irritou. Disse que, como ministro, não poderia participar diretamente das negociações. “Um ministro jamais poderia receber uma empresa, o senhor sabe disso”, provocou Pazuello.

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Criticado pelos demais senadores pela declaração feita de forma acintosa, Pazuello disse que retirava o que havia dito. Mas, na sequência, retrucou: “Foram respondidas inúmeras vezes na negociação. Nunca fechamos a porta. Queríamos comprar da Pfizer o tempo todo. Me desculpe, acho que o senhor está conduzindo a conversa”, disse o general.

Na sequência, também rebateu a alegada incompetência atribuída pelo ex-chefe da Secom. “Na minha interpretação, não. E acho que o secretário de Comunicação não tinha dados para fazer análise desse tipo”, pontuou Pazuello.

Ele atribuiu a demora para a assinatura do contrato com a Pfizer à “cláusulas leoninas” exigidas pela farmacêutica. Dentre elas, estaria a mudança de jurisdição para os Estados Unidos, o pagamento adiantado e assinatura do próprio presidente para fechar o contrato. “Ao ouvir isso a primeira vez, achei muito estranho”, afirmou o ex-ministro. Ele também destacou o valor cobrado – US$ 10 por dose – além da entrega de “quantitativos inferiores” como motivos que retardaram a negociação.

Cloroquina

Pazuello tentou justificar as orientações dadas pelo ministério sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. Durante a sua gestão, a pasta emitiu nota técnica ampliando a possibilidade de utilização do medicamento para casos leves. De acordo com o ex-ministro, tratava-se de regular as doses a serem utilizadas. Isso porque, entre março e abril, o ministério teria conduzido um estudo clínico, em Manaus, com a utilização de altas doses da cloroquina para pacientes com casos agudos de covid-19. O “famigerado estudo”, segundo o ex-ministro, resultou na morte de ao menos 22 pacientes.

“Se resolverem prescrever os seguintes medicamentos, atenção para a dosagem de segurança. E, atenção, não usem na fase final. Era o mínimo que poderia fazer, se não estaria prevaricando. O que o ministério da Saúde fez foi só isso”, declarou o general. Além disso, ele disse ser contra a utilização desses medicamentos sem prescrição médica. Mas afirmou que era preciso garantir a disponibilidade dos mesmos. Apesar de se dizer contra, ele disse que 29 países teriam protocolos para a utilização da cloroquina no tratamento da covid-19.

Conversas

Pazuello negou a existência de um “conselho científico independente” que prestaria assessoramento ao Palácio do Planalto nas questões relativas à pandemia. No entanto, confirmou que fez “meia reunião” com o alegado comitê. A iniciativa, contudo, teria partido do empresário Carlos Wizard. “Foi só uma vez, 15 minutos. E nunca mais. Não tive assessoramento, nem aconselhamento de grupo de médicos. Não gosto disse formato, um fala, o outro grita. Só houve meia reunião. E mais nada. Uma vez. Não aceitei o formato de aconselhamento que ele (Wizard) tinha pensado.”

Nesse sentido, ele também apontou que os filhos de Bolsonaro não influíam nas decisões do ministério. Disse que “nunca ouviu falar” que o vereador Carlos Bolsonaro carioca (Republicanos) tivesse se reunido com representantes da Pfizer para tratar da compra de vacinas. Esse episódio foi foi relatado pelo próprio executivo da empresa, a partir de informação transmitida por suas subordinadas que participaram do encontro.

Ainda assim, Pazuello disse que gostaria de ter se encontrado mais vezes com os “filhos políticos” de Bolsonaro. “Da mesma forma que esperava ter mais conversas com o presidente, esperava que pudesse conversar mais com Flávio, com Eduardo e com Carlos. Pelo contrário, pouquíssimas vezes encontrei os filhos do presidente.”


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