"Ministério paralelo"

Senador pede convocação e quebra de sigilo de Carlos Wizard na CPI da Covid

Alessandro Vieira (Cidadania-SE) diz haver indícios de que o empresário teria financiado campanhas a favor da cloroquina e contra o isolamento social

Reprodução/Instagram
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Assessor de Pazuello, Wizard chegou a ser cogitado para ocupar cargo no ministério da Saúde

São Paulo – O senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) apresentou nesta segunda-feira (17) requerimento para que o empresário Carlos Wizard seja convocado a prestar depoimento na CPI da Covid. Além disso, o parlamentar também pede a quebra dos sigilos bancário, fiscal, telefônico e telemático do empresário. Ele é suspeito de ser um dos financiadores do “ministério paralelo”, que teria tomado decisões referentes ao combate da pandemia, muitas vezes passando ao largo do próprio Ministério da Saúde. Os pedidos devem ser votados na sessão desta terça-feira, quando a comissão se reúne para ouvir o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo.

O empresário Carlos Wizard é um dos defensores da utilização da cloroquina e demais medicamentos sem eficácia comprovada que compõem o famigerado “tratamento precoce” para pacientes com a covid-19. No mesmo sentido, Wizard também seria contrário a aplicação medidas de distanciamento social, advogando em defesa do “isolamento vertical”.

Haveria indícios, de acordo com o senador, de que Carlos Wizard teria mobilizado recursos financeiros para fortalecer a aceitação dessas medidas, também defendidas pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.

Cloroquina

Ao lado da médica Nise Yamaguchi, Wizard teria participado de uma reunião em Brasília para tentar incluir o tratamento contra Covid-19 na bula da cloroquina. O episódio foi relatado à CPI pelo ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Ele citou a existência de uma minuta de decreto presidencial para alterar as recomendações de aplicação do remédio. Posteriormente, a informação foi confirmada pelo presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que contou ter reagido rispidamente contra a proposta.

Também faria parte desse “ministério paralelo” o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. O ex-presidente da Pfizer para a América Latina, Carlos Murillo, disse à Comissão que Carlos estava em uma das reuniões com integrantes do governo para negociar a aquisição de vacinas.

Disfarçando números

Ex-dono da escola de inglês que leva o seu nome, atuava como “conselheiro” do então ministro Eduardo Pazuello. Ele chegou a chegou a ser convidado para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos, mas recusou o cargo. Ele se desgastou em função da polêmica criada com as secretarias estaduais de saúde, colocando em dúvida as estatísticas da pandemia, com o total de mortos e de casos de covid-19. Atualmente, Wizard é dono da Sforza, que controla redes de fasf-food como KFC e Pizza Hut no Brasil.

“Temos uma equipe de inteligência do ministério. Essa equipe encontrou indícios de que alguns municípios e estados estão inflacionando os dados para receber benefícios federais. Isso é lamentável”, disse o empresário, em julho do ano passado. Na sequência, no mesmo mês, o ministério suspendeu a divulgação dessas informações. Os dados da pandemia passaram a ser computados e divulgados pelo Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass).

Vacina

Em março deste ano, Wizard e o empresário Luciano Hang, dono da rede varejista Havan, se reuniram com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Na ocasião, eles defenderam a compra de vacinas pela iniciativa privada. Além de apoiar o “camarote da vacinação“, Wizard disse ser contra a doação de imunizantes ao SUS como contrapartida à aquisição das empresas. “Não consigo ver muita recíproca nessa questão. Eu já estou sendo solidário com o governo: ele está deixando de ter a logística, a mão de obra, a negociação e o custo dessa aplicação”, afirmou o empresário à época.