Jogo de cena

Maia sobe tom contra Bolsonaro para manter apoio da esquerda a Baleia Rossi

Presidente da Câmara disse que Bolsonaro tem “culpa” nas mais de 200 mil mortes pela covid-19. Porém, tanto ele quanto Baleia Rossi relutam em se comprometer com impeachment

Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados
Maryanna Oliveira / Câmara dos Deputados
Já são 60 pedidos de impeachment de Bolsonaro nas mãos de Rodrigo Maia

São Paulo – O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), subiu o tom contra o presidente Jair Bolsonaro. No sábado, pelas redes sociais, ele chamou Bolsonaro de “covarde” por querer transferir a culpa pela má gestão diante da pandemia ao ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Maia ainda acusou o presidente diretamente: “Bolsonaro: 200 mil vidas perdidas até agora. Você tem culpa”, declarou no Twitter.

Mas apesar da retórica explosiva, Maia continua sentado sobre os 60 pedidos de impeachment protocolados contra o chefe do Executivo. Na última quinta-feira (7), foi a vez do PT apresentar mais um pedido de afastamento. Como motivo, estão as declarações de Bolsonaro debochando da tortura sofrida pela ex-presidente Dilma Rousseff durante a ditadura.

Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, as críticas de Maia contra o presidente Bolsonaro são para tentar manter o apoio dos partidos de esquerda à candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara.

Por outro lado, é justamente o descaso com a pandemia que pode levar Bolsonaro ao impeachment, segundo o analista. “Por exemplo, por ter gasto uma quantidade imensa de recursos para produzir cloroquina, e não ter conseguido antecipar a compra de vacinas e agulhas. Ou até mesmo a falta de interesse na compra de vacinas de outros laboratórios. Além disso, ele terá que justificar as 200 mil mortes, as filas em hospitais e a falta de coordenação das ações, por parte do governo federal”, afirmou Niccoli em entrevista ao Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (11).

Baleia manda sinais difusos

Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo no último sábado, Baleia chegou a dizer que não é “bom momento” para tratar do impeachment de Bolsonaro. “Precisamos hoje de estabilidade. E reafirmo que não houve compromisso de abertura de impeachment. Todos têm que trabalhar por uma unidade”, declarou o candidato.

Essa declaração, no entanto, causou insatisfação entre lideranças de partidos de esquerda, que fecharam apoio a Baleia na disputa contra Arthur Lira, que conta com respaldo do governo.

“Dar resposta a crimes do Executivo é o item 3.6 do compromisso de Baleia Rossi com a oposição. Inclui analisar denúncias de crimes do presidente da República, mesmo que não haja acordo para aprovar impeachment. Ao negar o que tratamos e fechar essa possibilidade, Baleia perderá votos do PT”, afirmou, pelo Twitter, a deputada Gleisi Hoffman (PT-PR), presidenta da legenda.

Contudo, após o mal-estar, Baleia disse que falou com Gleisi. ” Ressaltei que vou honrar cada compromisso firmado com os partidos de oposição, o que inclui usar todos instrumentos constitucionais em defesa da democracia. Antecipar juízos agora não ajuda. Isso é o que disse à Folha”, declarou o deputado, também pelas redes sociais.

Lira e a fumaça

Por outro lado, eventual vitória de Lira na Câmara tornaria mais fácil para o governo Bolsonaro emplacar as chamadas pautas de costumes. Temas como o suposto combate à “ideologia de gênero” e a liberação do acesso às armas serviriam, mais uma vez, como “cortina de fumaça” para desviar a atenção da opinião pública da tragédia da pandemia e das suas consequências econômicas, segundo Niccoli.

Segundo ele, o futuro de Bolsonaro vai depender se conseguirá manter apoio de parte importante do eleitorado. “Os índices de impopularidade de Bolsonaro não para de aumentar. E tenderão a aumentar mais com o fim do auxílio emergencial”, destacou o cientista político.

Assista à entrevista

Redação: Tiago Pereira – Edição: Helder Lima


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