Judicialização da política

Zanin diz que Lava Jato atua para intimidar seu trabalho na defesa de Lula

“O momento em que essa operação ocorreu mostra bem a sua finalidade, de intimidar advogados que atuam na Operação Lava Jato”, afirma o advogado após tornar-se alvo da operação

Rovena Rosa / Abr
Rovena Rosa / Abr
"Tão logo finalizadas a sabatina e a votação na CCJ, darei encaminhamento ao Plenário do Senado na mesma data", disse o presidente do Senado

São Paulo – O advogado Cristiano Zanin, que faz a defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que o juiz da Lava Jato no Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, busca intimidá-lo para atrapalhar seu trabalho. “Esse é o objetivo da Lava Jato. Me tirar ou tirar o meu tempo da defesa do presidente Lula e nos outros casos em que eu atuo. Só que isso não vai acontecer”, afirmou em entrevista publicada nesta quarta-feira (10), aos jornalistas Wálter Nunes e Felipe Bächtold na Folha de S.Paulo. “O momento em que essa operação ocorreu mostra bem a sua finalidade, de intimidar advogados que atuam na Operação Lava Jato.”

Na terça-feira (9), uma ação de busca e apreensão vasculhou a casa e o escritório do advogado. Zanin é acusado de chefiar um esquema de desvio de dinheiro por meio da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), que envolvia, segundo investigadores, tráfico de influência no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A Procuradoria afirma que o escritório de Zanin, uma sociedade com Roberto Teixeira, recebeu da Fecomércio R$ 67,8 milhões de 2013 a 2016. A investigação partiu da delação de Orlando Diniz, ex-presidente da federação, preso em 2018.

Na entrevista, Zanin explica a relação que manteve com Orlando Diniz [ex-presidente da Fecomércio-RJ e hoje delator]: “O nosso escritório foi contratado pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro em 2012 e passou a prestar serviços ao longo de anos em litígio que a federação, que é uma entidade privada, tinha com a Confederação Nacional do Comércio, outra entidade privada”.

Sigilo violado

“Cumprimos o contrato, prestamos todos os serviços e temos isso amplamente documentado. Só no nosso sistema de controle do escritório, estão registradas 1.400 petições relativas ao caso, 12.400 horas [de trabalho] divididas entre 77 diferentes colaboradores do nosso escritório”. E acusa que há uma tentativa de “criminalizar a advocacia”. “Violaram o sigilo da nossa profissão, a inviolabilidade do escritório e do material de trabalho do advogado. Isso é crime: desde 2019 está tipificado em lei. Não posso e não vou tratar de qualquer assunto do nosso escritório. Porque essa relação entre advogado e cliente é protegida por sigilo por força de lei”.

O advogado de Lula está convencido de que o momento em que essa operação ocorreu mostra bem a sua finalidade, “de intimidar advogados que atuam na Operação Lava Jato”. Zanin percebe que “há uma tentativa de ofuscar as vitórias que obtivemos recentemente, que reconheceram as ilegalidades e a atuação com caráter político da Lava Jato”.

Vitórias de Lula

“Tivemos julgamentos importantíssimos recentemente, no Supremo Tribunal Federal e em outros órgãos judiciários. Na maior parte deles, nós ganhamos. Fizeram essa operação para ofuscar as vitórias que nós estamos tendo no caso do presidente Lula. Tenta esconder o que está sendo reconhecido pelos tribunais”.

Zanin lembra que estamos às vésperas de um julgamento que pode reconhecer a suspeição do ex-juiz Sergio Moro e que pode restabelecer os direitos do ex-presidente Lula.

Mostrando a politização das ações do juiz Marcelo Bretas, Zanin diz que ele é “notoriamente alguém que apoia o presidente Jair Bolsonaro. Inclusive participou de atos públicos, até de inauguração de obras com o presidente”.

Confira a entrevista

Zanin: iniciativa de Bretas é ‘atentado à advocacia e retaliação’


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