Compulsão

‘Negação da realidade’ e falsificação marcam fala de Bolsonaro na ONU

Na comparação com o discurso de 2019, Bolsonaro trocou mentiras olavistas por falsificações que atendem aos interesses dos militares, segundo professora da PUC-SP Elaini Silva

Marcos Corrêa/PR
Marcos Corrêa/PR
Em vez de falar à comunidade internacional, Bolsonaro se dirigiu aos seus próprios apoiadores

São Paulo – A falsificação de fatos e a negação da realidade foram as marcas do discurso do presidente Jair Bolsonaro, nesta terça-feira (22), durante a abertura da 75ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Assim como no ano passado, em vez de falar para a comunidade internacional, preferiu se dirigir às suas próprias bases internas.

Para a professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Elaini Silva, Bolsonaro subestima a capacidade dos demais países de averiguarem sobre o que realmente se passa no Brasil.

Em entrevista a Glauco Faria, no Jornal Brasil Atual desta quarta-feira (23), Elaini nota algumas mudanças em relação ao discurso proferido no ano passado. “Dessa vez, parece que são mentiras e falsificações mais próximas dos militares do que da base olavista”, pontua.

Ao atribuir a “índios e caboclos” as responsabilidades pelas queimadas na Floresta Amazônica, por exemplo, Bolsonaro se aproxima da abordagem utilizada pelo vice-presidente. Hamilton Mourão, que comanda o Conselho da Amazônia, também vem tentando minimizar os impactos dos incêndios florestais. Da mesma forma, a exaltação de acordos de livre-comércio seria outro exemplo de alinhamento ideológico com os militares. “O que não quer dizer que seja um discurso mais confiável. Mas o tipo de preocupação é de outra parte da base do governo.”

‘Cristofobia’

Para além das falsificações da realidade, dessa vez a parte mais “delirante” do discurso de Bolsonaro ficou por conta da apelo ao “combate à cristofobia”.

Católica, a professora diz que não vê riscos de perseguição religiosa a cristãos no Brasil. O intuito, segundo ela, é acuar eventuais dissidentes que estão insatisfeitos com a pregação fundamentalista em grupos de Whatsapp que reúnem apoiadores do presidente.

Estados Unidos x China

Segundo a professora Elaini Silva, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi outro que preferiu se dirigir para o seu próprio público interno. O que denota um enfraquecimento do papel dos Estados Unidos no cenário internacional. A China foi o alvo preferencial de Trump, que responsabilizou o país pela disseminação do novo coronavírus. Por outro lado, os chineses optaram pela valorização das instituições internacionais, buscando estabilidade na relação com os demais países.

Assista à entrevista:

Redação: Tiago Pereira. Edição: Glauco Faria


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