#ChecaBozo

Bolsonaro mente na ONU ao relacionar incêndios na Amazônia a ‘índios e caboclos’

Observatório do Clima classificou falas de Bolsonaro como “calculadamente delirantes”. Pelo Twitter, especialistas rebateram as declarações inverídicas do presidente

Takumã Kuikuro/Fotos Públicas
Takumã Kuikuro/Fotos Públicas
Na Floresta Amazônica e no Pantanal, incêndios estão relacionados ao desmatamento em grandes propriedades rurais

São Paulo – Em seu discurso na abertura da 75ª Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira (22), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que os incêndios na Floresta Amazônica ocorrem em áreas já desmatadas, “onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência”. Além disso, disso, afirmou que os focos “criminosos” são combatidos “com rigor e determinação”.

O presidente disse, ainda, que o Brasil é líder em conservação das florestas tropicais. Já sobre o fogo que avança sobre as áreas verdes do Pantanal, na região centro-oeste, o presidente atribuiu à “alta temperatura” do local. Além do acúmulo de matéria orgânica em decomposição.

Entretanto, segundo o Observatório do Clima (OC), as declarações de Bolsonaro não são verdadeiras. Pelas redes sociais, especialistas do órgão e colaboradores reuniram na hashtag #ChecaBozo as principais declarações falsas ditas por Bolsonaro na ONU.

Em nota, o OC afirmou que a fala de Bolsonaro na ONU foi “calculadamente delirante”. Serviu para expor o país de forma “constrangedora”, e confirmou as preocupações dos investidores internacionais que pensam em sair do Brasil em função do descaso com as políticas ambientais.

“Ao arrasar a imagem internacional do Brasil como está arrasando nossos biomas, Bolsonaro prova que seu patriotismo sempre foi de fachada”, afirmou o secretário-executivo do OC, Marcio Astrini.

Amazônia

Sobre o fogo na Floresta Amazônica, uma nota técnica do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) demonstra que, em 2019, por exemplo, apenas 7% dos focos de incêndio foram registrados em áreas indígenas.

Com base em monitoramento por satélite, o coordenador do Laboratório de Gestão de Serviços Ambientais da Universidade Federal de Minais Gerais (UFMG), Raoni Rajão, aponta que a maior parte dos incêndios na Amazônia brasileira ocorreram em áreas recentemente desmatadas. E a maior parte dos focos ocorreu após 15 de julho, quando o governo federal publicou decreto proibindo queimadas no país por 120 dias.

Da mesma forma, outro estudo realizado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da UFMG mostrou que, no ano passado, 52% das queimadas ocorreram em imóveis médios e grandes. Essas propriedades também responderam por 67% do desmatamento na região, entre agosto de 2019 e julho deste ano.

Além disso, outro levantamento realizado pela Nasa (Agência Espacial Norte-Americana) revelou que 54% dos focos de incêndio têm origem no desmatamento.

Bolsonaro também afirmou que “somos líderes em conservação de florestas tropicais”. Mas um relatório da ONG Global Forest Watch, revelou que o Brasil perdeu cerca de 1.361.000 hectares (13.610 km²) de floresta tropical virgem. A devastação corresponde a um terço do que foi perdido, nas florestas tropicais, em todo o planeta, entre janeiro e dezembro de 2019.

Pantanal

Apesar da seca e das elevadas temperaturas na região, a ONG Instituto Centro de Vida (ICV) identificou, a partir do cruzamento de imagens de satélites, que as queimadas no Pantanal começaram em cinco propriedades no Mato Grosso. Por outro lado, com base nos dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) e da Secretaria de Estado da Fazenda, o Repórter Brasil identificou que proprietários dessas fazendas comercializam gado com o grupo Amaggi, do ex-ministro e ex-senador Blairo Maggi.

Além disso, quatro delas são alvo de investigação da Polícia Federal (PF), que rastreia a origem dos incêndios na região.

Regularização

Bolsonaro também disse que busca, junto ao Congresso Nacional, alterar as regras de regularização fundiária. Essas mudanças, segundo ele, colaborariam para coibir os incêndios. O próprio OC lembrou que, entre 2004 e 2009, o desmatamento foi reduzido em mais de 70%, sem que houvesse alteração na legislação fundiária.