Contra o "bolso vírus"

Bolsonaro alimenta motins contra a democracia e a legalidade, diz Flávio Dino

Governador do Maranhão quer frente ampla com todos que pregam democracia, afirma que motim no Ceará acendeu luz amarela e refuta “legislação antissindical”

Roberto Parizotti/CUT/Fotos Públicas
Roberto Parizotti/CUT/Fotos Públicas
Governador com presidentes de seis centrais: ele defende 'revogação da legislação antissindical'

São Paulo – “O presidente da República alimenta motins contra a legalidade. Estimula ataques contra as instituições da democracia, não por seus defeitos, mas por suas virtudes”, disse nesta terça-feira (3) o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), a uma plateia de sindicalistas em São Paulo.

Ele voltou a falar na necessidade de formação de uma frente ampla, segundo ele sem preocupação eleitoral. “Todo mundo que defende a democracia é aliado”, resume Dino, que tem conversado com nomes de várias tendências políticas, inclusive fora do campo da esquerda.

Para ele, o que aconteceu recentemente no Ceará, com motim de policiais, acendeu um “luz amarela” no país, podendo se repetir em outros estados. “O que ele (Bolsonaro) diz reverbera, muitas vezes vira realidade, e nós vimos isso no Ceará. Parte dos segmentos policiais passou a cumprir sua própria lei”, afirmou o governador, fazendo rápida menção a “esse senhor Adriano, que acabou morrendo na Bahia”, referência ao miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o capitão Adriano, morto em 9 de fevereiro.

Dino também demonstrou preocupação com o ato pró-Bolsonaro marcado para o próximo dia 15, com ameaças ao Congresso e ao Supremo Tribunal Federal. “O que está em jogo não é uma correção de rumos desses poderes, mas a ideia de que o presidente da República deve governar sozinho para os seus – os seus mesmo –, numa hiper-concentração de poderes jamais vista na República brasileira.”

Flávio Dino visitou a sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, na Liberdade, região central, abrindo uma série de debates com o tema “O Brasil que queremos“. Além da anfitriã Força Sindical, participaram presidentes de cinco centrais (CGTB, CSB, CTB, CUT e Nova Central). Outros nomes serão convidados para participar, como Ciro Gomes (PDT), Jaques Wagner (PT) e o apresentador Luciano Huck.

Encontro em São Luís

A capital maranhense vai sediar no próximo dia 30 um encontro que discutirá justamente a formação dessa frente ampla. O iniciativa é do coletivo Direitos Já!, que segundo um dos organizadores, Fernando Guimarães, reúne representantes de 18 partidos, com foco em direitos básicos e na defesa do Estado democrático de direito. Guimarães foi do PSDB por 31 anos, até 2019, quando descobriu que havia sido “desfiliado” sem aviso prévio, nem direito a defesa.

O governador citou o seu próprio estado como exemplo da importância de juntar forças, ainda que não totalmente alinhadas politicamente. “Eu não defendo frente ampla de garganta”, afirmou, lembrando que seu governo tem 16 partidos na coalizão. Em sua comitiva, estava o secretário estadual de Indústria e Comércio, Simplício Araújo, presidente do SD no Maranhão.

Dino ironizou a tentativa de justificar o desempenho da economia com o coronavírus. “Eu acho que é mais o bolso vírus“, afirmou, avaliando que o crescimento brasileiro neste ano não passará dos 2%. Brincou com a alta do dólar (“câmbio Paulo Guedes”), elogiou Leonel Brizola, “com quem aprendi a distância” e lembrou de sua origem como advogado de sindicatos de trabalhadores, durante quatro anos, antes de se tornar juiz federal.

Bomba social

“A precarização do trabalho é uma bomba social, uma bomba fiscal”, disse o governador. “Quem vai sustentar o INSS, as aposentadorias, se ninguém contribui?”, questionou. Para Flávio Dino, as chamadas uberização e pejotização “quebram” a Previdência.

O governador também criticou a redução das políticas sociais, particularmente na região Nordeste. “Bolsa Família é comida. Negar Bolsa Família é negar comida para as pessoas. Meritocracia se afere entre iguais. Entre quem não teve chance, é perversidade.”

O governador maranhense afirmou ainda que é preciso rediscutir soluções para garantir a sobrevivência das entidades sindicais. “Uma primeira tarefa para que tenhamos um país mais justo é revogar a legislação antissindical e encontrar saídas para o financiamento dos sindicatos. Isso é uma causa democrática para o país. Ao sabotar os sindicatos, está se reduzindo os salários dos trabalhadores.” Ao final do evento, ele recebeu o documento das centrais sobre uma “agenda prioritária” para o Brasil.

Dino também criticou a Medida Provisória (MP) 905, que cria o contrato de trabalho verde e amarelo. “Uma carteira antipopular. Temos de priorizar a reforma que nos interessa. E a reforma de quem acredita num país mais justo é a tributária”. E criticou o uso atual das cores nacionais: “Temos de arrancar o verde e amarelo das mãos do fascismo e trazê-los para as mãos dos verdadeiros patriotas”.

Ele enfatizou o papel da educação e da saúde, afirmando que aplica em seu estado mais do que o mínimo exigido. “É milagre? Não, é opção.” Lembrou que o Maranhão passou do 22º para o 13º lugar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “Claro que a política de valorização docente tem um peso nisso.”

Segundo Flávio Dino, o Brasil teve avanços no período pós-ditadura, inclusive na saúde, apesar dos muitos problemas. “Às vezes ruim com ele (SUS), mas muito pior sem ele. Muita gente não gosta porque não ganha dinheiro.”

Com humor, contou que quando era pequeno um de seus três irmãos teve sarampo e a mãe juntou os filhos para que todos pegassem a doença de uma só vez. E isso aconteceu também com a catapora, a caxumba e a coqueluche. Ainda identificou na plateia um trabalhador com camisa do Moto Clube, time de futebol do Maranhão – ele é torcedor do Sampaio Corrêa. Na saída, defendeu reação contra as ameaças à democracia. “Nada é mais transformador do que a esperança e nada é mais conservador do que a inércia e o pessimismo.”

 


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