Feridas

‘Caos’ no PSL de Bolsonaro não afeta medidas antipovo

Partido de Bolsonaro vira "situação e oposição", com risco de ver seu apoio reduzido praticamente ao núcleo familiar do presidente, diz cientista político da USP

José Dias/PR
José Dias/PR
Enquanto deputados se enfrentam nas redes sociais, Bolsonaro nega crise no PSL

São Paulo – O presidente Jair Bolsonaro, que comparou a disputa pelo comando do PSL a uma “ferida, que cicatriza naturalmente” destacou nesta segunda-feira (21), em viagem ao Japão, o “linguajar que nunca vi em lugar nenhum do mundo”, em referência indireta às declarações do líder do partido na Câmara, deputado Delegado Waldir, que o chamou de “vagabundo” e prometeu “implodir” o presidente, após manobra para colocar o filho Eduardo Bolsonaro em seu lugar.

“Não há crise nenhuma, zero”, afirmou Bolsonaro, destacando que o Senado pretende fazer a votação final da “reforma” da Previdência nesta semana. Para o professor do departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP) Jean Tible, mesmo em meio ao “caos” que toma conta do seu partido, Bolsonaro, assim como ocorreu também durante o governo golpista de Michel Temer (2016-2018), vem conseguindo aprovar a agenda de “reformas” que o próprio Tible classifica como “retrocessos”. “Por enquanto, estão em trilhos paralelos”, afirmou o analista à jornalista Marilu Cabañas, no Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (21).

A crise no seu partido começou quando Bolsonaro disse a um apoiador para “esquecer o PSL”, porque o presidente da sigla, deputado Luciano Bivar (PSL-PE), estaria “queimado pra caramba“. Uma semana depois, ele foi alvo de ação de busca e apreensão da Polícia Federal (PF) em investigação que apura o uso de candidaturas laranja no partido. Na quinta-feira (17) passada, um áudio do presidente articulando a substituição do Delegado Waldir, elevou a temperatura de encrenca. No mesmo dia, após fracassar a manobra em favor do filho, o presidente também resolveu retirar a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo no Congresso, substituindo-a pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO).

O risco, segundo Tible, é o apoio a Bolsonaro no Parlamento ficar restrito ao seu próprio círculo familiar. Ainda assim, ele também criticou a fraca atuação da oposição. “É até interessante essa crise, porque o PSL consegue ser situação e oposição. Predomina em todo o debate político. É claro que tem deputados valorosos (na oposição), que têm tentado se opor, mas o problema é que essa pauta dos retrocessos está com muita força no andar de cima, e também no Congresso.”

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