Estupidez sem limite

Irmã de vítima da ditadura diz que Bolsonaro não pode ser reconhecido como presidente

Presa e torturada pela ditadura, Rosalina Santa Cruz enfatiza que documentos da Aeronáutica desmascaram a versão de Bolsonaro

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal
Fernando Santa Cruz, o primeiro da esquerda, em foto de 1967. Documentos da Aeronáutica comprovam que ele foi vítima da ditadura que Bolsonaro tanto elogia

São Paulo — “Indignação” é o sentimento geral da família de Fernando Santa Cruz, desaparecido político vítima da ditadura e que nesta semana foi alvo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Rosalina, irmã de Fernando, e também ela vítima da ditadura, tendo sido presa e torturada, declarou que além da revolta os familiares ficaram surpreendidos pelo ataque cruel contra a memória do irmão e do filho dele, Felipe Santa Cruz, atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

“Acho que o presidente nem conhece o Estado que está governando, ou desgovernando. E trata uma questão de Estado, que envolve a família, com documentos, trata de uma forma dessas… Estamos indignados e até surpreendidos que ele fosse capaz de usar um fato de dor para atingir um adversário político, porque acho que ele considera o Felipe um adversário político e quer desqualificá-lo”, disse Rosalina, em entrevista à Rádio Brasil Atual

Ela inclusive cita a existência de documentos da Aeronáutica confirmando a prisão do irmão, e destaca que a família recebeu há pouco o atestado de óbito concedido pela Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, na qual o Estado brasileiro reconhece a morte de Fernando Santa Cruz em decorrência da violência de agentes públicos. Para Rosalina, Bolsonaro não está à altura do cargo que ocupa. “Essa pessoa não pode nem ser reconhecida como presidente de uma nação que tem uma história republicana.”

Os documentos da Aeronáutica também mostram que o verdadeiro alvo era Jair Ferreira de Souza, uma das lideranças da Ação Popular, e com quem Fernando Santa Cruz tinha contato. “Ele era um militante da Ação Popular, isso nunca negamos, mas não era da direção, não era clandestino. Era um militante”, afirma a irmã. Ao ser preso e morto, Santa Cruz estudava Direito na Universidade Federal Fluminense (UFF), tinha residência fixa e era funcionário público no Departamento de Águas e Energia em São Paulo.

“O Fernando foi preso, tinha companheiros que ele podia encontrar, e resistiu não falando, dando a sua vida. O Fernando não teve nem processo aberto contra ele. Um jovem que deu a vida pensando numa pátria melhor, numa vida melhor para os brasileiros. É um absurdo, não podemos imaginar como esse senhor pode ser presidente da República”, lamenta Rosalina.

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