Segundo Turno

Entrada em cena de milícias em apoio a Crivella eleva tensão no Rio

Ex-presidente da CPI das Milícias, Freixo denuncia participação do crime organizado na política. Candidato do PRB retruca acusando o Psol de apoio a black blocs

RICARDO ALMEIDA/DIVULGAÇÃO REDETV!

Apoio a Crivella foi expresso pela ex-vereadora Carminha Jerominho, parente de milicianos muito conhecidos no Rio

Rio de Janeiro – Um dos mais graves problemas do Rio de Janeiro, o incessante crescimento de grupos paramilitares, conhecidos popularmente como milícias, em diversas regiões da cidade, se tornou tema central neste segundo turno da campanha para a prefeitura, disputado entre os candidatos Marcelo Freixo (Psol) e Marcelo Crivella (PRB). Depois de Crivella receber publicamente – segundo ele, de forma involuntária – o apoio da família que controla a maior milícia carioca, a campanha de Freixo passou a denunciar que a eventual chegada do adversário ao poder municipal significará novo impulso aos grupos criminosos.

Freixo, como deputado estadual, foi presidente da CPI das Milícias na Assembleia Legislativa e ganhou fama nacional justamente por sua atuação no combate aos grupos paramilitares. O relatório final resultante das investigações indiciou 225 pessoas por atuação em milícias, a maioria formada por ex-policiais e bombeiros que ainda se encontram presos.

Com a conclusão da CPI, Freixo passou a receber ameaças de morte e, em novembro de 2011, com o apoio da Anistia Internacional, teve de deixar temporariamente o Brasil após a Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar confirmar que estava em marcha um plano para assassiná-lo. Segundo as investigações da PM, um ex-policial, condenado e foragido, teria recebido na ocasião R$ 400 mil para matar o deputado. Até hoje, por determinação do Ministério da Justiça, Freixo anda acompanhado por seguranças.

O apoio das milícias a Crivella foi manifestado pela ex-vereadora Carminha Jerominho, filha e sobrinha de dois dos milicianos mais conhecidos do Rio: os irmãos Natalino Guimarães (ex-deputado estadual pelo DEM) e Jerominho Guimarães (ex-vereador pelo PMDB). A família tem forte presença na zona oeste da cidade, sobretudo no bairro de Campo Grande, e os dois estão presos desde 2008, acusados de “vender” segurança aos moradores à base de extorsões e ameaças e de controlar uma ampla gama de serviços clandestinos, que tem no transporte coletivo sua maior força, mas também se estende à distribuição de botijões de gás e sinais de tevê a cabo.

Em vídeo postado em uma rede social, Carminha diz que “o candidato do Jerominho, do Natalino e da Carminha é o Crivella”. A ex-vereadora, que ficou famosa por ter sido eleita em 2008 quando estava presa, também desafiou Freixo a “andar pelo centro de Campo Grande”. “Você não vem aqui não é por medo da milícia não. Você não vem aqui porque tem medo de ser vaiado pela população”, disse. Carminha também afirma que seu pai é um “preso político” e que Freixo deveria “se envergonhar de tirar das ruas os dois policiais” que são utilizados para fazer sua segurança.

Black blocs

Crivella nega qualquer proximidade com milicianos, mas diz não recusar apoios e votos. Ao ser indagado pelo adversário sobre o apoio dos milicianos durante o debate realizado na noite de ontem (18) pela RedeTV!, o candidato do PRB perdeu a habitual calma. “Como você é capaz de dizer que um pai de família, um senador, tem o apoio das milícias? Não vou baixar o nível e dizer que você é safado e vagabundo”, reagiu. Ao longo do debate, Crivella também se dirigiu a Freixo em termos como “covarde” e “sem vergonha”.

A proximidade do Psol com alguns setores mais radicais dos manifestantes de rua foi usada como contraponto por Crivella. “Os black blocs, sob o seu comando, Freixo, têm as mãos sujas de sangue. Mataram um trabalhador pelas costas”, disse, em referência à morte do cinegrafista Santiago Andrade. Em outro momento do debate, ao ser acusado por Freixo de pregar o ódio religioso, Crivella retrucou: “Ódio existe na militância do Psol e nas mãos sujas de sangue de cada um de vocês”.

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