Frente conservadora

Partidos pró-Temer cerram fileiras em torno de Crivella no 2º turno do Rio

Com apoio oficial de Indio da Costa e entrada de PMDB e PSDB em sua campanha,candidato do PRB, líder nas pesquisas, decide não comparecer a debate na televisão

Marcos Oliveira/Ag. Senado

Crivella agora aceita apoio do PMDB, que antes havia negado. Folga nas pesquisas faz candidato desistir de debates

Rio de Janeiro – Quinto colocado na votação em primeiro turno para a prefeitura do Rio de Janeiro, com 8,99% dos votos válidos, o candidato derrotado do PSD, Indio da Costa, declarou ontem (13) seu apoio a Marcelo Crivella (PRB), que disputa o segundo turno das eleições contra Marcelo Freixo (Psol). Fechado diretamente em reunião com o presidente licenciado e principal líder nacional do PSD, o ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, o acordo pressupõe a participação do partido no primeiro escalão da prefeitura na eventual gestão de Crivella e, mais do que isso, consolida a frente das forças que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff em torno do candidato do PRB.

Embora Crivella, em um primeiro momento, tenha negado com veemência a participação do PMDB em seu eventual governo – “Essa possibilidade não existe. O povo carioca mostrou que não quer essa gente na prefeitura”, disse ele, logo após a confirmação do resultado do primeiro turno – o partido do atual prefeito, Eduardo Paes, já é o principal motor da campanha do candidato do PRB no segundo turno.

Apesar da não participação direta de Paes e do candidato derrotado do PMDB para a prefeitura, Pedro Paulo Carvalho, que chegou em terceiro lugar no primeiro turno com 16,12% dos votos válidos, os quatro candidatos mais votados para vereador pelo partido – Rosa Fernandes, Júnior da Lucinha, Jorge Felippe e Jairzinho – já confirmaram o apoio a Crivella.

Assim como o PMDB, o PSDB, que levou Carlos Osorio ao sexto lugar com 8,66% dos votos válidos, não declarou apoio a nenhum candidato no segundo turno. O partido, no entanto, vetou o apoio a Freixo, o que deixou as portas abertas para acordos pontuais de parlamentares e outras lideranças tucanas com Crivella. “Liberamos nossos vereadores e diretórios para apoiarem quem quiserem, desde que não seja a candidatura do PSOL. Não há identificação automática do PSDB como nenhuma das duas candidaturas, mas não podemos em hipótese alguma apoiar um candidato que defende o ‘Fora, Temer'”, disse o presidente regional do partido, o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha.

Apesar das críticas dirigidas aos candidatos de esquerda por trazerem a questão nacional para o debate na campanha municipal, este também foi o argumento utilizado por Indio para justificar seu apoio a Crivella no segundo turno. “Eu faço um convite aos eleitores para que não deixem o Rio retroceder nas mãos de forças políticas do passado. Além da proximidade programática entre PSD e PRB, o apoio a Crivella é importante para que o Rio não seja governado por setores políticos que acabaram de sofrer um impeachment pelo mal que fizeram ao Brasil”, disse.

As mais recentes pesquisas de intenção de voto mostram ampla vantagem de Crivella. Segundo o Datafolha, que divulgou sua pesquisa no dia 6, o candidato do PRB aparece com 44% da preferência do eleitorado, ante 27% do candidato do Psol. Já na pesquisa do Ibope, divulgada em 10 de outubro, Crivella aparece com 51% e Freixo com 25% das intenções de voto. Em ambas as pesquisas, os votos nulos e brancos permanecem altos, repetindo a tendência do primeiro turno, com 21% dos entrevistados tendo se declarado desta forma ao Ibope e 18% ao Datafolha.

Sem debates

Além de impulsionar os acordos com as forças tradicionais da política carioca, a larga vantagem de Crivella nas pesquisas fez com ele alterasse sua estratégia de campanha neste segundo turno. Após participar com Freixo do morno debate realizado pela TV Bandeirantes na última sexta-feira (7), o candidato do PRB já desmarcou sua presença em três debates que seriam realizados respectivamente pelo SBT, pelo jornal O Globo e pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Além disso, a TV Record, emissora que pertence ao tio de Crivella, o bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, anunciou que não realizará mais o debate que estava inicialmente programado para uma semana antes da votação.

“Nunca fugi de debate, mas meu foco agora é a rua, o contato direto com o eleitor”, diz Crivella. Ele afirma que participará do último debate na televisão, programado para a TV Globo na antevéspera da votação, mas sua decisão de não participar de debates previamente acordados irritou Freixo. “O Crivella mostra que não tem compromisso com a democracia, o que já sabíamos porque ele apoiou o golpe. Mostra também que é um covarde, pois foge do debate aberto. Eu o desafio a debater comigo aonde ele quiser, até mesmo na sede do PMDB, que agora o apoia”, afirmou.

Estratégia

Para neutralizar a vantagem de seu adversário apontada pelas pesquisas, Freixo, que no segundo turno angariou os apoios de PT, PCdoB, Rede, PV e PSB, terá que reverter nesta reta final de campanha duas tendências do eleitorado carioca, já que Crivella aparece com ampla vantagem entre os eleitores com renda de até um salário mínimo (62% contra 18% do candidato do Psol) e escolaridade até a quarta série do ensino fundamental (64% a 23%). Segundo as últimas sondagens, mesmo onde tem bom desempenho, Freixo perde para Crivella: 44% a 32% entre os eleitores com renda superior a cinco salários mínimos e 40% a 37% entre os eleitores com nível superior. Outro desafio de Freixo é aumentar sua votação nas áreas mais carentes da cidade (zonas norte e oeste), que juntas concentram cerca de 2,5 milhões de eleitores.

Após um início de segundo turno quase cordial entre os dois candidatos, Freixo partiu nos últimos dias para ataques mais diretos ao adversário. Dois flancos vulneráveis de Crivella – a aliança com o ex-governador Anthony Garotinho e a chegada em massa do PMDB em seu apoio – têm sido particularmente atacados pelo candidato do Psol. “O povo carioca precisa estar consciente de que, com Crivella prefeito, tenebrosas forças políticas que foram rejeitadas pela população irão voltar, como o Garotinho e também o PMDB, que foi tirado do segundo turno pelo povo, mas que, com Crivella, continuará no poder.”