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Para Metrô, ‘canibalização’ de trens é estratégia de manutenção

Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado mostrou-se insatisfeito com alegações apresentadas pela companhia em reunião nesta sexta (11)

Sindicato dos Metroviários

Interior de um dos trens ‘canibalizados’ para garantir a manutenção de outras composições do Metrô

São Paulo – Em reunião no Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE), na tarde de hoje (11), diretores do Metrô paulista admitiram que retiraram de peças de cinco trens para garantir a manutenção de outras composições – chamada de canibalização pelos trabalhadores –, mas alegaram que é um procedimento planejado, feito apenas em trens novos. “A foto (na reportagem) mostra um trem novo que espera para entrar em teste. Ele forneceu peça para outro trem que estava rodando e teve problema, mas ainda está na garantia. Assim, não tiramos o trem da operação”, disse o diretor de Operações da companhia, Mário Fioratti Filho.

Conforme a RBA denunciou na última terça-feira (8), o Metrô, empresa administrada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB), está utilizando peças de cinco trens parados no pátio de manutenção de Itaquera, zona leste da capital, para realizar consertos em outras composições que necessitam de revisão, segundo o Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Os trens “canibalizados” são as composições H59, K09, K17, K21 e L43.

“São 11 trens parados no total, sendo cinco em Itaquera e seis no Jabaquara. E esses acabam sendo ‘canibalizados’, pois como não há determinadas peças, aproveitam e tiram as peças deles para garantir a operação de outros trens”, relatou o secretário-geral do sindicato, Alex Fernandes. Os principais itens retirados dos trens são vidros de janelas, portas, fechaduras, lâmpadas, faróis, motores de tração, bancos de passageiros e de operadores, redutores, contrassapatas e até extintores de incêndio.

Segundo Fioratti, trata-se de uma “opção”, uma “estratégia de manutenção” que é feita em metrôs “no mundo todo”. “Se temos falha de uma peça em um trem, que está na garantia, mando a peça para o fabricante e retiro uma outra de um trem que esteja esperando a vez para realização de testes. Assim não retiro o trem de circulação. Temos uma fila de trens e utilizamos sempre o último da fila”, completou. Também participaram da reunião o presidente do Metrô, Paulo Menezes Figueiredo, e o diretor de Engenharia e Construções, Paulo Sérgio Amalfi Meca.

De acordo com o diretor de Operações, foram incluídos 33 novos trens no sistema e alguns ainda estão na fila de espera para os testes que permitem a liberação para a operação. Tais procedimentos não podem ser feitos com muita rapidez, porque precisam ser realizados após o encerramento da operação comercial. E precisam utilizar o viário, que também passa por manutenção durante a madrugada. Então, a companhia faz um calendário para poder realizar as duas ações ao longo do ano.

Questionado pelo conselheiro do TCE Antonio Roque Citadini, relator das contas anuais do governo Alckmin, sobre a precariedade e a possível regularização do estoque de peças, Fioratti argumentou que os trens novos vêm apenas com algumas peças sobressalentes. Outras são repostas pela empresa que fabricou ou modernizou o trem, em sistema de garantia. Somente após um tempo de operação é que o estoque vai sendo composto, de acordo com a necessidade. “Isso vem caindo mês a mês. Temos uma queda contínua. Mas não consigo dizer quanto tempo vai levar”, afirmou.

Fioratti também admitiu que faltam peças no estoque da companhia para realizar a manutenção dos trens. Dos 45 mil componentes, pelo menos 3% (cerca de 1.300) estão faltando, mas isso não afeta o serviço, segundo ele. Os trabalhadores metroviários falam em 3 mil peças em falta.

Citadini também questionou se o corte realizado por Alckmin no repasse dos valores referentes às gratuidades no Metrô – aproximadamente R$ 255 milhões em 2014 e 2015 – estaria afetando a aquisição de equipamentos e, por conseguinte, o serviço à população. “O metrô é muito importante para a população. Sempre teve boa avaliação, mas vem caindo com seguidos problemas. É óbvio que o Metrô hoje tem mais paralisações”, afirmou. Os diretores negaram.

Mas o conselheiro não se convenceu. E disse que vai esperar o envio das demais informações solicitadas pelo TCE e o relatório da equipe técnica para apresentar sua avaliação. “Nos últimos anos nós tivemos má relação com o Metrô. A companhia nos deu respostas que não se confirmaram. Jurandir (Fernandes, ex-secretário de Transportes Metropolitanos de Alckmin) veio aqui e apresentou relatório sobre as ações na Copa do Mundo. Tudo lindo. Ia resolver todos os problemas. Três meses depois o relatório não parava em pé”, ponderou Citadini.

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