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Para Dilma, peso da retirada do grau de investimento do país é relativo

'Classificação não significa que Brasil esteja em situação em que não possa cumprir obrigações; vamos continuar nesse caminho e retomar o crescimento”, afirmou a presidenta em entrevista ao 'Valor Econômico'

Roberto Stuckert Filho/PR

Dilma: contingenciamentos dão base para o Orçamento de 2016, mas 90,5% não são contingenciáveis

São Paulo – A presidenta Dilma Rousseff, em entrevista publicada hoje (10) pelo jornal Valor Econômico, relativizou a importância da retirada do grau de investimento do país pela agência Standard&Poor’s, anunciada ontem. Segundo a presidenta, isso não muda o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal para a retomada do crescimento.

“Você vai notar que de 1994 a 2015 só em sete anos, a partir de 2008, a nota foi acima de BB+. Portanto, essa classificação não significa que o Brasil esteja em uma situação em que não possa cumprir as suas obrigações. Pelo contrário, está pagando todos os seus contratos, como também temos uma clara estratégia econômica. Vamos continuar nesse caminho e vamos retomar o crescimento deste país”, afirmou.

Na entrevista, a presidenta dá um recado aos setores da sociedade que defendem o impeachment ou sua renúncia. “Eu não saio daqui, não faço essa renúncia. Não devo nada, não fiz nada errado”, afirmou Dilma, que também defendeu a permanência do ministro Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e criticou os boatos em torno de sua saída. “Isso é um desserviço para o país. Acho que é ruim. Primeiro porque ele não vai (sair). Segundo, porque isso encobre uma tendência a tentar enfraquecer o Joaquim, que não é boa. O Joaquim tem a minha confiança. As pessoas têm de conhecê-lo para saber. Ele tem uma qualidade inequívoca: é um cara do Estado brasileiro. Quem convive com ele sabe disso.”

Sobre a crise global, a presidenta afirmou que de 2008 e 2009 o problema levou os países emergentes a tomarem medidas anticíclicas, e no Brasil não foi diferente. “Para tentar garantir a taxa de investimento do setor privado nós fizemos desonerações substantivas – 56 setores econômicos foram desonerados da folha; reduzimos a taxa de juro do investimento em bens de capital de forma drástica e demos ao BNDES recursos para esse investimento.

Fizemos uma política de financiamento dos estados só para investimento onde colocamos em torno de R$ 20 bilhões. Financiamos concessão de rodovias, portos, aeroportos, fizemos um programa de segurança hídrica, o Minha Casa Minha Vida, tivemos investimentos em mobilidade urbana em quase todas as capitais. Com isso, queríamos o quê? Manter uma taxa de investimento elevado, tentando conter a queda do emprego e da renda”, explicou.

Ela enfatizou que agora o governo faz a sua parte, canalizando os investimentos em infraestrutura e energia. Ela lembrou que a expansão das exportações, por conta da desvalorização no câmbio, tem efeito inflacionário negativo, mas também de expansão de exportações.

“Nós, que estávamos em situação de déficit comercial, vamos ter um superávit”, destacou ela, afirmando que é possível chegar em torno dos US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões de superávit comercial. “Isso vai estimular algumas indústrias. Elas, que perderam mercado interno, vão ganhar mercado internacional, porque nossa desvalorização foi maior do que a de outros países.”

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Dilma apontou ainda que a inflação já está indicando sinais de queda. “Redução da inflação em 2016, combinado com alguma recuperação do crescimento puxado pelas exportações, pela continuidade desses investimentos, acho que cria um clima para ter uma expansão maior do crédito, que hoje está completamente retraído. A retomada do crescimento do crédito aumenta a possibilidade de as famílias também consumirem mais”, garantiu.

A presidenta frisou que o governo tomou medidas para conter os gastos. “Nós cortamos gastos e diminuímos a desoneração, o subsídio aos juros. Este ano nós contingenciamos R$ 78 bilhões e cortamos R$ 40 bilhões até agora. E é em relação a esse patamar que nós estamos projetando o Orçamento de 2016. É importante você ver a composição da despesa, 90,5% do Orçamento não é contingenciável. Temos aqui uma jabuticaba: despesas discricionárias não contingenciáveis”, disse.

Segundo ela, nas despesas discricionárias contingenciáveis tem R$ 42 bilhões para o PAC e R$ 72 bilhões para tudo o mais. “O déficit em relação à meta é de R$ 64 bilhões. Contingencia isso como? Como?”, indagou.

Sobre as medidas a longo prazo para garantir a sustentabilidade do equilíbrio fiscal, a presidenta Dilma destacou que é preciso “fazer uma reforma da Previdência intergeracional”, proposta que está sendo discutida em um fórum. Dilma também reafirmou que a meta de superavit de 0,7% do PIB no ano que vem será atingida e disse que vai enviar nas próximas semanas propostas de aumento de receitas fiscais e de corte de despesas obrigatórias.

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