35 anos

Falcão fala em distanciamento das origens e em renascimento do PT

'Queremos um partido presente na vida do povo, e não somente que sai a campo a cada dois anos, nas eleições', diz o dirigente, que admite 'erros políticos' ao longo da história

Juca Martins (Fev/1980)

Manifesto de fundação do PT, no Colégio Sion: democracia com raízes nas organizações de base da sociedade

São Paulo – O discurso do presidente nacional do PT, Rui Falcão, no evento que abre as comemorações de 35 anos da legenda, nesta sexta-feira (6), admite o distanciamento do partido de suas origens. E também as dificuldades enfrentadas pelo governo Dilma em pôr em prática “o programa vencedor” com que se reelegeu – em referências às medidas ortodoxas anunciadas pela equipe econômica.

Em sua fala, o dirigente afirma que o partido tem de se preocupar em “ampliar a governabilidade meramente institucional e estendê-la à sociedade, levando às ruas a defesa do programa vencedor, organizando a população para defender o nosso projeto e a lutar por reformas estruturais”. E acrescenta que esse desafio exigirá do PT “um renascimento, uma retomada de valores de nossas origens, entre os quais a ideia fundadora da construção de uma nova sociedade”.

Rui Falcão menciona o fato de que o embate eleitoral foi marcado por confronto de programas distintos, tendo vencido o de “repulsa às teses neoliberais”, e diz que “a oposição e seus veículos de comunicação empenham-se em disputar os rumos da política econômica, tentando impor um programa alternativo ao que foi escolhido pelo povo brasileiro nas urnas”. Assinala que essas mesmas forças investem contra a Petrobras, não com objetivo de combater a corrupção, mas de fragilizar e empresa. “Querem afastar a Petrobras da condição de operadora única do pré-sal e fazer regredir o regime de partilha para o regime de concessão. E, em última instância, forçar a privatização da empresa, como tentaram fazê-lo durante o governo FHC.”

O presidente do PT admite também, em outras palavras, que o pragmatismo político que tem marcado as alianças partidárias construídas para dar sustentação aos governos liderados pelo partido nos últimos anos não bastaram para desconstruir “a correlação de forças desfavorável presente nas instituições do Estado”.

Ir ao encontro do que o dirigente chama de “valores de nossas origens” seria, portanto, um dos objetivos do 5º congresso do partido, previsto para junho. “Caberá promover este reencontro, nos marcos do país de hoje – guardadas as diferenças conjunturais – com o  PT dos anos 80, quando nos constituímos num partido com vocação de poder de transformação da sociedade – e não num partido do ‘melhorismo’.” Falcão argumenta que o PT não pode encerrar-se “numa rigidez conservadora”, no esforço de buscar um equilíbrio entre não dificultar a adesão de novos filiados e tampouco de facilitar o ingresso de novos apoiadores não confiáveis.

“Queremos um partido que pratique a política no cotidiano, presente na vida do povo, de suas agruras e vicissitudes, e não somente que sai a campo a cada dois anos, quando se realizam as eleições”, diz o dirigente, observando também que a concentração da atividade partidária na disputa político-eleitoral-institucional acarretou um “duplo desvio” – um “vazio teórico” sobre o vem acontecendo no Brasil e no mundo e um distanciamento entre a conquista de votos e as “luta de massas”, fazendo com que as vitórias eleitorais não bastem para “criar condições de construir uma força política organizada e estável, um verdadeiro bloco histórico capaz de inverter a correlação desfavorável na sociedade e de impulsionar mudanças estruturais”.

O diagnóstico do distanciamento do partido de suas origens é encontrado, no discurso de Falcão, em trecho do próprio manifesto de fundação da legenda: “Queremos a política como atividade própria das massas, que desejam participar, legal e legitimamente, de todas as decisões da sociedade. O PT quer atuar não apenas no momento das eleições, mas, principalmente, no dia a dia de todos os trabalhadores, pois só assim será possível construir uma nova forma de democracia, cujas raízes estejam nas organizações de base da sociedade e cujas decisões sejam tomadas pelas maiorias”.

Segundo o orador, a “retomada” desses princípios “há de ser conduzida pela política e não pela via administrativa”. E impõe mudanças: “Organizativas, formativas, de atitudes e culturais, necessárias para reatar com movimentos sociais, juventude, intelectuais, organizações da sociedade – todos inicialmente representados em nossas instâncias e hoje alheios, indiferentes ou, até, hostis em virtude de alguns erros políticos cometidos nesta trajetória de quase 35 anos”.

O ato político do partido está sendo realizado neste momento no Centro de Convenções Minas Centro, em Belo Horizonte. Terá a presença da presidenta Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também faz parte da mesa o presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica.

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