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Vannuchi: ativismo político de ministro do STF lesa a democracia

Para analista político da Rádio Brasil Atual, enquanto algumas atitudes de ministros do STF, como Gilmar Mendes, ganham destaque na imprensa, outras são relegadas ao esquecimento

Fábio Rodrigues Pozzebom/ABr

Vannuchi: ‘Por que não se ouve mais falar de Demóstenes Torres? E de suas relações com Gilmar Mendes?’

São Paulo – “De um ministro do Supremo Tribunal Federal se espera conduta ética impecável, rigor jurídico acima de qualquer inclinação política, partidária, eleitoral, autocontrole e seriedade, se espera que seja discreto, reservado.” A crítica do cientista político Paulo Vannuchi, em seu comentário de hoje (17) na Rádio Brasil Atual, é endereçada aos ministros do STF, Joaquim Barbosa, presidente da Corte, e Gilmar Mendes.

Vannuchi lembra que o também integrante do Supremo Celso de Mello foi “duro” no processo do chamado mensalão, geralmente com voto semelhante ao de Gilmar Mendes, mas sem deixar de ser uma pessoa discreta e contida em seu espaço de Poder Judiciário.

“O ativismo político de um ministro do STF é um dano que causa lesão à própria vida democrática. Por quê? Porque quem é membro do Supremo ele também é membro do único dos três poderes que não passa pelo voto popular. E é bom que haja esse poder. Por exemplo, se parte da sociedade começa a gritar ‘morte aos adolescentes infratores’, ‘morte aos homossexuais’, ‘morte aos judeus’, ‘morte aos negros’, ‘morte aos comunistas’, é fundamental haver um poder com equilíbrio para fazer cumprir a Constituição.”

Para o analista, Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa assumem posições opostas às necessárias a um magistrado. Ele lembra que duas semanas atrás, em Ribeirão Preto, Lula teria mandado um recado a Barbosa, frequentemente apontado como potencial postulante a disputar a Presidência da República, ou uma cadeira no Senado. Na ocasião, sem citar nome, o ex-presidente disse: “Quer fazer política, mostre a cara, desça do pedestal, e venha aqui para a arena, para o ringue, para o campo. Daí vamos nos entender democraticamente.”

Na última semana, também sem citar nomes, o ministro do STF Ricardo Lewandowski evitou criticar os atropelos de Barbosa, que ao retornar de férias, este mês, revogou uma série de decisões tomadas por seu desafeto público. Ainda assim, não se esquivou de alfinetar o presidente da Corte, que o criticou por meio de uma série de entrevistas: “Juízes apenas se pronunciam pelos autos.”

De acordo com Vannuchi, Gilmar Mendes reproduz sua habitual atuação partidarizada ao acusar de lavagem de dinheiro os doadores de recursos para o pagamento de multas dos petistas condenados no “mensalão”. “O sujeito ficar no Supremo fazendo política enquanto finge que está fazendo Justiça, cumprindo a lei, provoca danos gravíssimos à vida democrática.”

O jornalista critica também a conivência da imprensa com Gilmar, ao dar vazão e destaque a suas intervenções politizadas, ao mesmo tempo em trata com discrição ou omissão episódios como a relação com o ex-senador Demóstenes Torres, a concessão de habeas corpus em tempo recorde para livrar da prisão o banqueiro Daniel Dantas ou a participação societária em um instituto privado que celebra contratos milionários com instituições públicas.

“Aliás, eu chamo aqui atenção dos colegas jornalistas: vocês se lembram de Demóstenes Torres? Por que ninguém mais fala nessa pessoa? Parece que faz 20 anos que aconteceu um episódio com Marconi Perillo, Carlinhos Cachoeira, Demóstenes Torres, e aparecia envolvido com Demóstenes o próprio Gilmar. Isso é jornalismo? Pegar matérias que são negativas para os seus aliados políticos, e esconder, eliminar na memória?”

Ouça aqui a íntegra do comentário na Rádio Brasil Atual

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