Cenário eleitoral está indefinido em São Paulo, diz sociólogo

Gustavo Venturi considera cedo para avaliar que Russomanno está consolidado, mas a alta rejeição de Serra favorece o político do PRB (Fotos: arquivo Folhapress) São Paulo – As pesquisas eleitorais […]

Gustavo Venturi considera cedo para avaliar que Russomanno está consolidado, mas a alta rejeição de Serra favorece o político do PRB (Fotos: arquivo Folhapress)

São Paulo – As pesquisas eleitorais divulgadas na semana passada, com resultados parecidos de Datafolha e Ibope quanto ao movimento de ascensão de Fernando Haddad (PT), a aparente consolidação de Celso Russomanno (PRB) e a queda acentuada de José Serra (PSDB) podem levar a conclusões precipitadas. 

Os números mostrariam, segundo alguns analistas, a suposta tendência de se configurar um segundo turno entre Hadadd e Russomanno. Mas o sociólogo Gustavo Venturi, assessor “ad-hoc” do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, diz que muita coisa ainda pode ocorrer. 

“Estamos em uma situação inicial, com um mês de campanha pela frente”, diz. “É cedo para considerar que Russomanno está consolidado. Mas, por outro lado, com a alta de rejeição de Serra, pode acontecer, por exemplo, em decorrência disso, um movimento dos eleitores tucanos, conservadores mais convictos, antipetistas, avaliarem que Serra não tem mais chance e descarregarem os votos em Russomanno. Nesse caso, aí sim, poderíamos apontar a consolidação do candidato do PRB.”

De acordo com Venturi, nesse contexto, um cenário possível seria Russomanno ganhar alguns votos de Serra e perder outros para Haddad. As possibilidades de Haddad ir para o segundo turno são grandes. Aproximadamente metade do eleitorado de São Paulo tem preferência política. Dessa parcela, cerca de 50%, ou um quarto do total, vota no PT. “Há margem de crescimento para o petista. Mesmo em situações em que o candidato do PT é derrotado, como Marta Suplicy em 2008, há identificação de setores da periferia com a candidatura do partido”. 

Há uma semana a campanha do ex-ministro da Educação recebeu o reforço de Marta Suplicy. A ex-prefeita tem grande popularidade nas periferias, especialmente das zonas sul e leste da cidade. O perfil de Haddad tem também um apelo diferente de outras candidaturas petistas e pode atrair setores da classe média ou mais esclarecidos do PSDB.

Porém, apesar da imprevisibilidade, um dos temas principais da disputa eleitoral já é como será o embate no segundo turno. “Parece certo que haverá segundo turno, já que há uma divisão muito grande do eleitorado”, entende o pesquisador. Para Venturi, há outro dado a favor da candidatura de Haddad: “É muito pouco provável que dois candidatos mais conservadores, Serra e Russomanno, passem ao segundo turno, até pela votação que os candidatos petistas historicamente têm na cidade. O histórico do PT em São Paulo e a presença forte de Lula são fatores que tornam essa possibilidade improvável”, lembra Venturi.

Nesse quadro, quem seria o adversário de Haddad? “Na medida em que Serra perde fôlego e Russomanno se beneficia disso, pode haver um incremento dos investimentos descarregados na campanha do candidato do PR. Mas não se pode descartar que mais à frente Serra recupere votos que migaram para Russomanno”, avalia. “Por sua vez, nas pesquisas mais recentes Russomanno ainda conta com eleitores simpatizantes de Haddad.”

Se a tendência de Haddad ir para o segundo turno se confirmar, o sociólogo entende que a disputa seria mais equilibrada e menos favorável ao petista contra Russomanno, que capitalizaria os votos anti-PT, majoritários entre os eleitores de Serra. A rejeição do candidato do PRB é ainda pequena, comparada ao enorme contingente de eleitores que não votariam no tucano de jeito nenhum. 

Fora a rejeição e a queda nas pesquisas, Serra tem ainda contra si o fator PSDB: algumas lideranças tucanas, disfarçada ou explicitamente, já debandaram do barco de Serra, o que reflete o quadro de divisão estabelecido desde o início da candidatura tucana. Há duas semanas, por exemplo, o presidente do diretório zonal do PSDB do Jabaquara, Milton Kamiya, declarou que seu voto vai para Gabriel Chalita (PMDB).

Já o fator “mensalão” não parece estar até o momento influindo no pleito da capital paulista. “Se o julgamento já tivesse chegado ao final, com resultado negativo para o PT, poderia neutralizar parte dos votos que Haddad tem a conquistar, considerando que ele faz uma campanha em que precisa se afirmar, ser conhecido.” Mas, para Venturi, o potencial prejuízo não é tão grande com o julgamento ainda em andamento.

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