‘O Brasil está aberto para as meninas’

Em entrevista à Revista do Brasil e à TVT, a ministra Tereza Campello (MDS) considera a presença feminina no governo Dilma Rousseff um grande ganho de valor social e cultural

Tereza: “Da liderança masculina, espera-se que seja decisivo e assertivo. Da mulher, esperam que seja meiguinha” (Foto: Augusto Coelho)

A ministra Tereza Campello, à frente do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), comanda nada menos que o programa mais importante para o governo da presidenta Dilma Rousseff. O Brasil sem Miséria, espécie de up grade do Bolsa Família, tem o desafio de localizar e atender, até o final de 2014, 16 milhões de brasileiros estatisticamente identificados como sobreviventes abaixo da linha de pobreza extrema. A ideia, mais que assegurar-lhes uma transferência de renda a ponto de bancar despesas básicas, é capacitá-los a encontrar um espaço no “novo Brasil de oportunidades” surgido nos últimos anos, da definição da ministra – com qualificação profissional e empreendedora e apropriação de seus direitos elementares de cidadãos.

Ao acreditar na própria capacidade de superar esse desafio – as metas iniciais vão sendo cumpridas, acredita ela – Tereza revela-se uma economista que não raciocina com a chamada “cabeça de planilha”, como certos estrategistas habituados a pensar com a cabeça do mercado. Ela é uma das dez mulheres a compor o estafe ministerial de Dilma. Com ela estão também Gleisi Hoffmann (Casa Civil), Ideli Salvatti (Relações Institucionais), Miriam Belchior (Planejamento),  Helena Chagas (Comunicação Social), Maria do Rosário (Direitos Humanos), Eleonora Menicucci (Políticas para Mulheres), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Ana de Hollanda (Cultura) e Luiza de Bairros (Igualdade Racial) – sem contar as também “poderosas” Graça Foster (Petrobras), Eliana Calmon (Conselho Nacional de Justiça) e Cármen Lúcia, recém-eleita para o posto de primeira presidenta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Tereza não tem sotaque feminista nem restringe a importância da presença das mulheres no governo a uma inflexão de gênero. Para ela, “não é porque é mulher que vai ser melhor”. A ministra observa, inclusive, que Lula foi um “excepcional presidente”, responsável por uma “transformação grande” nas políticas públicas para inclusão de mulheres. Mas a ministra considera o “efeito demonstração” desse empoderamento feminino um fenômeno inexorável para a emancipação das mulheres, como se pode ler nas respostas a seguir: 

Como a senhora vê o crescimento da participação feminina no governo?

Acho que o principal ganho que nós temos com a presença de mulheres no primeiro escalão, e não é só no primeiro escalão, é um ganho de efeito demonstração. A presidenta ser mulher mostra para a cultura, para o conjunto das meninas do Brasil, que é possível uma mulher ser presidenta da República, ser eficiente, não que vá ser melhor porque é mulher. Lula foi um excepcional presidente, foi ele quem fez uma transformação grande nas políticas públicas para inclusão de mulheres. Foi ele quem decidiu que as mulheres recebessem o cartão do Bolsa Família, que quando se faz uma regularização fundiária no campo as mulheres tivessem o seu nome na escritura. Nós tivemos um conjunto de ganhos de política de gênero ao longo desses últimos oito anos implementado por um presidente homem. Qual é o grande ganho de termos a presidenta Dilma? É mostrar que é possível, que ela é eficiente, que sabe fazer, que sabe conduzir um ministério com homens e mulheres, que sabe comandar um país inteiro e que a gente pode se orgulhar dela.

E sem perder a ternura? Ou de vez em quando perde?

(Risos) Eu acho que tem essa questão. A gente é cobrada, se uma mulher é mais decisiva e assertiva no poder, as pessoas ficam surpresas. Se um homem é mais decisivo e assertivo, é isso que esperam dele. Se é uma mulher, as pessoas esperam  que ela seja sempre meiguinha. Muitas vezes, para administrar uma rede de serviços públicos no Brasil, você tem de tomar decisões que são difíceis. Acho que esta que é a grande surpresa: uma mulher poder ser eleita e poder conduzir um país gigantesco e continental. E isso vale também para as ministras mulheres. Nós estivemos no Rio Grande do Sul agora numa agenda técnica de trabalho. Era uma reunião com o governador Tarso Genro, com o prefeito José Fortunati, e quem conduzia era a secretária de Segurança Pública do Ministério da Justiça, Regina Miki. A representante da Força Aérea Brasileira era uma mulher, a secretária de Assistência Social era uma mulher, a maioria do segundo escalão presente à reunião era de mulheres. E eu acho que isso é exemplo: as meninas podem apostar e construir suas carreira, porque o Brasil está aberto para elas.

Na entrevista completa, que está na edição de março da Revista do Brasil e será exibida também pela TVT na próxima semana, a ministra Tereza Campello explica por que acredita que os programas sociais estão transformando a economia do país e em que estratégias se baseia a tarefa de retirar da pobreza extrema 16 milhões de brasileiros nos próximo três anos.

Leia também

Últimas notícias