Cerco

Steve Bannon, colaborador de Donald Trump e do bolsonarismo, se entrega à Justiça em Nova York

Notícia é desagradável para Jair Bolsonaro e família, que construíram laços com o ex-estrategista do republicano que tentou dar um golpe no Capitólio

Reprodução/Youtube
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Bannon teria ficado com US$ 1 milhão dos US$ 25 milhões arrecadados para construir o muro na fronteira com o México

São Paulo – Steve Bannon, assessor do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, se entregou na manhã desta quinta-feira (8) às autoridades em Nova York. Ele está sendo indiciado por lavagem de dinheiro, conspiração e esquema de fraude. Bannon teria ficado com US$ 1 milhão (“despesas pessoais”) de US$ 25 milhões arrecadados para construir o muro na fronteira com o México. A obra foi promessa de Trump em sua campanha de 2016. O estrategista tem também laços com o bolsonarismo no Brasil.

Dois anos atrás, no final de seu mandato, Donald Trump perdoou Bannon de acusações de fraude. Mas o “perdão” é federal e não tem validade em âmbito estadual. Segundo a CNN, a promotoria de Manhattan iniciou no ano passado, após o perdão presidencial, uma investigação criminal sobre a campanha de arrecadação de fundos coletivos We Build the Wall (Vamos Construir o Muro), de Bannon.

De acordo com os promotores, os doadores do fundo foram enganados e pensaram que todo o dinheiro seria direcionado ao esforço de construção. Na terça-feira (6), Bannon disse sofrer “acusações falsas”, que integram “nada mais do que uma armação político-partidária do sistema de justiça criminal”.

“Tenho orgulho de ser uma voz de liderança na proteção de nossas fronteiras. E na construção de um muro para manter nosso país a salvo de drogas e criminosos violentos”, disse. “Eles estão vindo atrás de todos nós, não apenas do presidente Trump e eu mesmo. Nunca vou parar de lutar. Na verdade, eu ainda não comecei a lutar. Eles terão que me matar primeiro”, afirma ainda.

Em julho, a Justiça norte-americana condenou Bannon por desacato à CPI que investiga invasão do Capitólio, em janeiro do ano passado. O colaborador de Trump se recusou a testemunhar ou fornecer documentos ao comitê da Câmara dos Deputados.

Bannon e o clã Bolsonaro

O cerco da Justiça a Steve Bannon – espécie de guru e também colaborador de Jair Bolsonaro e sua família – não é recente. Em 2020, o jornal espanhol El País noticiava que a acusação de fraude contra Steve Bannon, e desvio de dinheiro da campanha, também uma notícia desagradável para o Planalto de Jair Bolsonaro, que construiu laços com o ex-estrategista de Donald Trump”.

Na matéria “Os laços do clã Bolsonaro com Steve Bannon”, o jornal conta a história do relacionamento entre Bannon, o presidente brasileiro, seu filho 03, Eduardo Bolsonaro, e o “guru” brasileiro do clã, Olavo de Carvalho.

Bannon nunca admitiu claramente ter prestado serviços à campanha de Bolsonaro. Ele prestava uma “consultoria informal” à família e sempre negou ter participação no esquema da Cambridge Analítica, que se apropriou de dados de 50 milhões de perfis do Facebook para usar a favor de Trump.

No passado, o “estrategista” fundou um site de extrema direita (Breitbart News) conhecido por espalhar fake news e racista, que inspirou a competente atuação digital do bolsonarismo no Brasil.

Eduardo, o filho 03, e Bannon

Segundo El País, “às vésperas da campanha eleitoral (de 2018 no Brasil), Eduardo conheceu pessoalmente o estrategista que ajudou a levar Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. O encontro aconteceu em Nova York”, conta a publicação.

“Para retratar o tom da conversa, o filho do então presidenciável usou a retórica de ojeriza à esquerda, repetida meses depois no aniversário de Bannon, ao resumir que se tratava de ‘uma união de forças contra o marxismo cultural’”, acrescenta a reportagem.