Saúde de Chávez altera ambiente pré-eleição regional na Venezuela

População promete participação massiva e oposição ameniza críticas ao presidente venezuelano

Caracas – No momento em que a Venezuela vivia novamente uma campanha eleitoral, desta vez para votar em governadores e deputados estaduais, o país foi sacudido com o anúncio da remissão do câncer do presidente Hugo Chávez. Se antes nos jornais e nas ruas só se falava dos candidatos chavistas e opositores, agora é a saúde do líder venezuelano que protagoniza o debate interno.

Chávez foi submetido a uma cirurgia na terça-feira (11) em Havana, após exames revelarem que células malignas haviam reaparecido. O presidente, de 54 anos, foi reeleito para um terceiro mandato em 7 de outubro deste ano, após se recuperar de um câncer diagnosticado em 2011. Essa foi a quarta vez à qual o presidente foi submetido a uma intervenção cirúrgica devido à doença.

Logo após Chávez anunciar que precisaria se ausentar do país para o tratamento, missas e cultos ecumênicos foram realizados em todo o país. Na Praça Simón Bolívar, em Caracas, os seguidores do presidente rezavam por sua pronta recuperação, mas também comentavam a proximidade das eleições regionais. “Mais que nunca, iremos todos às urnas votar por nossos candidatos. Seguiremos as palavras do nosso comandante”, disse Pio Carhuarupay, de 51 anos, nascido no Peru, mas cidadão venezuelano há 30 anos.

Apesar da escassez de pesquisas de opinião, os poucos institutos de pesquisa apontam uma vantagem do oficialismo. Ontem (12) a empresa Hinterlaces, por exemplo, apontou que no Estado de Miranda o ex-vice-presidente Elias Jaua teria 49% das intenções de voto contra 47% de Henrique Capriles, atual governador e rival de Chávez na eleição presidencial de 7 de outubro.

Para o analista político venezuelano Alberto Aranguibel, a tendência é a de que o chavismo se beneficie do atual momento do país. “Levando em conta que o venezuelano já está bastante acostumado a participar de processos eleitorais e democráticos, considero que o comparecimento às urnas será massivo. E isso sempre contou a favor do chavismo, historicamente”, afirmou.

De acordo com Aranguibel, os eleitores, principalmente chavistas, vinham encarando as eleições regionais como uma espécie de continuação da decisão presidencial, que mobilizou o país por meses em uma campanha intensa. “Na Venezuela, a oposição ainda não conseguiu se mobilizar com a mesma força que o chavismo. Agora, com a doença do presidente, certos setores – minoritários – terão mais dificuldade para atacá-lo como faziam antes. Chávez sempre foi o alvo, mas agora eles terão cautela em suas declarações”, argumentou.

Oposição

Logo após o anúncio do retorno do câncer, a oposição afirmou ser uma alternativa “oportuna” caso uma nova eleição presidencial precise ser convocada no país. “Somos uma alternativa séria e preparada para cumprir com sua responsabilidade. A Constituição nos dá segurança para seguir adiante”, disse o secretário-geral da MUD (Mesa da Unidade Democrática), Ramón Guillermo Aveledo, em entrevista à emissora venezuelana Globovisión.

Outros, como a deputada oposicionista María Corina Machado, também preferiram não mencionar Chávez em declarações sobre as eleições regionais. “Estamos trabalhando com todos os cenários possíveis, mas uma coisa está clara: é o povo venezuelano, e não Chávez, que vai decidir o seu futuro”, afirmou à Reuters.

Já Capriles fez duras críticas à indicação de Maduro como sucessor de Chávez em um novo pleito presidencial. “Que fique bem claro: na Venezuela não há sucessão. Isto não é Cuba, nem uma monarquia onde há um rei e então sobe ao trono aquele que foi designado pelo rei. Não. Aqui, na Venezuela, quando uma pessoa se afasta de um posto, a última palavra sempre será do nosso povo”, disse o ex-candidato presidencial.

A Constituição da Venezuela estabelece que, caso o presidente não possa comparecer à posse – marcada para 10 de janeiro –, deverão ser realizadas novas eleições em um período de 30 dias e, enquanto isso, o presidente da Assembleia Nacional assumirá o cargo. O atual líder do parlamento venezuelano é Diosdado Cabello, um dos políticos mais próximos a Chávez. Se a ausência ocorrer nos primeiros quatro anos de mandato, que soma seis anos, também serão convocadas eleições, mas o vice-presidente, Nicolás Maduro, “indicado” por Chávez para sucedê-lo, exercerá por 90 dias o cargo.

No domingo, os venezuelanos elegem 23 governadores, 229 deputados estaduais e oito representantes indígenas. Atualmente, a oposição domina os governos de vários estados dentre os mais importantes, como Zulia (2,3 milhões de eleitores), Miranda (1,9 milhões), Carabobo (1,3 milhões) e Táchira (826 mil).