Diplomacia

Patriota repudia atitude ‘arrogante’ de países que restringiram viagem de Evo Morales

De acordo com o Itamaraty, a não autorização de sobrevoo causou 'surpresa' no ministro brasileiro porque 'não se coaduna com as práticas internacionais consagradas de relações entre os Estados'

Helmut Fohringer/EFE

Morales foi impedido por Espanha, Portugal e França de seguir viagem de Moscou a La Paz

São Paulo – O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, conversou por telefone na tarde de hoje (3) com o chanceler da Bolívia, David Choquehuanca, para expressar seu “repúdio” ao que considerou uma atitude “arrogante” dos países europeus que fecharam seu espaço aéreo para o avião do presidente Evo Morales nesta madrugada. Impedido de atravessar os céus de França, Itália, Espanha e Portugal, o líder boliviano foi obrigado a fazer uma escala forçada em Viena, na Áustria, onde permaneceu por 13 horas.

De acordo com a assessoria de imprensa do Itamaraty, a não autorização de sobrevoo causou “surpresa” em Patriota porque “não se coaduna com as práticas internacionais consagradas de relações entre os Estados”. O ministro também anunciou ao chanceler boliviano que o Palácio do Planalto emitiria uma nota em breve sobre o tema – o que efetivamente ocorreu por volta das 16h – e disse que o Brasil atuará conjuntamente com outros países da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para deliberar a respeito do tema. Ao final, continua o Itamaraty, Choquehuanca agradeceu o apoio do governo brasileiro.

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O Ministério de Relações Exteriores recusou a ideia de que demorou a condenar a atitude dos países europeus que impediram a passagem do presidente boliviano. Munidos da suspeita de que Evo trazia na bagagem o ex-espião norte-americano Edward Snowden, França, Itália, Espanha e Portugal não deixaram o avião boliviano cruzar seus espaços aéreos. Snowden está sendo caçado pela Casa Branca por ter divulgado informações confidenciais sobre o sistema de vigilância dos Estados Unidos. O país monitora as atividades de pessoas dentro e fora do país, vasculhando chamadas telefônicas e seus rastros na internet, em prol da segurança nacional.

Enquanto os presidentes e chanceleres de Venezuela, Argentina, Uruguai e Equador reagiram pública e imediatamente à retenção de Evo Morales no aeroporto de Viena, na Áustria, as autoridades brasileiras se pronunciaram apenas na tarde de hoje – e de maneira reservada. A justificativa é que Antonio Patriota se encontrava na Ucrânia, cumprindo intensa agenda oficial com autoridades do país, e só depois tomou avião para regressar ao Brasil. A ligação ao colega boliviano foi realizada a partir de Haia, na Holanda, durante escala do ministro. Nesse interrégno, o Itamaraty diz ter mobilizado sua rede de diplomatas para apurar o que realmente ocorreu e tomar pé da situação.