Diplomacia

Após 15 meses em embaixada, senador boliviano foge para o Brasil

Em nota, chancelaria de Evo Morales afirma que Roger Pinto Molina é agora um foragido e informa que vai acionar todos os meios legais para prendê-lo. Itamaraty não se pronuncia

Martín Alipaz/EFE

A fuga de Pinto Molina coloca o Brasil em uma saia-justa diplomática com o governo de Evo Morales

São Paulo – O senador boliviano Roger Pinto Molina fugiu de La Paz e está no Brasil após 15 meses na embaixada brasileira naquela capital. Acusado em mais de 20 processos, em um deles com condenação em primeira instância, por corrupção, associação ao narcotráfico e um massacre de camponeses em 2008, o foragido estaria em Corumbá, segundo informações obtidas pela Agência EFE.

“Já está no Brasil e nas próximas 48 horas convocará uma entrevista coletiva, que possivelmente será em Brasília”, disse à Efe o advogado de Pinto, o brasileiro Fernando Tibúrcio, que não quis dar detalhes sobre a saída do senador por “razões de segurança”. A família dele estaria em Brasiléia, no Acre, e se encontraria nas próximas horas com o senador, que entrou no Brasil pela fronteira do Mato Grosso do Sul.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores da Bolívia confirmou a informação, atribuída ao Itamaraty, e recordou que há quatro mandatos que proibiam a saída de Pinto Molina do país. A chancelaria acusa o parlamentar se ser agora um foragido. “Portanto, serão ativadas todas as ações ilegais que correspondam, neste caso, tanto dentro do direito internacional, dos convênios bilaterais, como no marco do direito interno boliviano”, informou.

Já o Itamaraty ainda não se pronunciou. Fontes diplomáticas disseram à Efe que o governo brasileiro já foi informado sobre o assunto e que houve uma reunião de emergência na qual participaram quadros do alto escalão, como o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, sobre a qual nada foi informado.

Pinto Molina se apresentou na embaixada brasileira em La Paz no dia 28 de maio de 2012. Dez dias depois de ter sido recebido na embaixada, o governo da presidenta Dilma Rousseff lhe outorgou a condição de asilado político, mas a Bolívia se negou a conceder-lhe o salvo-conduto necessário para viajar ao Brasil, sob a alegação que ele deve responder a diversas acusações de corrupção.

Em junho passado o parlamentar foi condenado a um ano de prisão por um tribunal boliviano que o declarou culpado de danos econômicos ao Estado calculados em cerca de US$ 1,7 milhão.

O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, que tinha previsto viajar neste sábado para a Finlândia para uma visita oficial, disse em junho que o governo de Dilma “garantia” a “segurança” do senador boliviano. Ele também explicou que o Brasil prosseguia com “negociações confidenciais” com as autoridades bolivianas para tentar “solucionar” a situação de Pinto.

Algumas das fontes diplomáticas consultadas pela Efe disseram que a Bolívia prepara uma “resposta duríssima” para a saída de Pinto da embaixada e que em La Paz se considera que houve uma “ruptura” da “confiança” entre os governos.