África

OMS vê descontrole em surto de ebola e sugere restrições de viagens

Segundo diretora, surto é o maior da história de quase quatro décadas da doença, em número de casos e de mortes, e há risco de propagação. Ministro da Saúde diz que brasileiros não devem temer

OMS

Vírus é transmitido por contacto direto com o sangue, líquidos ou tecidos de pessoas ou animais infectados

Brasília – A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Chan, disse ontem (1º) que o surto do vírus ebola está se expandindo mais rapidamente do que os esforços para controlá-lo. “Se a situação continuar a piorar, as consequências podem ser catastróficas em termos de perda de vidas e também socioeconômicos, e há riscos de propagação para outros países”, alertou.

As declarações foram feitas em pronunciamento na capital da Guiné, Conacri, em reunião de emergência com os presidentes da Guiné, da Libéria e de Serra Leoa para elaboração de um plano de combate à epidemia. Segundo a diretora, este surto é de longe o maior da história de quase quatro décadas da doença, tanto em número de casos (1.323), quanto de mortes registradas (729).

A diretora da OMS adiantou que alguns países terão que impor restrições de locomoção e para reuniões públicas, dependendo da situação epidemiológica. “Correntes de transmissão podem ser quebradas”, ponderou. Para ela, a reunião de hoje deve marcar um ponto de mudança na resposta ao surto. A OMS já havia anunciado apoio financeiro de US$100 milhões para combater a epidemia.

Margaret destacou que a doença está ocorrendo em áreas com maior movimento populacional, e tem demonstrado sua capacidade de se espalhar por meio de viagens aéreas. Casos estão ocorrendo em áreas rurais de difícil acesso, mas também em capitais densamente povoadas.

Além disso, o surto está afetando um grande número de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, um dos recursos mais importantes para conter um surto. Até o momento, mais de 60 profissionais de saúde morreram depois de trabalhar com pacientes infectados pelo vírus ebola.

Para Margaret Chan, apesar da inexistência de uma vacina ou terapia curativa, os surtos de ebola podem ser contidos com a detecção precoce e isolamento dos casos, com o rastreio dos infectados e procedimentos rigorosos de controle de infecção. Ela destacou que o início rápido do tratamento aumenta as chances de sobrevivência.

O vírus ebola é transmitido por contacto direto com o sangue, líquidos ou tecidos de pessoas ou animais infectados. Os principais sintomas são hemorragias, vômitos e diarreias. A taxa de mortalidade da doença varia entre 25 e 90%. Esta é a primeira vez que se identifica e se confirma uma epidemia de ebola na África Ocidental, até agora sempre registadas em países da África Central.

Vigilância

O ministro da Saúde, Arthur Chioro, disse que os fiscais de vigilância sanitária nos portos, aeroportos e fronteiras do país estão treinados para identificar, caso chegue ao país, qualquer pessoa com suspeita de contágio pelo vírus ebola. Segundo ele, no entanto, não há recomendação específica nem risco de transmissão global do vírus.

“Queremos insistir: não há recomendação e não há risco de transmissão global, segundo a Organização Mundial da Saúde. Por enquanto, não há recomendação de restrição de viagens. Os casos, em sua maioria, se localizam em pequenas localidades rurais”, afirmou o ministro, ressaltando que os profissionais da área de saúde recebem diariamente os informes com recomendações da OMS, que acompanha não apenas o ebola, mas todas as doenças transmissíveis coletivamente.

Chioro explicou que a epidemia de ebola na Libéria, em Serra Leoa e na Guiné tem relação com as situações de conflito nesses países, com dificuldade das equipes de chegar aos pacientes e até com tradições culturais desses países, como os rituais fúnebres e outras crenças, como a recusa em lacrar os caixões, o que propicia o contato com secreções de cadáveres.

O ministro disse que os brasileiros que viajam para os países afetados pela epidemia devem seguir todas as recomendações das autoridades locais, mas que não há, por enquanto, nenhuma orientação para a interrupção de viagens ou voos. “É importante que tomem os cuidados que chamamos de biossegurança: não entrar em contato com secreção, com vômito”, explicou.

Com informações da OMS e da Agência Lusa
e de Aline Leal e Danilo Macedo, da Agência Brasil