Máscaras de ‘V de Vingança’ são vendidas em protestos opositores

Marina Terra/Opera Mundi Vendedor oferece os adereços em Sabana Grande, bairro próximo ao centro de Chacao Opera Mundi – “Antes custavam 50, agora aumentei para 150 bolívares por causa da […]

Marina Terra/Opera Mundi

Vendedor oferece os adereços em Sabana Grande, bairro próximo ao centro de Chacao

Opera Mundi – “Antes custavam 50, agora aumentei para 150 bolívares por causa da demanda”, avisa Joel Santiago, enquanto segura nas mãos dezenas de máscaras do personagem principal de “V de Vingança”, série de quadrinhos criada nos anos 80 pelo artista britânico Alan Moore e que se tornou popular em protestos ao redor do mundo.

Joel conta que todos os dias, pouco após a eclosão de uma onda de violência na segunda semana de fevereiro, vende cerca de 10 máscaras por dia entre os manifestantes que se reúnem na Praça França, em Altamira, zona do município de Chacao.

O local é conhecido por reunir protestos opositores. De fato, durante a paralisação petroleira entre o final de 2002 e início de 2003, quando setores da oposição pressionavam pela saída do presidente Hugo Chávez – alvo de uma tentativa de golpe em abril de 2002 –, um grupo de militares se pronunciou contra o governo ali.

A praça se transformou em um centro de protestos, em sua maioria, violentos. Pelo menos quatro pessoas morreram, sendo três delas assassinadas pelo português João Gouveia, acusado pelo chavismo de ser um agente opositor.

“A maioria (que compra) é de jovens, opositores, que chegam por volta das 16h aqui. Assim que vendo algumas vou logo embora, porque é quando começa a confusão”, afirma. De fato, às 18h da sexta-feira (28/2), a GNB (Guarda Nacional Bolivariana) começou a lançar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar um grupo de jovens que interrompia o trânsito das avenidas Francisco de Miranda e San Juan Bosco. (Pesquisa aponta que mais de 80% da população reprova o bloqueio de ruas por manifestantes.)

Usando lixo, pedaços de concreto e madeira, os manifestantes – em sua maioria com o rosto coberto ou com uma camiseta ou máscaras – formavam barricadas desde o início da tarde. Conforme as horas foram passando, uma clima de tensão foi tomando conta do lugar. Perto do início da noite, a GNB começou a agir, provocando muita correria e pânico.

De acordo com o sindicato dos jornalistas local, 41 manifestantes da oposição, entre eles oito estrangeiros e jornalistas, foram detidos. Já segundo o governo, os estrangeiros seriam pessoas procuradas por “terrorismo internacional”.

Na manifestação de sábado, em Altamira, a fotógrafa italiana Francesca Commi, do jornal local El Nacional, foi presa e, de acordo com o consulado italiano, corre o risco de ser deportada. O jornalista norte-americano Andrew Rosati, colaborador do Miami Herald, foi preso e solto cerca de meia hora depois.

Desde 12 de fevereiro, quando um protesto de estudantes opositores terminou com um saldo de três mortos e dezenas de feridos, a Venezuela vive episódios de violência em alguns estados, principalmente Táchira e Carabobo. De acordo com o governo, há distúrbios em 18 dos 335 municípios venezuelanos. Dezessete pessoas já foram mortas e há mais de 200 feridos.