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Desigualdade social no Paraguai é aprofundada pela política privatista de Cartes

Segundo a líder campesina, Magui Balbuena, governo paraguaio enriquece banqueiros, criadores de gado e produtores de soja, e comunidades tradacionais são abandonadas e reprimidas

Anistia Internacional

Avanço capital. Sem Terra lembram morte de trabalhadores em conflito agrário no interior do Paraguai.

São Paulo – A desigualdade social no Paraguai se aprofunda com as políticas privatistas adotadas pelo presidente Horácio Cartes e cada vez mais banqueiros, criadores de gado e produtores de soja, todos estrangeiros, tornam-se milionários. A denúncia foi feita pela líder campesina paraguaia Magui Balbuena, em debate sobre a industrialização e a primarização naquele país.

“(A indústria) está se desenvolvendo no Paraguai à revelia da maior parte da população, na qual se aumenta a distância entre os muito ricos e muito pobres. Todo o empreendimento do governo atual se realiza em benefício de poucos. Os bens naturais sempre foram conservados pelos povos originais e campesinos, mas depois que a econômica passou a nomeá-los de matérias primas, acabaram sendo explorados por empresas estrangeiras. Os resultados não chegam à população trabalhadora, os que se tornam milionários com os resultados são os poucos estrangeiros, como banqueiros, criadores de gado e produtores de soja.”

“Nesse contexto, que criminaliza a luta social, as comunidades são abandonadas e reprimidas, a população campesina é expulsa do território. O que se busca é aniquilar o campesinato para deixar o campo nas mãos do agronegócio. Que industrialização podemos falar sem uma reforma agrária? Esse é um debate que está longe da nossa realidade. No campo, milhares passam fome, sem a possibilidade de se desenvolver, e alcançar o bem-estar pelo seu esforço. Para que a industrialização, se as políticas neoliberais são voltadas à privatização, vender a matéria prima e não industrializar, por que termos os recursos de Itaipu, que poderia criar grandes indústrias”, conclui.

RBA
A campesina Magui Balbuena

A líder campesina faz uma menção história ao lembrar que, desde José Gaspar Rodríguez de Francia, que presidiu o Paraguai (de 1811 a 1840) na época da independência, o país nunca mais teve um governo patriota, que tivesse interesse pelo cidadão. Houve uma sucessão de governos que abriram as portas aos estrangeiros.

“Não se faz outra coisa além de impulsionar esse tipo de desenvolvimento elitista, favorável a uma hierarquia composta pelos ricos. Olhamos para trás e vemos em qual momento o Estado passou a ser protetor de interesses estrangeiros, contra os direitos dos cidadãos. Vimos na Guerra da Tríplice Aliança se instalar uma política de privatização e estrangeirização de nossas terras e recursos naturais. Vale lembrar a fala do atual presidente para que ‘usem e abusem do Paraguai, como uma mulher fácil’, essas são as ideias do presidente dos empresários e narcotraficantes.”

Magui afirma que, com o modelo de governo neoliberal, o sentimento de ânimo com a industrialização é falso. Para ela, a proposta requer um governo que antepõe os interesses da maioria trabalhadora, não com a lógica de abrir o Paraguai para empresas de outros países, por causa de baixos impostos e salários, mas um governo que impulsione políticas públicas, para o desenvolvimento nacional dentro do país.

“Sem uma política amigável com a natureza, o extrativismo vai nos levar ao caos em poucos anos. Nesse cenário, entende-se perfeitamente as lutas dos movimentos indígenas e organização campesina por defender os territórios e barrar os avanços dos transgênicos. Os campesinos paraguaios são exemplos de resistência. Um dos desafios é a produção e a prática da agroecologia e a soberania alimentar. A agroecologia está sendo discutida e está sendo levada às cidades, pois há quem questiona as lógicas dos supermercados e reivindicam a produção de hortas urbanas e relação sem intermediários. A soberania alimentar é uma alternativa sustentável e acompanhada por políticas públicas.”

Para a líder campesina, o contexto regional atravessa um momento duro, com conflitos sociais fundos, gerados pelo neoliberalismo, inclusive em governos progressistas. “Há perdas humanas e materiais. Entretanto, há outros projetos, outros modelos de integração, como a Aliança Bolivariana Para os Povos da América (Alba), que querem assumir os desafios a partir de uma integração dos países que possuem povos com horizonte de unidade. Em tudo isso, o movimento dos campesinos estão organizados para contribuir com seu grão de areia. Por isso continuaremos lutando por um governo progressista, que dignifique as lutas que defendem a soberania territorial, frente aos poderes estrageiros.”

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