contra retrocessos

Cristina convoca argentinos para criar ‘frente cidadã para defender direitos’

Ex-presidente argentina se apresentou à Justiça, onde é investigada por 'fraude contra a administração pública'; milhares de manifestantes se reuniram em sua defesa

Reprodução/página12

Cristina: ‘Não podemos permitir um retrocesso como o que vivemos em outras etapas históricas’

Opera Mundi – A ex-presidente argentina Cristina Kirchner se apresentou nesta quarta-feira (13) a um tribunal em Buenos Aires para prestar depoimento à Justiça, que a investiga por “fraude contra administração pública” junto ao ex-ministro de economia Axel Kicillof e ao ex-presidente do Banco Central Alejandro Vanoli por supostamente orientar o Banco Central argentino a vender dólares no mercado de futuros por um preço que causou prejuízo ao Estado.

Após prestar depoimento, Cristina se juntou a milhares de manifestantes, incluindo membros da coalizão Frente para a Vitória e ex-funcionários do governo de Cristina, e agradeceu o apoio dos que estavam no local. “Fiquem tranquilos. Podem me citar no processo mais 20 vezes, podem me prender, mas não poderão me calar e me impedir de estar com vocês”, discursou.

Ela sugeriu que a população argentina forme uma “frente cidadã” para defender as conquistas alcançadas na Argentina. “Não podemos permitir um retrocesso como o que vivemos em outras etapas históricas”, disse. Segundo Cristina, a frente deve pedir aos legisladores que representem a vontade dos seus eleitores. “Que esse Congresso, a que chamavam o ‘escritório de Cristina’, seja o escritório do povo”, afirmou.

Ela também afirmou que o governo de Mauricio Macri deve cumprir a vontade da população, a quem foi prometido “a cada dia estar um pouco melhor e mais feliz”. Cristina pediu que os argentinos avaliem como estavam antes de 10 de dezembro, quando encerrou seu mandato e Mauricio Macri tomou posse como presidente, e como vivem agora.

“Nunca vi tantas calamidades cometidas em 120 dias”, disse, em referência à desvalorização da moeda, aumento de preços e o reajuste das tarifas de serviços públicos ocorridos no atual governo.

Convocada pelo juiz Claudio Bonadio em fevereiro, Cristina compareceu ao tribunal acompanhada de seu advogado, Carlos Beraldi, e entregou seu depoimento por escrito. A ex-presidente se recusou a responder às perguntas do juiz e do promotor federal Eduardo Taiano.

Ela afirmou que as acusações que lhe estão sendo feitas não têm “o menor suporte jurídico e técnico” e fez duras críticas a Bonadio, a quem classificou como “arbitrário, parcial, orientado politicamente e não em quanto à política judicial”, acrescentando que “responder às perguntas não faria mais do que validar suas manifestas arbitrariedade, ilegalidade e incompetência técnica e profissional”.

Cristina publicou em seu perfil no Facebook a declaração entregue ao juiz. No texto, ela diz que seu envolvimento no processo de compra de dólares é uma tentativa da oposição de desqualificá-la, algo que ocorre contra governos populares. “Cada vez que um movimento político de caráter nacional e popular foi deposto ou finalizou seu mandato, as autoridades que o sucederam utilizaram de forma sistemática a desqualificação de seus dirigentes, atribuindo a eles a prática de crimes graves, sempre vinculados com abusos de poder, corrupção generalizada e ganhos ilícitos”.

Venda de dólares

Cristina é investigada em uma causa aberta pelo senador Federico Pinedo (PRO) e pelo deputado federal Mario Negri (UCR), ambos da aliança Cambiemos, do presidente Macri.

Originalmente, os denunciantes apontavam ao ex-presidente do Banco Central pela venda de dólar a futuro em agosto, setembro e outubro de 2015 a uma cotização inferior à que se pagou na data de vencimento dos contratos, em março deste ano. A alegação é de que a operação teria causado um prejuízo de 77 bilhões de pesos argentinos ao BC.

Por considerar que a decisão de Vanoli teria necessariamente contado com o aval de Cristina e do então ministro Kicillof, Bonadio decidiu incluir os dois na investigação.