Criminalização de ciganos europeus é preocupante e perigosa, alerta especialista da ONU

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Marcello Casal Jr/ABr

Estima-se que na Europa a população cigana, bastante discriminada, seja de cerca de 12 milhões de pessoas

Rio de Janeiro – “As recentes atividades de algumas autoridades nacionais no sentido de remover crianças sem aparência roma de famílias roma com base no seu alegado sequestro levou a uma cobertura sensacionalista por parte da mídia que tem sido perturbadora e pode resultar numa revolta perigosa contra indivíduos e comunidades roma. Algumas entidades e meios de comunicação parecem estar trabalhando com base no argumento de que os roma são ‘culpados até que se prove a sua inocência’.”

Oalertaé de Rita Izsák, especialista independente da ONU sobre questões dasminorias, citando o caso de uma jovem menina loira chamada Maria, encontrada vivendo num acampamento cigano – ou “roma”, designação que varia de acordo com a região no mundo –, na Grécia, o que motivou uma onda de reportagens contra este segmento da população.

“Foram feitas acusações desinformadas sobre como Maria foi roubada e abusada, mesmo antes de poder ter sido conduzida uma investigação meticulosa. As reportagens sugerem agora que, na sequência de testes de DNA, Maria é filha de país roma búlgaros que afirmaram ter deixado voluntariamente a menina com a família roma grega porque não tinham condições para cuidar dela. O casal grego roma permanece em custódia devido a acusações de sequestro”,alertoua relatora da ONU.

“Se as investigações vierem a concluir que Maria foi raptada por estes roma com quem viveu, então estes indivíduos certamente devem enfrentar a justiça e ser julgados à luz da lei”, disse Izsák. “No entanto, há muita gente acreditando em estereótipos de que todos os roma são criminosos por natureza. Se os indivíduos roma forem considerados culpados de um crime, este vai ser o crime desses mesmos indivíduos e não de toda a população roma.”

Aespecialistada ONU afirma que esta recente cobertura ameaça provocar uma “reação ainda mais furiosa” contra as comunidades roma acusadas de raptar crianças e que “já estão sendo sujeitas a ódios”. Em vários países, disse Izsák, famílias desesperadas com casos de crianças desaparecidas estão agora pedindo à polícia que investigue acampamentos roma para encontrar os seus entes queridos.

A relatora da ONU afirmou que as famílias roma veem os seus próprios filhos serem levados com base em noções simplistas fundamentadas na cor dos olhos e do cabelo de um cidadão roma. “Existem provas de atitudes inapropriadas e tendenciosas do ponto de vista étnico, conduzidas por algumas entidades e que devem cessar”, afirmou.

Ela lembrou um incidente recente na Irlanda, onde duas crianças loiras roma foram levadas dos seus pais e entregues apenas após os testes de DNA terem comprovado que eram, de fato, seus filhos. “(Este caso) é ilustrativo e deve ter sido angustiante para as famílias”, disse.

Durante gerações, as crianças roma têm sido levadas das suas famílias devido à pobreza ou pela suposição de que os pais roma, sendo pobres, não conseguem cuidar das suas crianças. Além disso, muitas crianças roma desaparecem ou sujeitam-se ao risco do tráfico ou da prostituição.

“A educação discriminatória para com os roma, a esterilização forçada de mulheres roma e o assassinato de indivíduos roma resultantes de ataques alimentados pelo ódio são apenas algumas das várias tragédias que os roma enfrentam e que raramente têm merecido cobertura midiática. Estima-se que na Europa a população roma seja de cerca de 12 milhões de pessoas, existindo um longo histórico de discriminação contra esta comunidade”, adicionou Izsák.

A relatora da ONU pediu aos meios de comunicação e comentaristas, principalmente “figuras políticas e dirigentes de partidos políticos”, que “se abstenham de generalizações perigosas relativamente à suposta criminalidade perpetuada pelos roma”.

“Esta cobertura irresponsável e retórica baseada no ódio irá apenas fomentar ainda mais a estigmatização e até mesmo a violência contra indivíduos e comunidades roma. Exorto os jornalistas que relatem estes assuntos de forma responsável. Neste momento de crise econômica e de desilusão, a última coisa de que necessitamos é promover um bode expiatório sobre aqueles que já são marginalizados”, concluiu.