Presidente e chanceler

Com visita de Olaf Scholz, Brasil retoma lugar de protagonista nas relações internacionais

Presidente Lula e chanceler alemão discutem agendas econômica e ambiental. Ao lado de Marina Silva, ministra germânica anuncia projetos para recuperação da Amazônia

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
A posse de Lula foi saudada pela Alemanha como a retomada da normalidade no Brasil

São Paulo – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe nesta segunda-feira (30), em Brasília, o primeiro-ministro da Alemanha, Olaf Scholz. As agendas econômica e ambiental estarão na ordem do dia no diálogo entre os dois líderes. Ambos devem conversar ainda sobre o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, que foi considerado inviável pela comunidade internacional enquanto durasse o governo Jair Bolsonaro, que em termos diplomáticos foi catastrófico.

A vitória de Lula nas eleições do ano passado foi saudada pela Alemanha como a retomada da normalidade no Brasil. Já no dia da posse do novo governo (1º de janeiro), o presidente germânico, Frank-Walter Steinmeier, anunciou 35 milhões de euros (R$ 199,3 milhões) para o Fundo Amazônia, mecanismo de captação de doações para projetos de preservação e fiscalização da floresta.

A agenda entre Lula e Scholz será oficialmente aberta às 15h30, de acordo com o site oficial da Presidência da República. Lula se reunirá antes com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Depois do encontro entre os líderes, eles receberão delegações empresariais de ambos os países. Lula e Scholz devem falar à imprensa em seguida. À noite participam de um jantar no Palácio Itamaraty.

Além de demonstrar apoio e de abordar a questão ambiental, os especialistas afirmam que há também interesses comerciais na visita de Scholz. Representantes do setor econômico alemão fazem parte da comitiva que vem ao Brasil. A Alemanha busca, principalmente, novos parceiros para a produção de hidrogênio verde.

Meio Ambiente

Nas relações bilaterais Brasil-Alemanha, o meio ambiente tem papel fundamental, inclusive pelo peso político dos Verdes entre o eleitorado alemão. A ministra brasileira do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, reuniu-se hoje com a ministra da Cooperação e Desenvolvimento Econômico da Alemanha, Svenja Schulze, em Brasília.

Ambas falaram à imprensa e Marina reforçou as acusações de crimes de lesa-pátria e lesa-humanidade contra as comunidades indígenas cometidos pelo governo de Bolsonaro. As ministras também anunciaram medidas que poderão ser implementadas ainda nos primeiros 100 dias do governo Lula, em grande parte com financiamento vindo da Alemanha. Totalizando cerca de 200 milhões de euros, os recursos irão para áreas sustentáveis. “Para já, disponibilizamos 30 milhões de euros”, disse a ministra alemã.

Brasil deixa de ser pária

A simples presença de Lula como chefe de Estado já tirou definitivamente o Brasil da condição de pária das relações internacionais, no qual Jair Bolsonaro colocou o país com sua política externa vergonhosa, simbolizada pelo terraplanista Ernesto Araújo.

Lula agradece às nações que ficaram ao lado da democracia e contra o ataque a Brasília

Em menos de um mês, desde a posse, o novo presidente brasileiro já se reuniu com representantes de 15 países. Já Bolsonaro, hoje virtualmente refugiado na Florida, encontrou-se com representantes de 31 nações em seus quatro anos de mandato, incluindo líderes da extrema direita mundial como Viktor Orbán (Hungria), Andrzej Duda (Polônia) e o ditatorial presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló.

Pior do que isso, em 2019 Bolsonaro se reuniu com o príncipe da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, acusado de mandar matar o jornalista Jamal Khashoggi dentro do consulado saudita em Istambul em 2018. Khashoggi foi não apenas assassinado como esquartejado.

A agenda de Lula com líderes mundiais é extensa. O presidente da França, Emmanuel Macron, deve ser o próximo a fechar uma visita oficial ao Brasil. O espanhol Pedro Sánchez pode ser o seguinte. Ambos receberam Lula ainda como pré-candidato, em novembro de 2021, quando o então ex-presidente fez um giro pela Europa. Lula tem viagem marcada para os Estados Unidos no dia 10, e se reunirá com o presidente Joe Biden. Em março irá à China e em abril, a Portugal, além de alguns países da África.

Longa história

A história das relações entre Brasil e Alemanha é antiga, vem desde o século 19, e tem forte caráter econômico. Os investimentos diretos dos alemães no Brasil giram em torno de 18 bilhões de euros (110 bilhões de reais). Segundo a rede Deutsche Welle, citando o banco central alemão (o Bundesbank), esse valor representa aproximadamente 5% do capital investido pelos alemães em todo o continente americano e quase 2% de todos os investimentos alemães diretos no exterior.

Informações do banco também dão conta de que 600 empresas alemãs estão atualmente em atividade no Brasil. O faturamento total delas antes da crise provocada pela pandemia era de 49 bilhões de euros (300 bilhões de reais), o que seria equivalente a 2% do gerado por todas empresas alemãs no exterior. 

No entanto, as relações andavam estremecidas há anos, considerando os quatro anos em que Bolsonaro esteve no poder, período em que o ex-presidente não recebeu nenhuma visita de um chanceler federal alemão, tampouco foi convidado para ir a Berlim, ao mesmo tempo que todas as cooperações estratégicas foram suspensas pelo governo alemão.

Agora, a visita do chanceler federal Olaf Scholz ao Brasil, é mais um sinal do interesse de um dos mais importantes países europeus voltou em recuperar os laços perdidos. É a segunda viagem de uma delegação da Alemanha ao país em menos de um mês, após a presença do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, que esteve pessoalmente na posse de Lula.

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