Preocupação internacional

ONU faz duras críticas aos ataques de Bolsonaro às urnas e à democracia

A Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU se disse também preocupada com a decisão do presidente brasileiro de convocar apoiadores para manifestações no 7 de setembro

Jean-Marc Ferré/UN Geneva
Jean-Marc Ferré/UN Geneva
A ONU também reforçou que está monitorando e analisando os discursos de ódio utilizados durante o processo eleitoral brasileiro

São Paulo – A chefe da comissão dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, condenou nesta quinta-feira (25) os ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) às urnas e ao Judiciário. Em sua última entrevista coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça – após anunciar em junho que não renovaria seu mandato à frente do cargo, a alta comissária dedicou longos minutos de sua fala para tecer duras críticas contra Bolsonaro, a quem destacou seu dever de garantir a democracia brasileira. 

Bachelet também afirmou estar alarmada com a decisão do mandatário de convocar seus apoiadores para manifestações no dia 7 de setembro. E descreveu estar “seriamente preocupada” com os informes de aumento da violência política, a manutenção do racismo estrutural e o encolhimento do espaço cívico. A ONU também reforçou que está monitorando e analisando os discursos de ódio utilizados durante o processo eleitoral brasileiro. 

“O presidente (Jair) Bolsonaro intensificou os ataques ao Judiciário e ao sistema eletrônico de voto, incluindo em um encontro com embaixadores em julho, o que gerou fortes reações. (…) E eu tenho que dizer, tendo sido já chefe de Estado, que um chefe de Estado deve respeitar outros poderes, o Judiciário, o Legislativo, e não ficar vociferando ataques contra outros, porque é essencial para um presidente da República assegurar a democracia. (…) E a democracia exige o respeito por outros poderes. (Atacá-los) não é boa decisão, especialmente por estar no meio de uma eleição”, advertiu Bachelet. 

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Declarações mais enfáticas

De acordo com o jornalista Jamil Chade, correspondente internacional do UOL, as declarações da chefe da ONU foram “as mais duras já feitas por uma liderança internacional contra o comportamento do presidente brasileiro”. As críticas, ainda segundo o colunista, expõe o que, há meses, já era a percepção internacional sobre Bolsonaro e seus ataques contra a democracia.

Ex-presidenta da Chile, Bachelet também acrescentou que “quando se é um candidato ou um presidente que é candidato, deve ser muito cuidadoso para garantir que haja a melhor condição possível para que as pessoas se sintam em segurança para ir votar”. A chefe da ONU ainda citou a morte do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda, assassinado em julho pelo policial bolsonarista Jorge Guaranho, em Foz do Iguaçu, no Paraná. 

“Um apoiador de Bolsonaro matou um apoiador de Lula. Não é que milhares de casos ocorreram. Mas esses casos não deveriam ocorrer. E quando um líder usa uma linguagem que pode ser usada na direção errada, isso pode ser muito ruim”. (….) Líderes precisam garantir que os países sejam capazes de progredir numa direção onde o diálogo, o respeito pelos outros exista. Isso é o que é a democracia. A possibilidade de que todos possam falar, discutir e defender suas posições, mas de forma respeitosa”, defendeu Bachelet. 

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