Brics decidem organizar banco de desenvolvimento e adotar moedas locais

Dilma Rousseff posa para foto junto com os Chefes de Estado do Brics, em Nova Délhi, Índia (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR) São Paulo – Brasil, Rússia, Índia, China e África […]

Dilma Rousseff posa para foto junto com os Chefes de Estado do Brics, em Nova Délhi, Índia (Foto: Roberto Stuckert Filho/PR)

São Paulo – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se empenharão para ter um banco de desenvolvimento específico para a região do Brics – sigla que identifica o grupo formado pelos cinco países. Técnicos das cinco nações formarão um grupo de estudos para organizar e montar a instituição financeira. Mas, antes de sua consolidação, a região vai negociar internamente com moedas locais. As decisões foram definidas nesta quinta-feira (29) em declaração conjunta assinada pela presidenta Dilma Rousseff e pelos presidentes Dmitri Medvedev (Rússia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul), além do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, no encerramento da 4ª Cúpula do Brics, em Nova Déli, na Índia.

A proposta de criação do banco de desenvolvimento foi apresentada pelo primeiro-ministro indiano. A ideia é que a nova instituição seja uma espécie de alternativa ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Os detalhes serão fixados pelo grupo de trabalho que organizará sua criação.

Os indianos argumentam que o objetivo é estabelecer um mecanismo que permita o financiamento de projetos exclusivamente nos países em desenvolvimento. A presidência da instituição deve ser rotativa entre os cinco integrantes do Brics. Paralelamente, os líderes presentes aos debates deverão reiterar a defesa da ampliação do FMI.

Segundo Dilma, os países do Brics mostram que é possível crescer economicamente, distribuindo renda e gerando empregos. Ela elogiou a iniciativa conjunta de passar a adotar moedas locais nas negociações internas do bloco. “Os países do Brics são um elemento dinâmico no comércio internacional”, disse, que classificou a iniciativa de cria o banco interno de desenvolvimento como “um indício positivo”.

Para os negociadores brasileiros que compõem a comitiva presidencial, o processo de criação do banco ocorrerá a longo prazo, pois será necessário definir uma série de aspectos, como os termos de referência, a estrutura do organismo, como será integralizado o capital e as práticas de comércio bilateral e multilateral.

Apelo internacional

Em discurso de 14 minutos ao final das reuniões de trabalho durante a quinta-feira, que encerraram a 4ª Cúpula do Brics, a presidenta apelou para que a comunidade internacional passe a respeitar e a valorizar mais os países que integram o grupo. Ela lembrou que cinco países serão responsáveis por 56% da economia do mundo, de acordo com previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI). Dilma condenou o protecionismo e defendeu a busca do crescimento econômico equilibrado em meio à crise atual e seus efeitos.

“Os Brics tornaram-se o mais importante motor da economia mundial”, ressaltou Dilma, que também lembrou que os países desenvolvidos “exportaram a crise” para as demais regiões e a busca por soluções para resolver o problema levou a um protecionismo mais intenso.

Ela também destacou que é preciso “estar em alerta sobre a precarização do mercado de trabalho, a recessão e as possibilidades de desemprego”, consequências ainda da crise econômica mundial.

Em defesa do equilíbrio econômico, a presidenta ratificou a necessidade de reformas nos sistemas financeiros internacionais, como o FMI e o Banco Mundial. “É preciso que esses organismos reflitam o peso dos países emergentes. Os países que compõem o Brics têm muito a dizer sobre desenvolvimento econômico e o meio ambiente. O mundo avançado e dos países desenvolvidos não saiu da crise. É fundamental alterar a geometria da governança política e econômica mundial.”

Dilma tem ainda conversas bilaterais hoje (29) com os presidentes Hu Jintao (China) e Dmitri Medvedev (Rússia). Ontem (28), ela se reuniu com o presidente da África do Sul, Jacob Zuma.

Rio+20

Em Nova Déli, a presidenta convidou os presidentes de Rússia, Índia, China e África do Sul para que participem da Conferência Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro. Ela disse que a Rio+20 será uma “oportunidade única” para debater crescimento econômico com desenvolvimento sustentável.

“Durante a Rio+20, haverá uma visão inclusiva e completa que exige um envolvimento de todos os países”, afirmou Dilma, lembrando que o desenvolvimento sustentável é a base para o crescimento econômico que inclui o combate à pobreza e a melhoria da qualidade de vida no mundo. Ela destaca que serão firmados compromissos econômicos, sociais e ambientais nas discussões.

Sanções

A crise nos países muçulmanos virou tema do discurso de Dilma Rousseff encerramento da 4ª Cúpula do Brics. Ela voltou a defender a busca pela paz na Palestina e na Síria e o direito de o Irã desenvolver seu programa nuclear, desde que com fins pacíficos. A presidenta ressaltou também a importância da ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas, formado por 15 países, dos quais apenas cinco têm assento permanente.

Dilma condenou ainda a adoção de sanções de forma indiscriminada e repudiou a violência e as violações aos direitos humanos. Segundo ela, os países do Brics podem colaborar na busca pela paz. “Os olhos do mundo estão voltados para nós e somos, sem dúvida, a esperança”, disse.

Com reportagens de Renata Giraldi e Karla Wathier, da EBC

 

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