Herdeiros de Mussolini

Extrema direita volta a ter maioria no Parlamento da Itália pela primeira vez desde a derrota do fascismo

Com 44% dos votos, a Itália elege a coligação “Irmãos da Itália”, liderada pela ultradireitista Giorgia Meloni. Admiradora de Mussolini, ela deve ser a primeira mulher na história do país a ocupar o cargo de primeiro-ministro

Reprodução/Twitter
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O resultado eleitoral sem precedentes para a extrema direita, desde o fim da 2ª Guerra Mundial, foi marcado pela maior taxa de abstenção da história da Itália, de 36,2%

São Paulo – A Itália elegeu ontem (25) o governo mais direitista desde a derrota do regime fascista no país com a 2ª Guerra Mundial, em 1945. Com 44% dos votos e 99,7% das urnas apuradas, a coligação de direita formada pelos partidos Fratelli d’Italia (FdI) (em português, “Irmãos da Itália”), Liga e Força Itália conquistou maioria no Parlamento, de acordo com dados do Ministério do Interior, divulgados na madrugada desta segunda (26). A aliança é liderada pela ultradireitista Giorgia Meloni, que deve ser a primeira mulher primeira-ministra da Itália. 

Meloni é a candidata da sigla de extrema direita FdI que, sozinha, recebeu 26% dos votos. O melhor resultado após a queda do regime de Benito Mussolini, que inspira a legenda fundada em 2012. Há quatro anos, o partido de raiz neofascista tinha obtido apenas 4,3% dos votos nas eleições legislativas. Já o partido Liga, também de ultradireita, do ex-ministro do Interior Matteo Salvini, e o conservador Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, tiveram 9% e 8% dos votos, respectivamente. A coligação deverá agora indicar o nome da nova primeira-ministra. 

A vitória histórica rendeu ao grupo ainda maioria tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado da Itália. O que dá vantagem à extrema direita de governar sem precisar de acordos com outras forças políticas. 

As demais forças

A chapa de centro-esquerda liderada pelo Partido Democrático (PD), do ex-premiê Enrico Letta, aparece com o segundo melhor resultado, com 19% dos votos. Ele é seguido pelo Movimento Cinco Estrelas (MS5), declarado anti-establishment, do também ex-primeiro ministro Giuseppe Conte, com 15,5%. Uma votação inferior ao total alcançado em 2018, quando obteve 30% dos votos. 

O pleito italiano também entrou para a história por registrar a menor participação popular. A taxa de abstenção foi de 36,2%, a mais alta do país. Ao todo, 34 organizações políticas disputaram o processo. As eleições estavam programas para ocorrer no 1º semestre de 2023, mas foram antecipadas por conta da renúncia do primeiro-ministro Mário Draghi, em julho. O ex-premiê deixou o governo após perder o apoio do Movimento Cinco Estrelas, que decidiu abandonar a base dois anos depois da posse. 

Ainda, contudo, deve levar alguns meses para a formação da nova legislatura. Logo após a publicação dos primeiros resultados, a líder do Irmãos da Itália declarou que “se fomos escolhidos para governar este país, nós o faremos por todos os italianos, com a vontade de unir o povo e de nos concentrarmos naquilo que nos une, e não naquilo que nos divide. Chegou a hora da responsabilidade”. 

Quem é Giorgia Meloni

Segundo a agência internacional de notícias AFP, a ascensão de Meloni se deve ao fato de ela ter sido a única que se opôs ao governo de Draghi nos últimos quase dois anos. A imagem do então governo acabou ficando desgastada pela inflação no país, a guerra na Ucrânia e as restrições durante a pandemia. Além da crise inflacionária, a Itália, atualmente, também acumula uma dívida que representa 150% de seu PIB, a mais alta da zona do euro, atrás apenas da Grécia. 

A situação do país foi central na campanha da líder ultradireitista que teve como lema ‘tirar a Itália da crise”. Com seus aliados, Meloni fez promessas anti-imigração, como bloquear imigrantes que cruzam o Mar Mediterrâneo, e até revisão de tratados da União Europeia e sua substituição por uma “Confederação de Estados Soberanos”. 

Declarada admiradora de Mussolini, a líder de extrema direita também repetiu o lema fascista em sua campanha de proteger “Deus, a pátria e a família”. Meloni também já declarou que não tem medo de defender uma direita “pura e dura” e contra causas LGBTQIA+ e “teorias de gênero”. A Itália também se soma agora a Suécia, Polônia e Hungria, todos governados pela direita radical. 

Confira algumas repercussões

(*) Com informações do Brasil de Fato e Poder360