Movimentação

Putin ordena início de cooperação entre Rússia e repúblicas independentes. Ocidente vai falar em ‘violação de território’

Para Bernardo Wahl, da FespSP, mídia ocidental adota a postura do governo dos EUA, da “diplomacia do megafone”, para constranger Putin e fazer uma guerra psicológica

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Putin joga esperando movimentações do ocidente para tentar conseguir concessões

São Paulo – O cenário que se avizinha após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciar que reconhece a independência de Donetsk e Luhansk como repúblicas independentes da Ucrânia, é diferente da guerra iminente propagada há semanas pela mídia. O quadro é semelhante ao que ocorreu com a Crimeia em 2014. A Rússia tomou a península sem guerra, a partir de uma grande manobra militar, sem tiros, em meio à crise que derrubou o então presidente ucraniano Viktor Yanukovich, aliado de Moscou. A opinião é de Bernardo Wahl, professor do curso de Política e Relações Internacionais da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FespSP).

Para ele, ao firmar acordos com as repúblicas agora ‘independentes” na região de Donbass, no leste da Ucrânia, Putin pode mover tropas para essas repúblicas como se fosse uma cooperação militar e de amizade, observa. “Do ponto de vista da Rússia e das repúblicas, poderia ser uma cooperação militar. Mas claro que não vai ser reconhecido pela Ucrânia e pela comunidade internacional e vai ser visto como violação de território”, diz.

Para o professor, o presidente russo “pode mover as tropas nesse cenário possível”. “Putin joga esperando movimentações do ocidente para tentar conseguir concessões. Dependendo do que vier pela frente, a Rússia pode mover tropas ou não. Se mover, o ocidente vai lançar sanções econômicas, mas não vai se envolver na guerra diretamente, porque a Ucrânia não é da Otan”, prevê. Para ele, a Organização do Tratado do Atlântico Norte vai continuar movendo suas tropas nos países membros no leste da Europa.

De fato, pouco depois de anunciar o reconhecimento da região, o líder russo assinou a lei para reconhecer a independência das repúblicas de Donetsk e Lugansk e a lei sobre a amizade, cooperação e assistência com essas repúblicas. Determinou também para que se garanta a paz nas na região. “Ao meu ver, se houver movimentação de tropas, vai ser num contexto de acordo de cooperação”, acredita o professor da FespSP.

A mídia e a diplomacia do megafone

Para ele, na cobertura da crise, a mídia ocidental “adota a postura do governo dos Estados Unidos, da diplomacia do megafone de Biden”. A insistência em divulgar a guerra “iminente” seria uma guerra psicológica. “Uma espécie de guerra hibrida”, diz Wahl. Há uma campanha de desinformação por parte do Ocidente: a mídia ocidental adota a visão norte-americana de maneira acrítica, para constranger Putin, fazer uma guerra psicológica e moldar a opinião pública.”

Para o analista, é preciso considerar ainda uma possível, embora não marcada, reunião entre o Putin e seu colega americano Joe Biden. “Até lá tem um tempo e espaço para diplomacia.”

China e Alemanha

Na opinião de Bernardo Wahl, há ainda duas peças importantes no tabuleiro: a China – que fez uma aliança com a Rússia recentemente – e a Alemanha, com seu novo premiê, Olaf Scholz, e sua dependência do gás russo.

Sobre a China, Wahl destaca que, depois do anúncio da parceria entre Pequim e Moscou, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, pediu paz na Ucrânia. “A China espera que as partes busquem o diálogo e a consulta para encontrar uma solução que seja realmente conducente à salvaguarda da segurança da Europa”, afirmou Wang neste fim de semana em Munique. Mas ele ponderou: “Se a Otan continuar se expandindo para o Leste, isso é propício para manter a paz e a estabilidade na Europa?”

“Putin tem o apoio da China, mas não é incondicional. A China quer a paz na Ucrânia porque é um ponto importante na nova rota da seda chinesa, e tem seus interesses que vão além da Rússia, que tem que ser muito cuidadosa nas suas movimentações”, ressalva o professor da FespSP. Já o primeiro ministro alemão tenta melhorar sua imagem, meio apagada desde o começo da crise, tentando contrabalançar sua dependência dos EUA e do gás russo, conclui.

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