Brasil fora

Cúpula global busca compromisso contra ‘boiadas’ anticlimáticas. ONU faz alerta

Secretário-geral da ONU pede que mais países declarem estado de emergência

Mídia Ninja
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'Esta é uma prova moral. Temos de transformar promessas em realidade', afirma dirigente das Nações Unidas

São Paulo – Encontro de cúpula neste sábado (12) pretende marcar os cinco anos do Acordo de Paris e reforçar compromissos ambientais assumidos desde então. “Não haverá lugar para declarações generalistas”, diz o material de divulgação. Organizado pelas Nações Unidas, Reino Unido e França, em parceria com Chile e Itália, o encontro reúne quase 80 países. O Brasil não está entre os oradores. A ONU fez um balanço crítico.

“A cúpula do clima da ONU, neste sábado, marcará a política externa brasileira. Mas não pelos motivos corretos”, escreveu o colunista Jamil Chade, no portal UOL. Ele lembra que o evento foi preparado “para que governos de todo o mundo apresentem suas metas de corte de emissões ou ações concretas em termos ambientais”. O projeto apresentado pelo Brasil, lembrou, não foi considerado “ambicioso” o suficiente. O encontro tem o nome formal de Cúpula da Ambição Climática.

Prova de credibilidade

Mas na abertura o secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que os países não estão na direção correta, na medida em que os compromissos de cinco anos atrás não estão sendo cumpridos. “A ação climática é o termômetro de liderança no mundo atual. Temos o plano: os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris. Mas precisamos passar por uma prova de credibilidade: transformemos em realidade a promessa de um mundo sem emissões contaminantes”, declarou.

Ele fez um apelo para que todos os países sigam os passos de 38 nações que já tomaram essa atitude e declarem Estado de Emergência Climática até que se obtenha a chamada neutralidade das emissões de carbono. Guterres falou em uma “coalizão mundial” nesse sentido, começando com uma redução de emissões em torno de 45% até 2030, em relação ao nível de 2010.

Recuperação da covid

Mas ele criticou o fato de os membros do G-20 estarem gastando 50% a mais nos seus pacotes de estimulo em setores ligados à produção e consumo de combustíveis fósseis . “Isso é inaceitável”, afirmou. Os bilhões de dólares que se necessitam para a recuperação da covid-19 é uma quantia que estamos pedindo emprestado às gerações futuras. Esta é uma prova moral. Não podemos usar esses recursos para implementar políticas que onerem as próximas gerações com uma enorme dívida em um planeta em frangalhos.”

A organização do encontro lembra que que o evento virtual tem a pandemia como pano de fundo. “A ciência segue nos alertando sobre a urgência de adotar medidas e limitar o aumento da temperatura global a 1,5 ºC grau. A mudança climática não é algo que possamos deixar ‘para depois’. (…) Os países estabelecerão novos e ambiciosos compromissos no marco dos três pilares do Acordo de Paris, que são mitigação, adaptação e financiamento.”

Assim, esses e outros compromissos devem se traduzir em estratégias de longo prazo contra a emissão de carbono, financiamento e apoio aos mais vulneráveis, além de políticas complementares. “Isso nos ajudará a nos recuperarmos da covid-19 sem descuidar do meio ambiente e fomentando a resiliência.”

Desconfiança na Europa

Não é só na cúpula que o Brasil é visto com reserva. Em entrevista ao site Congresso em Foco, o embaixador da União Europeia no Brasil, Ignacio Ybáñez Rubio, afirma que as negociações do bloco com o Mercosul estão travados devido à desconfiança com a política ambiental brasileira. “Para que as negociações avancem, adverte o diplomata, será preciso que a Europa retome a confiança no Brasil, o que exigirá do país a redução dos indicadores de desmatamento ilegal e a reformulação de sua política socioambiental, abrangendo também a proteção dos povos indígenas”, diz o portal.

O país vem tendo uma política de revogação de normas ambientais, conforme contestadas resoluções do Conama, por exemplo. O ministro Ricardo Salles é mais lembrado por declarar, em abril, que o governo deveria “ir passando a boiada”, no sentido de aprovar mudanças na regulação do setor, aproveitando o fato de que a preocupação central era a pandemia. A Procuradoria-Geral da República abriu – e arquivou – investigação sobre a postura do ministro.


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