Eleições na Bolívia

Evo Morales, exilado desde o golpe, faz apelo por respeito ao voto popular

Resultado final das eleições bolivianas, com amplo favoritismo de Luis Arce, ex-ministro da Economia de Evo Morales, não deve ser conhecido antes de quarta

Divulgação/Via Brasil de Fato
Divulgação/Via Brasil de Fato
Luis Arce, candidato do MAS, ex-ministro de Evo Morales: "Espero que hoje e os dias seguintes transcorram de maneira pacífica"

São Paulo – A divulgação final do resultado das eleições gerais na Bolívia é esperada entre para entre quarta (21) e sexta-feira (23). O Tribunal Superior Eleitoral do país, na véspera da votação, suspendeu o sistema de atualização rápida de apuração e os informes de resultados parciais. O gesto foi visto por observadores como uma maneira de evitar uma possível comemoração antecipada do Movimento ao Socialismo (MAS), do ex-presidente Evo Morales. O candidato do MAS, Luis Arce é favorito nas pesquisas de intenção de voto e, segundo levantamentos não oficiais de boca de urna – com chance de vencer já no primeiro turno. Para tanto precisará alcançar pelo menos 40% dos votos e uma diferença acima de 10 pontos percentuais do segundo colocado. A data para um eventual segundo é 29 de novembro.

Exilado em na Argentina e fora do processo eleitoral – proibido de concorrer ao Senado –, Evo Morales divulgou ontem (18) nota em que faz um apelo geral para que os resultados das urnas sejam respeitados. É forte o temor de que a direita boliviana, um ano depois perder a eleição para o ex-presidente e forçar sua deposição, tente emplacar novo golpe para impedir o retorno do MAS ao poder e o restabelecimento da ordem democrática.

O ambiente de tensão criado nas semanas que antecederam as eleições gerais na Bolívia e a condução do pleito em seu dia derradeiro expôs indícios dessa possibilidade. O próprio Evo manifestou essa preocupação em seu perfil no Twitter: “É muito preocupante que @TSEBolivia decida suspender o sistema de Divulgação de Resultados Preliminares (Direpre) em época eleitoral. Esta decisão de última hora levanta dúvidas sobre suas intenções”.

Suposta tranquilidade e desconfiança

eleições Bolívia
luis arce
evo morales
Bolivianos residentes em São Paulo fazem fila para exercer direito de voto e relatam dificuldades (Marina Duarte de Souza/Brasil de Fato)

Em diversos colégios tidos como de amplo domínio do MAS, foram criadas dificuldades para o comparecimento dos eleitores. No Brasil, inclusive, onde diversos boletins de urna com ampla vantagem do MAS foram expostos nas redes sociais na noite deste domingo, houve muitas queixas. As principais eram de falta de informação, dificuldade de acesso aos locais e exclusão de eleitores da lista. Evo Morales obteve 71% dos votos dos bolivianos residentes no país em 2019.

As eleições na Bolívia foram encerradas oficialmente às 19h (de Brasília). Cerca de 7,3 milhões de bolivianos estavam aptos a ir à urnas. O porta-voz do partido de Luis Arce, Freddy Bobaryn, considerou o saldo geral positivo, destacou ter havido tranquilidade na maior parte do dia, mas ressalvou ocorrência de transtornos envolvendo tentativas de fraude por parte de apoiadores de Carlos Mesa, o candidato direitista do Comunidade Cidadã.

De acordo com o professor Gladstone Leonel Jr., professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista no constitucionalismo boliviano, foi “uma grata surpresa” que não tenha ocorrido grandes problemas neste domingo. “Por outro lado, é importante lembrar que na última eleição, que não foi respeitado seu resultado, o maior problema se deu depois, na hora da contagem de votos.”

“Direito a insurreição”

Apesar das longas filas, imagens da comunidade de informação independente formada para acompanhar as eleições na Bolívia passavam impressão de tranquilidade. No decorrer do dia, no entanto, algumas cenas – com presença ostensiva de agentes militares próximas a zonas de votação, denunciavam clima de intimidação.

No início da noite, por exemplo, observadores internacionais e locais denunciavam dificuldade de entrar em zonas eleitorais de Santa Cruz de La Sierra, território de predomínio da direita. Às 20h de Brasília, uma hora depois do fechamento das urnas, chegavam informações de observadores com dificuldade de ingresso às sessões para fiscalização ainda era dificultada. Também circularam denúncias de fiscais dando conta de militares portando grande quantidade de cédulas assinaladas previamente na chapa de Carlos Mesa.

Em comentário sobre as eleições na Bolívia, o jornalista Breno Altman afirmou a superação do clima de desconfiança, com respeito ao resultado das urnas, representaria um divisor de águas, não apenas na política boliviana como no continente. Criador do site Opera Mundi, especializado em notícias internacionais, Altman teme que um eventual desrespeito ao processo eleitoral agrave as tensões sociais no país. “A Bolívia tem o dever de respeitar o voto popular, e o povo boliviano terá o direito à insurreição se isso não ocorrer”, afirmou.


Com informações de
Brasil de Fato, Página|12 e Revista Brasil TVT