Crise institucional

Golpe em El Salvador: presidente invade o Congresso com Exército para forçar votação

Principais partidos se manifestaram contra atitude truculenta de Nayib Bukele para tentar aprovar empréstimo internacional direcionado à terceira fase de plano de segurança

Reprodução/Twitter
Reprodução/Twitter
Nem durante a ditadura Assembleia Nacional de El Salvador havia sido invadida por militares

São Paulo – O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, enviou tropas da Polícia Nacional Civil e do Exército à Assembleia Nacional para forçar a realização de uma sessão extraordinária que neste domingo (9). Acompanhado de cerca de 50 militares pró-governo e alguns deputados, Bukele tentou aprovar um empréstimo de US$ 109 milhões para o um plano emergencial de segurança.

Ele também incitou a população a se insurgir contra os parlamentares, que se recusaram a votar o projeto a toque de caixa. Os deputados da Comissão de Finanças dizem que o Executivo não explicou em detalhes sobre como o dinheiro será executado.

O episódio inédito abriu uma crise política no país, apesar do apoio popular que detém o presidente. O plano de segurança, com recursos concedidos pelo Banco Centro-Americano de Integração Econômica (CABEI), que entraria na sua terceira fase, tem como um dos objetivos a redução de homicídios num dos países mais violentos do planeta. Há ainda suspeitas de corrupção envolvendo uma empresa de segurança mexicana, que seria privilegiada com recursos do plano.

“Aqueles que apoiam Bukele, acham que ele deve ter mão firme contra o Estado, no caso de não haver alinhamento às suas políticas públicas. Porém, a maior parte da população e também da comunidade internacional considera a atitude absolutamente fora do Estado de Direito, praticamente tomando de assalto o parlamento. É, sim, um golpe de Estado”, afirmou o analista internacional Amauri Chamorro, em entrevista aos jornalistas Marilu Cabañas e Glauco Faria para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (10).

Segundo Chamorro, Bukele é um líder político que tenta se definir como um “outsider”. Ele é filho de uma das famílias mais ricas do país, “um pouco ao estilo de Maurício Macri (ex-presidente argentino) e (do presidente chileno) Sebastián Piñera”.

“É um golpe de Estado em qualquer lugar do mundo. Inclusive setores da direita dos Estados Unidos se posicionaram contra a atitude de Bukele, chamando a atenção que é preciso manter os processos democráticos para que continuem a receber recursos da cooperação internacional. Neste momento, há uma disputa política muito importante. FMLN e Arena se juntaram para enfrentar tal atitude do presidente. Porém, Bukele tem muita força popular”, explica o analista. Com o comparecimento de apenas 20 dos 84 parlamentares, a sessão extraordinária não teve quórum para seguir.

Histórico

Entre 1980 e 1992, o país passou por uma guerra civil entre o governo ditatorial de direita, apoiado pelos Estados Unidos, e uma a guerrilha de esquerda, organizada em torno da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN). Bukele começou a sua carreira política na FMLN, tendo sido eleito prefeito da capital, São Salvador.

A economia do país é totalmente dependente dos repasses das organizações internacionais e do envio de remessas dos imigrantes. O país é controlado territorialmente pelas “maras”, gangues de criminosos que foram deportados dos Estados Unidos. Segundo Chamorro, as gangues arregimentam cerca de 400 mil integrantes no país, enquanto os contingentes das forças de segurança somam apenas 40 mil homens.